domingo, 1 de outubro de 2006

A nostalgia

Há coisas que passam pelas nossas vidas e deixam marcas. Outras mal nos tocam. E outras há, que de uma forma ou de outra, são nem carne nem peixe.
Falo, está bom de ver, do Credifone.
Para quem não sabe o que é o Credifone, era um cartãozinho igual aos cartões para ligar das cabinas, só que tinha um nome: era “O Credifone”. Depois passou a dizer-se "dá-me aí o credifone", com letra pequena, porque já se tornara o nome do objecto em si, e não do serviço.
Fascinante.
O credifone é um produto desse tempo distante em que tudo era mais simples. Era o tempo dos TLP, em que os chefes eram gajos da administração pública e ninguém sabia quem eram. Não existiam telemóveis e era estranho telefonar da rua sem usar moedas. Não havia OPAs, conselhos de administração, acções ou preocupações com as reduções de custo. Tudo era mais simples, e todas as preocupações ou responsabilidades vinham ainda longe.
Hoje lembrei-me do credifone. E, para o homenagear, deixo aqui um lindo poema, da música “O Atendedor”, do grande disco "Corações de Atum":

“Pouse o auscultador e aguarde
disse-me o teu telefone
pode telefonar mais tarde
ou mesmo deixar seu nome.
Tua voz na gravação
maltrata o meu coração
escarnece do meu amor
no teu atendedor.
O seu cartão não é valido
sim eu sei, já não presta
e o teu semblante pálido
diz-me que já nada resta.
Tu que eras a minha fada
mas numa manhã nevada
ficaste estátua de gelo
dos pés até ao cabelo.
Sei que agora tens telemóvel
se eu tenho estado alerta
e que no teu automóvel
tu tens clientela certa
Vou destruir as cabines
Magoar os telefones
Ver-te passar em limusines
Mastigando credifones”.

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