Apenas mais um domingo à tarde
Domingo, duas da tarde. O homem sai de Lisboa feito num caco, com a ressaca a esmagar-lhe a cabeça. No centro da Parede, estaciona o carro e entra na loja de fragos takeaway. "Tu consegues fazer isto, relaxa", pensa ele, sentindo o cheiro do frango assado a provocar-lhe o estômago. "Um frango com picante e um pacote de batatas, por favor", pede, à senhora sorridente do lado de lá do balcão, num ar saudável que o agride como um insulto. Feita a transacção, só tem tempo de dizer "bom fim de semana e obrigado", já o tremor anuncia o desastre.
Chega ao carro, acreditando que vai conseguir, que vai aguentar até casa. Mas cedo se apercebe que, de facto, isso não é possível. Abre a porta e deixa o frango no lugar do condutor. Procura um bom local, na rua principal da localidade onde cresceu. Um pequeno beco entre a loja de frangos e a joalheria que nunca abre, um beco no qual ele nunca tinha reparado. Talvez Deus tenha colocado aquele beco ali, naquele momento, para o salvar. Atravessa rapidamente a rua. Mesmo a tempo. Um jacto, rápido, aspirina efeverscente, água e pouco mais. Sente-se melhor. De imediato volta a sentir-se pior, e o segundo jacto, agora forte, imparável. O beco alaga.
O homem vira-se limpando a boca. Uma senhora olha de lado e dá um esticão à trela do seu caniche, atravessando a rua.
Ele entra no carro, depois de limpar os sapatos no passeio.
Arranca. Era hora de almoço de mais um domingo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
É sobejamente sabido que as salmonelas atacam sobremaneira sábado à noite.
Enviar um comentário