A história da Europa foi sempre a história das suas guerras fratricidas. Na primeira metade do século XX, os civilizados, cultos e sofisticados europeus escreveram essa história com um marcador bem grosso: 13 milhões de mortos na Primeira Guerra Mundial, 50 milhões de mortos na Segunda, ambas com o selo de origem “Made in Europe”. Depois de se chacinarem na mais mortífera guerra de sempre, e de terem tido a generosidade de convidar o resto do mundo para a sua chacina privativa, os europeus decidiram brincar ao amor, à paz e à harmonia entre povos: agregaram-se numa comunidade económica, com o objectivo tácito de assim preservarem a paz. É verdade que este objectivo político tem sido até agora plenamente cumprido. Mas a questão a colocar é a seguinte: quanto tempo aguenta um escorpião em dieta vegetariana, até ao dia em que se passa e morde a sua própria cauda?
A reduzidíssima taxa de participação nas eleições europeias (43% foi a média comunitária nas últimas eleições; 37% em Portugal) demonstra bem o distanciamento que os diversos povos europeus têm em relação à Europa. Será possível esta união persistir quando ela não é ancorada em nenhum sentimento espontâneo dos diversos povos que a constituem? Quando as coisas começam a dar para o torto - como sucede com a actual crise do Rating grego - os velhos egoísmos europeus emergem de novo à superfície. Os diversos Estados Europeus hesitaram durante demasiado tempo se salvariam ou não a aflita Grécia da bancarrota iminente. Depois de muito ponderar, a família europeia lá socorreu a Grécia com um empréstimo. Dividido com o FMI! E com juros de 5%! Como muito bem observou o economista Joseph Stiglitz, não se ganha dinheiro com a nossa própria família. A Europa nunca foi nem nunca será uma família, no sentido, por exemplo, em que os diversos Estados dos EUA realente o são. Não existem quaisquer laços naturais de fraternidade e de solidariedade a unir os seus povos. A Europa está unida artificialmente através da frágil teia das suas relações económicas. No dia em que esta teia se desfizer, (e já tivemos mais longe disso acontecer), os velhos ódios fratricidas regressarão. Aposto com vocês uma imperial em como daqui a vinte anos estaremos todos mortos. Uma imperial bem gelada e com imensa espuma como não existe em mais nenhum país europeu.
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