Excerto da minha autobiografia não autorizada
Estou na cama. O despertador toca mas não me apetece mexer-me para desligá-lo. Já não tenho sono mas também não tenho qualquer vontade de me levantar da cama. O despertador continua a tocar como uma ambulância. Uma luz branca entra pelos poros dos estores. Tenho vontade de mijar. A ideia de carregar com o meu corpo amarelo até à casa de banho faz-me dores de cabeça. Quem aguentou a noite toda pode aguentar mais um bocadinho. A cama está quente, o ar está frio. Enterro-me nos lençóis como se fosse um morto. O barulho do despertador está longe, muito longe. É bom ficar parado. Não fazer nada. Não pensar em nada. Como se estivesse a olhar para uma televisão desligada. E sinto um líquido amarelo e quente espalhando-se pelos lençóis.
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