Momentos socialistas
Em Outubro, o grupo parlamentar do PS votou contra uma proposta do BE e dos Verdes para legalizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. E fê-lo apesar de muitos deputados se dizerem a favor da mudança. Tudo porque a direcção do PS emitiu um sentido de voto. O argumento? Aquele não era o momento de discutir o assunto, até porque não estava no programa do governo. Por acaso até estava, no dito programa, acabar com as discriminações em função da orientação sexual, mas isso se calhar sou eu que estou a prender-me com pormenores.
Mas, de repente, afinal o casamento homosexual já deve ser discutido! Quatro meses depois, agora sim, este é o momento. No auge da crise económica, agora sim, vamos abrir a discussão. Mais, é o PS que propõe e aparece como o principal defensor da ideia. Isto apesar de a ter rejeitado em Outubro, apenas porque outros apresentaram então a proposta.
José Sócrates, que conseguiu cair no ridículo de recomendar o filme "Milk", qual Lauro António de pacotilha, está agora preocupadíssimo com o assunto.
A explicação é estupidamente simples.
Sócrates já percebeu, nomeadamente pelas sondagens, que não vai ter maioria absoluta. Mais, que se arrisca a não ter a maioria por causa da esquerda, já que a direita não faz a mínima ameaça. Como tal, nada como meter na receita um simples e básico condimento de esquerda, para roubar uns votitos ao PC e ao BE. Isto depois de quatro anos de uma governação burocrata, tecnocrata, liberal e de centro-direita. É um truque demasiado básico para resultar.
Ainda assim, a medida é óbvia e justa, ainda que eu não perceba muito bem por que carga de água um casal homosexual - que como tal assumiu a diferença na sociedade - quer poder recorrer ao casamento, a instituição mais tradicionalista que existe.
PS - Sócrates tirou ainda do baú a regionalização. É algo que o país não está a discutir e do qual, francamente não quer saber. E é uma ideia de merda, cuja única consequência seria criar toda uma nova classe de burocratas locais, aumentando o parasitismo e a corrupção.
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5 comentários:
crise, freeport, agora apartamento comprado em saldo...ele tem que desviar as atençoes. Daqui a pouco até vai falar na eutanasia, vao ver...
Vai-se a ver o Paulo Portas pediu mesmo o nosso Primeiro em casamento!
Se estiver legalizado, podem fazer festa.
Já estou a ver o Paulinho de vestido rosa shock!
"por que carga de água um casal homosexual - que como tal assumiu a diferença na sociedade - quer poder recorrer ao casamento, a instituição mais tradicionalista que existe"?
a. O facto de um indivíduo ter uma orientação sexual não normativa não implica que seja também não normativo em todas as outras esferas da sua vida. Da mesma forma, há pessoas como tu que são normativas na sua orientação sexual mas não normativas nas suas orientações políticas, não havendo nesse facto nenhuma contradição lógica.
b. Mesmo que um homossexual não concorde com a instituição do casamento, ele deve ter o direito de não se querer casar: a actual lei não lhe permite exercer esta escolha. Da mesma forma, um preto na África do Sul deverá ter o direito de não votar: o apartheid não lhe permitia exercer essa escolha.
c. A decisão de uma pessoa querer ou não casar-se é uma questão do foro estritamente pessoal. As outras pessoas não devem intrometer-se nesta esfera, querendo negar o acesso ao casamento aos grupos percepcionados publicamente como "não casamentáveis".
d. Apesar das raízes conservadoras do casamento, esta instituição tem elementos progressistas na medida em que, contrariamente à união de facto, garante protecção ao cônjuge com menos rendimentos, em caso de morte ou divórcio.
e. A legalização do casamento dos homossexuais teria uma vantagem adicional. Constituiria um statement político transmitido pelo próprio Estado português, em como os homossexuais são cidadãos de plenos direitos, iguais aos demais. Esta questão de ordem simbólica não deverá ser desvalorizada, como estartégia de combate a uma forma de discriminação (homofobia) tão repulsiva como o racismo ou a xenofobia.
Quanto às pessoas com péssimo gosto sexual (como dizia não sei quem), digo apenas que não há-de ser por mim que deixarão de casar-se umas com as outras.
Reduzir a questão da regionalização a um pormenor burocrático é que não me parece correcto.
Que são hoje as CCDR senão entidades regionais cheias de gente e de poder? E, já agora, com que legitimidade democrática?
Infelizmente, esta questão demonstra bem o que foi a governação do PS nestes 3 últimos anos, e pelos está para durar. Enfim, já agora e de uma vez por todas aprovem lá isto, já não há saco para ouvir os padres e outros atrasados mentais que preferem varrer as questões incómodas para debaixo do tapete e manter tudo tal como está.
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