O senhor Sócrates e o senhor Coelho, que agora são muito amigos, vêm agora dizer ao país que já encontraram finalmente as perigosas armas de destruição massiva responsáveis pelo estado em que se encontram as nossas contas públicas: os gananciosos e opulentos dos pobres e desempregados que andam a enriquecer com a generosa protecção social do Estado (o rendimento mínimo, por exemplo, atinge o exorbitante valor mensal de 187,18€) em vez de irem mas é trabalhar e fazer qualquer coisa de útil pela sociedade. Eu acho que faz todo o sentido. O hábito faz tudo e as principais vítimas da crise (pobres e desempregados) habituaram-se tanto à sua precária condição que agora se tornaram em verdadeiros viciados na auto-flagelação, tendo incentivos fortíssimos para, além de vítimas, serem igualmente os seus próprios carrascos. Acho, portanto, que tudo o que o homem do estupefacto amarelo escrever a partir de agora neste post acerca dos supostos verdadeiros culpados desta crise, é, claro está, um triste exercício negacionista de branqueamento do holocausto económico causado pelos perversos dos desempregados.
Culpado nº1 e Culpado nº 2
As políticas orçamentais devem ser contracíclicas, gastando-se pouco quando a economia cresce e gastando-se muito quando uma economia decresce (para suprir a falta de procura do sector privado em tempos de crise). No entanto, apesar de Cavaco e Guterres terem governado quase sempre o país em período de prosperidade económica e de convergência com a média europeia (no tempo do Cavaco chegou-se a atingir taxas de crescimento económico de 7,5% e no tempo do Guterres chegou-se aos 4,8%), fizeram exactamente o contrário do recomendado por qualquer manual básico de macroeconomia: o Cavaco chegou a ter défices orçamentais de 5,8% e o Guterres défices de 4%. A partir de 2002 (governos de Durão Barroso, Santana Lopes e Sócrtaes), primeiro com a a adesão a uma moeda (o euro) demasiado forte para a estrutura da nossa economia, e depois em 2008 com a crise internacional do subprime, fez com que a partir daí o crescimento económico fosse anémico ou mesmo negativo. Neste contexto de recessão, políticas orçamentais expansionistas (como continuaram a ocorrer) seriam racionais, mas como Cavaco e Guterres não deixaram aos seus herdeiros nenhum fundo de maneio, os défices orçamentais e a dívida pública gerada atingiram valores insustentáveis.
Como tenho que voltar ao trabalho e fazer qualquer coisa de útil para a sociedade, deixarei o resto para uma próxima posta.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
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2 comentários:
Uma pequena precisão: tivemos crescimentos espectaculares no tempo de Cavaco e Guterres exactamente por causa da guita gasta, o que provocou défice.
Ou seja, sem esse défice não terias esse crescimento todo.
O problema foi o dinheiro ter sido gasto em merda e ter ido para os bolsos dos do costume, em vez de ter sido posto a trabalhar para a economia se reconverter em algo de jeito.
Os jipes dos engenheiros agrícolas (era uma profissão avant-queque na altura) não se pagavam sozinhos.
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