terça-feira, 2 de março de 2010
El Ché-Cola
No meio da miríade de produtos esquisitos que o Inter-marché disponibiliza aos seus clientes esquisitos, há um que me chamou particularmente a atenção: um refrigerante chamado "El Ché-Cola". Nada esclarece tanto sobre a natureza do capitalismo do que este insólito artigo. Em primeiro lugar, demonstra que o capitalismo pode ter muitíssimos defeitos, mas um deles não é com certeza a falta de um apuradíssimo sentido de ironia. Em segundo lugar, ilustra bem outra característica do capitalismo: a sua extrema flexibilidade e adaptabilidade. O capitalismo tem apenas uma só lógica: a maximização do lucro. Se o lucro for optimizado através da venda de armas para o Pinochet ou através da venda de um produto que presta homenagem ao mais anti-capitalista dos heróis (que morreu precisamente em nome da luta contra o capitalismo e foi morto pelas forças apoiantes do capitalismo), isso é completamente irrelevante. O capitalismo não é imoral, é somente amoral: o bem e o mal são, em si mesmos, categorias completamente estranhas a este sistema. Podem, contudo, servir como excelentes meios para atingir a finalidade do lucro. A escolha do bem e do mal enquanto instrumento de marketing não é nunca uma escolha ética: é simplesmente uma escolha económica. A pergunta que o capitalista faz é simplesmente essa: o que é que me ajuda mais a optimizar os meus lucros: o Himler no rótulo de uma garrafa de um refrigerante ou o Che Gevara? Um simples estudo de mercado dá a resposta às suas angústias filosóficas: parece que o nazismo não vende lá muito bem hoje em dia. É por isso que o capitalismo triunfou por todo o lado e esmagou por completo todas as alternativas anti-capitalistas. A resistência anti-capitalista é fraca porque fica prisioneira da sua coluna vertebral, da sua ideologia, dos seus princípios morais humanistas, não se regendo apenas por pragmatismo e calculismo político. O capitalista não tem quaisquer limites a não ser os da margem do seu lucro. O capitalista não se importa nada de fazer muito dinheiro vendendo t-shirts do Che Guevara e produzindo filmes do Michael Moore. o Che Guevara está morto e o capitalismo está bem vivo. E que bem que sabe a "El Ché-Cola".
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4 comentários:
Descobri isso este Verão e fiquei a rir num dos corredores do intermarché durante uns minutos.
Clientes do Intermarché de todo o mundo, uni-vos.
Até eu que tenho alguma simpatia pelo capitalismo não posso deixar de notar o aproveitamento desavergonhado de um símbolo da luta contra aquele. E sim, o Che vende mais que o Himmler - a isto se resume a equação.
Este post faz-me lembrar a famosa marketing routine do Bill Hicks. http://www.youtube.com/watch?v=gDW_Hj2K0wo Vale a pena ver. Se alguma vez nos tivessemos conhecido, certamente que ia dar porrada, mas este gajo é digno de veneração.
Obrigado por subtilmente me teres corrigido o meu erro ortográfico com a palavra "Himmler". Agora percebo porque é que chumbei três vezes consecutivas nos exames de admissão ao PNR.
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