O crime perfeito
"Não cases com ele, ele vai-te desgraçar a vida!"
Era a frase que lhe martelava o cérebro incessantemente. Adelaide, vinte e oito anos, transformados em quarenta graças a um casamento de dez com Inácio, trinta anos, quinze de putas e vinho verde, como diz o povo. Adelaide sabia exactamente qual tinha sido o momento em que o sonho se desmoronara, o corpo doera-lhe por três dias, os três dias seguintes a ter caminhado até ao altar. A partir daí, perdera a conta e a alegria, as coisas pioraram quando o Ruben nasceu, quando as formas de menina e o interesse do marido desapareceram definitivamente. O Ruben tinha quatro anos, apenas dois presenciados pelo pai, que volta e meia desaparecia por tempo indeterminado, voltando só para roubar dinheiro e marcar violentamente o "território".
Naquele dia fazia três meses que Ruben não via o pai, estava sentado na mesa e deliciava-se com um apetitoso hamburguer, alimento praticamente inalcançável naquela casa. Adelaide olhava para ele com um amor incondicional, como era parecido com o Inácio, uma pequena lágrima soltou-se sem permissão, correu a enxugá-la no exacto momento em que o filho a olhou e lhe disse: "Mã! Mã! Tem osso!" Um pedaço de anel de casamento brilhava no meio do hamburguer, não tinha sido devidamente triturado, retirou-o do prato gentilmente: "Pronto! A mãe já tirou! Papa, filho, papa!"
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