Vodka Atónito

Devaneio de Verão

Hoje sonhei que estava numa daquelas ilhas paradisíacas do Pacífico Sul, daquelas de bancos de corais e águas límpidas e transparentes. Acordei numa cabana rudimentar, deitado numa tosca cama de madeira, mas agradavelmente confortável. Para além da cama, só havia uma mesa cheia de saborosas frutas tropicais e um jarro de água que só de olhar denunciava uma frescura deliciosa. Ao meu lado, uma bela nativa, permanecia imóvel, num sono pacífico e enternecedor. Levantei-me, caminhei para a porta, saí para o exterior e deparei-me com a confirmação de que o céu é na Terra. À frente das palmeiras que agraciavam a cabana com a sua sombra reconfortante, havia dez metros de um areal limpo, onde algumas crianças exerciam alegremente o que lhes é devido nessas idades. Depois do areal apenas o mar, lindo, enorme. Com um sorriso nos lábios, estupidamente feliz, corri e quando ia mergulhar naquelas águas cristalinas...

... acordo, estou em casa, debruçado na varanda, meio corpo dentro, meio corpo fora. Dois andares a baixo na rua, uma multidão observa-me e grita. Os da esquerda, mais habituados a causas humanitárias e socialmente mais activos, dizem: " Não saltes! Não saltes!" Os da direita respondem com: "Salta! Salta!"
No meio os bombeiros esperam pacientemente, com a lona estendida. Atrás de mim, o agente da PSP, com formação em psicologia e especialista em situações limite, tenta-me convencer, com as frases feitas do costume, a desistir das minhas intenções.

Não era preciso, nunca me tinha passado pela cabeça algo tão drástico. Para mim, nunca fez sentido, aquela frase: "Live fast, die young and leave a good looking corpse", até que esta última parte é um tanto ao quanto difícil.

Impávido e sereno, vou à cozinha, tiro uma cervejola e os tremoços. Volto à sala, puxo duma cadeira e sento-me na varanda, a deliciar-me com o cházito de cevada e a mandar as cascas ao pessoal da direita que, tristes com o fim da história, esvaziam a rua lentamente.

P.S: O calor faz-me mal!

Tweet