1- Cultive a pobreza no campo de forma a que a sua população se desloque massivamente para as cidades para aí trabalhar nas fábricas;
2- Destrua a indústria, deslocalize fábricas e desenvolva o sector dos serviços. É importante que as antigas populações operárias subescolarizadas migradas para as cidades passem a ser um excedente inútil e inempregável na economia formal;
3- Concentre todos esses desperdícios humanos no mesmo sítio, formando enormes bolsas homogéneas de pobreza e exclusão. Chame-lhe "bairros sociais".
4- Por contraponto ao resto da cidade, heterogénea do ponto de vista arquitectónico e social, realoje esses resíduos humanos, dispensáveis no capitalismo moderno, em enormes blocos de betão feios, baratos e, sobretudo, todos iguais. É importante que os bairros sociais pareçam mesmo "bairros sociais", de forma a que o estigma sobre estas populações seja mais eficientemente aplicado.
5- Condene estas populações excluídas da economia formal à sobrevivência na economia informal. Na melhor das hipóteses, uma mairoia conseguirá arranjar biscates precários, sem contrato e mal pagos (nessa circunstância, culpabilize-os por isso, acusando-os de não quererem trabalhar regularmente, de não querem pagar impostos, sendo "parasitas sociais sustentados pela classe média". Na pior das hipóteses, há uma minoria que consegirá "emprego" na economia informal ilegal (prostituição, tráfico de droga e armas). Reprima esses comportamentos desviantes, na condição porém de nunca mexer nas causas sociais que os potenciam. A criminalização da pobreza é um óptimo pretexto para acusar os pobres de serem responsáveis pela sua própria pobreza, por serem maus e preguiçosos.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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7 comentários:
6 - Alivie qualquer ameaça de culpa soltando pequenos grupos de gente caridosa junto dos mais desfavorecidos. Uma a duas vezes por semana, das 20h00 às 22h30. Admitindo-se maior frequência entre 15 a 23 de Dezembro.
Porta-aviões ao fundo.
7. Assuma a ilacção "pobreza, logo, crime" de forma mecanicista, culpando a sociedade ou o sistema e não o criminoso, assumindo-os como questões sociológicas e jamais como casos de polícia.
Ignore os casos de mérito individual de pessoas pobres que correm o risco de acarretar a responsabilidade dos demais pelos próprios actos.
Desde que não me falte dinheiro para o putedo...
Caro Funafunanga,
A sociedade já encara, e bem, os crimes perpetrados pelos pobres como casos de polícia. A prova disso é Portugal ter a maior população prisional (do ponto de vista relativo) da União Europeia, e dessa população ser na sua grande maioria constituída por pobres. Mas, para além de ser um caso de responsabilidade individual, a criminalidade é igualmente um caso de responsabilidade colectiva, na medida em que existe uma correlação elevada entre o nível de desigualdade de uma sociedade (que resulta de escolhas políticas) e a taxa de criminalidade. Ignorar esta questão sociológica (a pobreza, o desemprego e a exclusão são, de facto, factores que potenciam a criminalidade) é suprimir um dos lados da equação. Além do mais, existe um problema adicional: a sociedade não encara muitas vezes os crimes dos ricos como casos de polícia (existem estudos, por exemplo, que demonstram que face ao mesmíssimo crime, um desempregado tem muito mais probabilidade de ser condenado do que uma pessoa empregada).
"a sociedade não encara muitas vezes os crimes dos ricos como casos de polícia" - evidentemente, meu caro. Para os crimes dos ricos existem as comissões parlamentares de inquérito.
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