A compilação de músicas num "greatest hits" é um crime inqualificável que deveria ser punido por lei. Cada álbum de originais é um todo indivisível maior do que a soma das suas canções. É uma barbaridade esquartejar diversos álbuns em canções desgarradas e ensanguentadas, fazendo uma nova colagem contra-natura dos membros e órgãos arrancados mais conhecidos, dando origem a numa nova criatura disforme e irreconhecível- um verdadeiro Frankenstein musical. Bem faziam os Led Zeppelin que nem sequer editavam singles, justamente como um statement de indivisibilidades dos seus álbuns. O Led Zeppelin II não é o Whole lotta love- é aquela combinação perfeita de nove músicas juntas num todo inseparável. Foi por isso com profunda repugnância que me vi forçado a comprar a merda de um "Very best of The Jam" porque não havia a puta de um único álbum original dos gajos em rigorosamente nenhuma das Fnacs de Lisboa. E não é caso único, com os Madness passa-se a mesmíssima merda. Com os Silver Jews e com os Kills é ligeiramente diferente: ando há que séculos a procurar em vão álbuns de originais, mas ao menos têm a dignidade de não me apresentarem uma pseudo-alternativa de um "greatest hits". A conclusão é óbvia: desde que a Fnac adquiriu o monopólio sobre a venda de discos em primeira mão (com a excepção residual dos hipermercados), o seu catálogo tem reduzido escandalosamente. Agora que já chacinaram por completo a sua concorrência (muito justamente, aliás, porque a concorrência era uma bela merda), já podem coçar à vontade os seus tomates multinacionais à sombra do seu monopólio. É que já nem tentam disfarçar que se estão a cagar completamente para os discos que vendem. Assumem obscenamente que os discos são apenas um vago chamariz para as pessoas comprarem o que realmente lhes dá margens de lucro interessantes: os lcds, hi-fis, computadores e gadjets para todas as paneleirices possíveis. Já para não falar dos preços absurdos, com álbuns dos Stones dos anos setenta (na altura em que eram bons) a serem vendidos por 20 aéreos. A única concorrência à altura da Fnac são as excelentes lojas de discos em 2ª mão que há em Lisboa, com bons discos a óptimos preços. Enquanto não for eu a vítima, continuarei a recorrer sempre que puder ao meu pequeno crime de receptação numa destas lojas: antes pequeno cúmplice de pequenos junkies ratoneiros, do que compactuar com o furto multinacional organizado como eu o fiz com a merda desta compilação. Mas que se foda, sabe bem ouvir os singles da mais britânica das bandas Pop britânicas, como este "Going Underground".
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
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9 comentários:
já tentaste lojas online? há uma loja no porto, a jojo's que dedicada a música "menos" mainstream (não menosprezando a qualidade de algumas coisas) e que também tem loja online, a cdgo.com.
Os preços não costumam ser mais altos que a fnac nesses álbuns menos, procurados, digamos.
Obrigado, caro du, pela sugestão, mas tenho uma pânico irracional em relação a transacções financeiras na net: temo sempre que algum hacker me consiga roubar os 90€ que tenho na conta. Se encontrares algum álbum dos Jam no jojo's, não hesites em mandá-lo cá para Lisboa.
1 - Eu percebo a ideia, mas não tenho nada contra os Greatest Hits (excepto, obviamente, os 50 dos Queen). Muitas vezes é uma boa porta de entrada, para depois, se um gajo gostar, comprar os discos.
2 - A Jojo's funciona mta bem, dá para pagar por multibanco e arranja tudo.
3 - Compra o "Tanglewood Numbers", dos Jews
4 - Os Jam são fixes, mas claramente overrated. Sobretudo o Paul Weller, que é venerado em Inglaterra e fez para aí três músicas fixes em 35 anos de carreira.
Só para dizer que I want to break free.
eu até dava uma vista de olhos na jojo's mas emigrei temporariamente (ou não).
discos ou cds em londres, já posso dar uma ajuda.
Também eu emigro temporariamente, à razão de duas vezes por dia: uma primeira, de casa para o trabalho, e uma segunda, do trabalho para casa.
Eu compro tudo na loja do Rapidshare.
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