A noite das facas longas (ganda título!)
O PS foi o grande vencedor das eleições, e Ferro Rodrigues o maior dos vencedores, porque era quem mais tinha a provar. Tal como Durão Barroso, quando era líder da oposição, tomou conta do partido quando ninguém o queria e, tal como Durão Barroso, arrisca-se a ganhar apenas porque o povo português quer penalizar o adversário. É uma espécie de vitória de Pirro, quase por falta de comparência. Na lógica de Mário Wilson, quem liderar PS ou PSD arrisca-se a ser primeiro ministro, e esse é um dos cancros do nosso sistema democrático. Ferro Rodrigues parece-me ser uma pessoa razoavelmente honesta, pelo menos tão honesta quanto se pode ser na sua posição, e natural ambição. Mas ninguém tem dúvidas de que é um líder fraco, sem chama, sem carisma, embora aparentemente bem intencionado. No fundo, um Guterres de baixa gama.
Mas não merecia o circo que está criado no PS. Aguentou tudo e todos e ganhou as eleições. Dois dias depois, não houve socialista que não estivesse implicitamente a desvalorizar a vitória, ao colocar em questão a liderança de Ferro, agora que o PS promete ter capacidade de voltar a ser Governo. Do inapto João Soares ao irrelevante José Lamego, passando pelo interessante mas saltitão Carrilho, todos eles vieram mandar recadinhos, com a sua habitual sede de poder. Se o PS vier a ser Governo, gostaria que este país tivesse um melhor líder que Ferro Rodrigues. Mas não só não o vejo dentro do PS como me repugna todo este aproveitamento do trabalho duro e ingrato que um líder quase só conseguiu levar a cabo.
O congresso do PS, marcado para a rentrée, promete ser mais uma noite de facas longas, dirigidas às costas do mesmo alvo.
Como dizia o saudoso Badaró: é política.
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