A Arte da Guerra
A vitória portuguesa na “Batalha de Nuremberga”, como os jornais portugueses tão sabiamente lhe chamaram (títulos é com eles), encheu a alma deste país, e também a minha.Entre nós instituiu-se, durante e depois do jogo, a corrente de pensamento segundo a qual os portugueses foram uns meninos magoados pelos mauzões dos holandeses. Bom. Uma coisa é certa. Os laranjas entraram para partir e, pior que isso, para intimidar. No fundo, para mandar sem serem melhores, apenas porque eram mais arrogantes. Entraram para partir, porque só assim se sentende que tenham metido um trolha central (o marroquino feioso) a defesa direito, deixando o titular no banco. Era o tipo do trabalhinho sujo, nada mais nada menos que partir as pernas ao Ronaldo. Entraram para intimidar, numa fuga para a frente de quem tinha bem viva na memória as últimas derrotas contra os pobretanas dos tugas, esse povo bárbaro do sul da europa que enfarda sardinhas e dorme nas ruas de Amesterdão, com os cães e os tambores. A intimidação estava em cada lance, em cada empurrão gratuito quando o jogo estava parado. Em cada ar de desprezo perante os nossos jogadores. Mas, se eles entraram assim, rapidamente nós fomos atrás. E bem. Repito, e bem.Este foi um daqueles jogos ganhos no braço, na garra, na alma, como dizem os brasileiros, foi ganho na marra. E deu mais gozo por ser assim. Foi um daqueles jogos em que, se fôssemos meninos, tínhamos perdido de certeza, porque os holandeses nos perderiam o respeito. A entrada sobre o Ronaldo foi uma declaração de intenções. Era a guerra, e os nossos rapazes foram uns bravos guerreiros. Se eles começaram, nós não ficámos atrás. Não vale a pena armarmo-nos em anjinhos. Fodemos os gajos na porrada mas, sobretudo, na ratice. A entrada assassina foi maldosa e demonstrou falta de fair-play? Sim. Mas também a fita do Figo na expulsão do marroquino, também a fita do Van Bommel (precisava de fazer um estágio com o Liedson para ao menos aprender a atirar-se para o chão), também a demora na reposição por parte do Ricardo e do Deco, também, e sobretudo, o ataque à traição dos laranjas quando deviam dar-nos a bola. Quando o Deco viu aquilo e saiu disparado para lhe dar uma trancada, aplaudi tanto como no golo. No futebol, aquilo não se faz. Até na guerra há uma espécie de código de honra, e os holandeses, por quem sempre tive uma grande simpatia, mostraram não ter honra nenhuma. Qualquer jogador daria aquela porrada, e eu aplaudiria. Tudo isto para dizer que, naquele jogo, não houve bons e maus. Houve uns meninos (os laranjas) que se armaram em homens, e depois houve homens (os portugueses), que se recusaram a amochar humildemente e aceitar, mais que a pancada, o desaforo, e lhes deram uma lição de coragem, de determinação e, muito importante, de “ratice” (aquela falta cavada pelo Petit foi absolutamente genial e merecia estar no DVD dos melhores momentos do Gil Vicente). Foi uma guerra e, como costuma acontecer, ninguém saiu limpo. Mas, numa guerra, o importante é sair vivo, e de pé. E isso nós fizemos, com toda a justiça de um povo que aprendeu cedo demais a comer e calar.
Notas finais:
Costinha: Xôr Ministro, vá comprar urgentemente um cérebro.
Ricardo: Os arrepios do costume, a apetência e a alma do costume nos momentos decisivos, pela selecção.
Scolari: Fantástico a unir a equipa e a transmitir-lhe uma garra que nunca vi em qualquer selecção portuguesa. Acertadíssimo nas substituições.
Deco: Esqueceu-se que já não joga no Porto, e infelizmente fica de fora no próximo jogo.
Ricardo Carvalho: Em bom futebolês, o “esteio da defesa”.
Petit: A experiência e a pós-graduação em “ratice”.
Miguel: Um pulmão e uma alma que nunca mais acaba. Tás perdoado, Chelas.
Bifes: Venham com a cagança do costume, que é assim que a gente gosta.
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