Rebajas
Quinhentos empresários e capitalistas afins reuniram-se em Lisboa para formular o que chamam Compromisso Portugal. Um dos pontos fundamentais foi a estafada discussão dos centros de decisão, do medo de os espanhóis entrarem por aí a comprar tudo.
Falemos claro.
Isto é um problema apenas para meia dúzia de betinhos e proprietários de diversas escalas. Eles estão bem tratados, não merecem a minha preocupação. Eu não sou proprietário de nada. Sou um mero assalariado, que ganha o salário com oito horas de trabalho por dia, cinco dias por semana, às vezes mais.
A mim, e aos outros como eu, que nos diz este medo dos espanhóis?
Enquanto assalariado, que me importa quem é dono da empresa em que trabalho? Os espanhóis trabalham menos horas, com mais meios para desempenhar uma boa tarefa, ganham mais e têm, em geral, uma qualidade de vida muito superior à nossa. Eu, que sempre trabalhei em empresas portuguesas, não tirei dessa nacionalidade qualquer benefício, nem seria normal que assim acontecesse.
Eu não tenho nada para vender, a não ser a minha força de trabalho, o meu empenho, os meus conhecimentos, a minha boa vontade. No meu país, quero empresas que prestem serviços de qualidade, a preços aceitáveis, e que tratem os seus trabalhadores, que lhes criam os lucros, como gente de corpo inteiro.
Estou-me cagando se são portuguesas, espanholas, cubanas ou nigerianas.
Não posso é aceitar que estes meninos, os do "Compromisso Portugal", batam palmas a este modelo ultra-capitalista, que serve os seus interesses, e depois chorem quando são papados por empresas mais competitivas. É esse o jogo. Querem jogá-lo, porque sempre ganharam com ele, mas depois amuam quando o vento não lhes está de feição.
O que é importante é responsabilizá-los, os patrões, os gestores, os empresários, os dirigentes, políticos e outros, porque eles são os responsáveis pelo estado das coisas.
Nós, os assalariados, não mandamos nada. Fazemos o nosso trabalho e recebemos o magro salário, para que eles se abotoem com a mais-valia diária.
Não me venham agora chorar.
Com o que temos visto, nas empresas e no governo, que venha a Espanha.
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