Amor de Mãe
Os tugas lá entraram de novo para o Guinness. Claro que, exceptuando o facto de o Glorioso ser o maior clube do mundo, todos os recordes portugueses são estúpidos, mas enfim.
Desta feita, a iniciativa era "Barrigas de Amor". Umas centenas de grávidas reuniram-se num jardim em Oeiras para, sei lá, entrar para o Guinness. Que a iniciativa é estúpida parece-me bastante claro. A maternidade é algo de pessoal e sempre me fez alguma confusão a histeria colectiva da procriação. Sobretudo em público, e sobretudo em Oeiras.
Mas irrita-me sobretudo esta febre da natalidade. Estou a chegar a uma idade tramada, em que é suposto eu já estar a pensar em ser pai mas, pior que isso, amigos e conhecidos estão numa corrida desenfreada para gerar descendentes. Não há nada de criticável nisto, como é óbvio. Cada um faz o que quer e o que o corpo manda. Mas tenho de admitir que me irrita solenemente o militantismo da paternidade. Os pais que, de um momento para o outro, deixam de ser indivíduos e perdem o interesse em falar do Benfica, concentrando-se num mantra estranho de "o joãozinho fez isto e depois fez aquilo, e cagou aqui e fez-me chichi em cima, é tão giro".
Chamem-me bruto.
Não, chamem-me mesmo, que eu mereço.
Mas caguei.
A senhora pare (isto escreve-se mesmo assim?) e pronto. A vida passa a girar à volta de um ser minúsculo que, suspeito eu, se está a cagar para tudo o que se passa à volta. Os recém-papás ganham aquele brilho abestalhado de quem tá cheio de drogas, só que não estão. O que é mais barato, mas menos fixe.
As pessoas, que até há meses atrás, não viam nada de errado em passar uma tarde a mamar caracóis e a enfiar imperiais numa tasca a ver a bola, agora vão a espectáculos do Ruca On Ice, ou qualquer merda assim. Cometem todos os mesmos erros idiotas em termos de educação, simplesmente porque, ao contrário do que acontecia com a geração dos nossos pais, todos os recursos e toda a atenção vão para os putos. Estão a produzir pequenos tiranos. Isto acontece porque, ao contrário dos nossos pais, os pais de hoje vêem muitas vezes os filhos como uma espécie qualquer de statement, uma prova de que estão a crescer e já são adultos, à falta de um emprego decente ou qualquer progressão pessoal mais relevante.
Os filhos funcionam como os plasmas, ou a máquina fotográfica digital, só que dão mais trabalho e mais despesa.
É claro que há excepções (entre os que me estão próximos tenho alguns bons exemplos). Mas isso não muda o facto de que é um fenómeno extremamente irritante. Só de ver o ar de superioridade moral com que olham para os desgraçados que, imagine-se!, podem fazer o que lhes der na real gana, dá-me vontade de esterilizar toda a população portuguesa.
E depois, "Barrigas de Amor"?!
Please.
E que tal "Barrigas do látex roto"? Ou barrigas do "esqueci-me da pílula e agora vamos casar"?
Why not?
Daqui a uns anos (muitos, espero) também eu lá irei parar, à paternidade. Aí olharei para este post com desdém, é bem possível.
Mas é agora que tenho razão.
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5 comentários:
hehehehe, apesar de ter uma filhota de 8 meses, esta foi na mouche. Tambem não tenho saco para os cliches da criancinha isto e da criancinha aquilo. Embora não tão radical subscrevo grande parte do post.
Saludos
és um bruto.
Outra pérola. Como não tenho ainda crianças, posso dar-me ao luxo de dizer que tens carradas de razão.
Muita sinceridade e muita verdade em tudo o que foi escrito.
Gostei de ler.
Lindo... Concordo inteiramente.
P.s.: Qualquer semelhança com o penultimo post que escrevi (Pequenos Tiranos) é pura coincidência. Juro.
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