terça-feira, 9 de março de 2010
O Junkie da minha rua
O Junkie da minha rua era o puto mais popular no Secundário. Eu era tão estupidamente discreto que nem o meu melhor amigo se lembrava do meu nome.
Todas as miúdas do Secundário estavam apaixonadas pelo Junkie da minha rua. Os meus discos e livros também gostavam bastante de mim.
O Junkie da minha rua tinha uma LC. Eu andava para todo o lado com uma bicicleta ridícula daquelas que só se vêem nos videoclips dos Smiths.
O Junkie da minha rua tomava drunfos, speeds, ácidos e todos os químicos que conseguia gamar em farmácias e hospitais. Eu adorava beber batido de morango.
O mundo onde habitava o Junkie da minha rua era o mundo da rua, onde ele era rei e senhor. No reino do meu quarto quem mandava era eu.
Hoje, da varanda do meu quarto, de mão dada com a mulher mais bonita da minha rua, enquanto bebo devagar um batido de morango e ouço um velho disco dos Smiths, vejo lá em baixo um pobre farrapo sujo e pestilento que quase juraria ser o Junkie da minha rua.
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3 comentários:
Para quando uma reconciliação com o passado? Tendências suicidas, reclusão, poucas miúdas, incompreensão, discos underground e literatura alternativa, tudo isto tem um nome. Chama-se adolescência e todos passámos por lá. A maioria até já a deixou para trás.
Eu quando me quero alegrar com as minhas escolhas de vida, passo de propósito no minipreço aqui perto. A gaja popular & arrogante da minha turma (espécie de clássico tuga, correspondente à cheerleader americana) trabalha na caixa, hoje gorda que nem uma porca. O difícil depois é remover o sorriso trocista que fica comigo pelo resto do dia.
o problema é que nem todos temos a cabecinha para deixarmos o lado "junkie" a meio ou após a adolescencia e depois ficamos apenas simples "carochos" para o qual já ninguém olha, pois deixamos de estar no podium e passamos para a valeta!
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