Lauro Atónito Apresenta…….
…”Marie Antoinette”, de Sofia Coppola.
Digo já ao que venho: todos nós sabíamos que, depois de “Lost int Translation”, a coisa tinha que vir abaixo, né?
Depois do drama onírico-suburbano de “Virgens Suicidas” e do drama urbano-alienado de “Lost in Translation”, Coppola mandou-se agora à história da rainha francesa, decapitada pela revolução, a tal que sugeria ao povo que comesse duchaises, já que não tinham pão. O truque, para a realizadora, aquilo que a atraiu na história, não é tanto o lado histórico, mas sim o percurso de uma princesa austríaca que abandona a sua pátria para em nome de uma aliança política, casar com um apanascado príncipe francês. E história passa pela dura adaptação a novas e muito rígidas regras, a responsabilidade de produzir um herdeiro ao trono de França, a descoberta da sexualidade, da maternidade, enfim, de um certo tipo de crescimento. Só que Coppola conta a história como se nos estivesse a relatar uns anos de Erasmus de uma jovem do século XX. Não há na personagem nada da rainha Marie Antoinette altiva, distante, institucional, há apenas uma jovem a aprender a ser rainha, uma jovem que gosta de festas, de jogo, de bailaricos e amantes. E o ângulo nem é desinteressante, juntando música modernaça à França da idade das luzes, Strokes em Versalhes. O problema é, muito simplesmente, a coisa ficar rapidamente algo ridícula. Uma rainha adolescente (Kirsten Dunst de rabo à mostra), que tem a mesma classe que uma chavala do Barreiro a mascar chuínga, que tem um cão chamado Mops (Esfregonas), é um bocado estranho. Parece que a ideia era, em parte, mostrar que ela era uma espécie de revolucionária face aos fechados modos da corte, mas essa ideia fica-se pelo facto de a senhora, ao contrário do que era costume, bater palmas no final de uma representação teatral. Um grande quebra do protocolo, talvez, mas muito pouco revolucionário num período em que o próprio povo não tinha comida e se preparava para sacar a cabeça à família real.
Depois, parece ser um filme sem grandes meios a tentar passar por outra coisa. Não tenho nada contra os pequenos filmes, mas é um bocado foleiro um filme tentar passar por grandioso e perder dimensão em cenas óbvias. Este filme tem Versalhes (e não apenas a pastelaria), mas depois falta povo, falta gente, falta coisas para as quais não basta uma câmara na mão e alguma boa vontade (umas centenas de figurantes ajudavam). Quando a multidão enraivecida chega ao palácio para os lixar, a câmara mostra-nos meia dúzia de foices e archotes no ar, o que é um bocado estranho.
E, já agora, que raio de merda é aquela de metade da corte francesa ter sotaque nova-iorquino? Por que raio as senhoras dizem “Mônsiê”, como uma turista da Florida na Eurodisney? E porque é que toda a gente fala inglês “amaricano” menos o filho varão da rainha? Lost in translation? Parece que sim.
O filme não é mau de todo, de facto, mas é assombrado por estes e outros equívocos. A primeira parte é chata para caraças, só perucas e vestidos e merdas, mas depois lá vai melhorando. Acho que o truque foi fazer parecer aquilo uma merda total no princípio, para depois sairmos da sala a achar que, “até nem ficou mal de todo”.
Uma França clássica-modernaça, com uns toques desse grande filme que é o “Amadeus”, esse sim um que conseguiu a difícil tarefa de actualizar uma história clássica sem ficar ridículo.
Recomendo a todos os atónitos que vejam o filme, ainda assim. Tem momentos bons e, se conseguirem deixar o filtro do ridículo em casa, talvez alguns achem mesmo genial a forma pop como a realizadora tenta contar a história.
Eu apenas apanhei um bocado de seca e senti, em grande medida, que a menina Coppola se espalhou um bocado ao comprido.
Acontece, e já está perdoada.
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