domingo, 6 de setembro de 2009


O Disco da Minha Vida III

E aqui, meus amigos, entramos em território quase sagrado. Falamos dos Pulp, essa banda que, durante anos, foi a banda preferida de qualquer gajo que não podia com os U2 e torcia o nariz aos boçais (se bem que não totalmente desprovidos de talento) Oasis.
Estávamos nos 90's, terreno dominado pela Britpop, com tudo o que isso teve de bom e de mau.
Os Pulp não tinham nada a ver com a Britpop, apenas foram adoptados quando a maralha se apercebeu da maravilha weird que tinha entre as mãos. Desde o início dos anos 80 que o infatigável e mítico Jarvis Cocker brincava com uma banda chamada Pulp. O primeiro disco, "It", era uma coisa esquisita, entre o bucólico e o alucinado. Tem poucas faixas que interessem realmente, mas foi suficiente para mostrar que Jarvis via o mundo através de óculos especiais.
Seguiram-se vários álbuns bastante bons até ao início dos anos 90, quando, já com a formação clássica estabilizada, saiu o "His n Hers". O disco culmina o período pop dos Pulp, feito de canções de amor e frustração embebidas em sintetizadores e grande malhas. "Babies" e "Do you remember the first time" são os exemplos mais óbvios de uma coisa linda. Mas o melhor estava ainda para vir.
Foi em 95 que o mundo viu nascer "Different Class". Fica para a história como o disco de "Common People", que muito à Pulp é apenas a terceira faixa do album. Mas era muito mais que isso. Foi com este disco que os Pulp conseguiram fazer a síntese perfeita entre a pop doce e sintetizada do passado com o seu lado negro de rock inteligente. Resultado? Um disco que agrada imediatamente ao ouvido mas que, devido à profundidade das letras, do ambiente e das camadas sonoras das músicas, permite que vivamos nele anos e anos. E isto, meus amigos, muito poucos discos conseguem fazer.
Tantos anos vivi neste disco que consegui proezas fantásticas: amei e odiei e voltei a amar a mesma rapariga ao som dele, variando as músicas; deixei de conseguir ouvir uma das faixas, "FEELING CALLED LOVE", porque um bom amigo chorou a mesma rapariga ao seu som; entre outras coisas inconfessáveis sob pena de estragar de vez a minha reputação.
É um disco que me inspira a escrever de cada vez que o ouço. Cada música é um mundo, literário. E faz a perfeita síntese entre letra e música.
Very british, mas com um twist.
É música para frustrados, para voyeurs, para os que vêem a gaja boa escolher o idiota com caparro porque tem carro, para os que - mesmo que vivam no centro - sabem que vieram dos subúrbios, para os que são lousy in bed mas têm garganta à mesma, para os românticos deseperados que se refugiam na bebida e na poesia, para os que só conseguem não estar à margem enquanto dura a embriaguez.
Todo o disco, as 12 faixas, são excelentes, sem excepção.
Os destaques óbvios são "Common People", "Underwear", "Disco 2000", "I Spy" pela letra que é praticamente uma cartilha do mundo Pulp e, a minha preferida de toda a carreira do grupo, "Something Changed".

Depois disto, o "This is Harcore", em bom nível, e a seguir o "We Love Life", já mostrando o desgaste que levaria ao fim da banda.
O "Different Class" é, apenas, o melhor disco pop de todos os tempos, e deixa para trás maravilhas como "Parklife", dos Blur, ou "White Album" dos Beatles.

Quem não o conhece, agarre-o. Quem conhece, sacuda-lhe o pó.
Vale sempre a pena.

4 comentários:

occhi verdi disse...

é um disco brilhante! acho que a "Underwear" é a minha preferida. acho... porque as músicas são todas tão fantásticas que, por vezes, tenho duvidas...

o homem do estupefacto amarelo disse...

Para um common people como tu até nem tens muito mau gosto musical.

NR disse...

Nunca achei brilhante, mas pela maneira como escreveste deu-me uma vontade imensa de o ouvir (e de comentar). Excelente :)

Little Bastard disse...

Meu, então limpa-lhe o pó e ouve.