Breve incursão pela política
Agora que tenho algum tempo disponível, gostaria de mandar uns bitaites sobre os três candidatos a secretário-geral do PS e outros assuntos circundantes.
Como já aqui alguém disse, a eleição, pelos seu pares, do José Sócrates para o cargo representa inequivocamente uma vitória do marketing sobre a qualidade do produto.
Não é que o produto PS se tenha apresentado aos longo dos anos como um produto de distinta qualidade. O que se passa é que agora já nem o tentam camuflar: "Aqui ambiciona-se o poder!", parecem afirmar todas as acções políticas dos socialistas enquanto oposição.
Resolvi, pensando até em enriquecer (ou empobrecer?) de teor político uma qualquer posta neste nosso cantinho, assistir ao debate entre os três candidatos socialistas ao secretariado-geral do partido (nunca vi tanta azáfama para se ser secretário!). Foi triste o espectáculo!
O Sócrates é, sem dúvida, um óptimo orador. Fala com açúcar na boca, diz o que deve ser dito, defende a moral, a ética, a justiça e fá-lo com um ar determinado, digno e confiante. O homem é, sem dúvida, sedutor. Mas como qualquer bom sedutor, por trás da máscara esconde-se algo substancialmente mais feio: um populismo mal disfarçado, uma vontade de ajudar os amigos, uma sede egocêntrica de holofotes e um desejo perigoso de agradar a quem lhe interessa.
Do João Soares não há muito que possa, e queira, dizer. Parece-me claramente o puto que tenta seguir as pisadas do pai. Não o digo pelo cliché que já se tornou dizê-lo. Digo-o pela sua postura, pelo seu discurso, pela maneira como abordou o debate de forma agressiva e de certa forma petulante, que, na minha opinião, e de forma diferente de Sócrates, não ambiciona o poder...precisa dele. Precisa de se (e ao papá?) provar capaz de assumir o seu lugar na dinastia Soares. De demonstrar que também ele pode ser rei. Não sei o que pensam os Srs., mas eu não quero um tipo assim a correr riscos de ser o meu Primeiro-Ministro. É que por vezes os esforços dos putos para agradar aos pais são de tal ordem, que, de forma involuntária ou não, acabam por fazer muito mais merda do que coisa boa.
O Alegre foi sem dúvida o candidato que mais me agradou (daí merecer o parágrafo de intervalo). Talvez pelo seu carácter mais poético, mais sonhador, mais utópico, este foi sem dúvida o rapaz que mais me inspirou simpatia. Lamentei, embora ele tenha toda a razão nos planos jurídico e procedimental, a sua posição de querer legislar sobre a I.V.G. na assembleia, desrespeitando o resultado do referendo...por uma questão ética que, embora argumentada por Sócrates, me parece tão mais falsa quando sai da boca deste. Simpatizei bastante com a assumpção da possibilidade de coligações à esquerda nas legislativas. Ao contrário da opinião manipuladora e, claramente, de encontro ao que os membros do PS gostam de assumir como uma liderança firme e corajosa (açúcar, só açúcar...ele esquece-se é que o açúcar sabe bem mas engorda) de Sócrates, sou da opinião que a abertura da possibilidade coligativa em nada deverá ser tomado como sinal de fraca liderança ou de possível influência nas intenções de voto: primeiro porque assumir que não somos os únicos a ter boas ideias e admitir a possibilidade de procurar ajuda na eventualidade de não sermos auto-suficientes nunca foi defeito de ninguém e segundo porque me parece que nem o Sr. Zé (Sócrates) acreditará verdadeiramente que ninguém com cabeça se coloca em dúvida entre PS e Bloco: embora os financiamentos e relações obscuras, na claridade do dia são coisas muito diferentes. Quem é PS é PS...Quem é Bloco é Bloco! E se assim não é, passa-se alguma coisa nas convicções deste povo(eu sei...é cómico. Com esta maioria governativa que temos e a habitual amnésia colectiva em época eleitoral estou eu aqui a tentar vender a integridade do povo! Pelo menos escapo às acusações de preconceituoso).
O Manuel Alegre era o sujeito mais descontraído, mais à vontade num debate que poderia, de alguma forma, influenciar a opinião que alguns (poucos) dos votantes teriam dos candidatos. No entanto... Alegre era o espelho da esquerda de hoje: idealista, literário, diria mesmo Don Quixotiano. Enfim bonito de se ouvir mas desajustado à realidade; sem projectos concretos ou propostas ou staff já delineados. Alegre, bem como a esquerda, esquece-se de uma coisa muito importante: é que, nas suas formas de discurso, falam como se, sobre a sua égide, se fosse começar do zero; se fosse construir de raíz uma sociedade. No entanto esta já existe e está atulhada da merda que os sucessivos governos e as suas políticas cá deixaram e que fariam com que, antes de um verdadeiro governo de uma verdadeira esquerda começar a trabalhar as suas políticas e a implantar o seu modo de estar em sociedade e na política, tivesse de passar uns valentes anitos a limpar a casa e a preparar o terreno para o novo modelo.
Caso contrário cairía no erro dos regimes comunistas deste mundo: o facilitismo (entre aspas) da revolução, que faz cair uma merda de regime para implantar um regime de merda.
Com o passar dos anos vou simpatizando cada vez mais com a esquerda (antes declarava-me agnóstico político), no entanto tenho os pés no chão: aprecio o sonho que a esquerda me traz, mas, a menos que se re-invente esta esquerda, tenho pela consciência de que, embora bonito e de lutar por, não passa de um sonho!
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