“Quando chegamos ao apartamento de Rip, em Eilshire, ele leva-nos logo ao quarto de dormir onde está uma miúda nua, nova e realmente bonita, deitada no colchão. As pernas estão abertas e amarradas aos pés da cama e os braços estão atados por cima da cabeça. A vagina parece seca e tem uma espécie de urticária, e vê-se que lhe raparam os pêlos. Geme constantemente, murmurando algumas palavras, e sacode a cabeça de um lado para o outro, com os olhos semicerrados. Alguém lhe pintou a cara excessivamente e sem cuidado, e ela vai passando a língua pelos lábios, lenta e repetidamente. Spin ajoelha ao lado da cama, pega numa seringa, e diz-lhe qualquer coisa ao ouvido. A miúda nem abre os olhos. Spin espeta-lhe a seringa no braço. Eu limito-me a olhar. Trent exclama «Huau!». Rip diz qualquer coisa que não se percebe.
- Ela tem doze anos!
- E é apertada, meu - ri Spin.
- Quem é ela? - pergunto.
- Chama-se Shandra e estuda no Corvalis - é tudo o que Rip diz.
Ross está a jogar Centipede na sala, mas o som do jogo de vídeo chega até ao quarto onde estamos. Spin mete uma cassete na aparelhagem e, depois, despe a camisa e os jeans. Está de pau feito e mete-o na boca da miúda. Vira-se para nós e diz: - Podem ficar a ver, se quiserem.
Saio do quarto, seguido por Rip.
- Porquê? - É tudo quanto pergunto a Rip.
- O quê?
- Porquê, Rip?
Rip parece confuso. – Porquê aquilo, queres dizer?
Tento fazer que sim com a cabeça.
- E porque não? Qual é o mal?
- Oh, meu Deus, Rip! Ela tem onze anos.
- Doze- corrige ele.
- Está bem, doze - digo, pensando no assunto por uns instantes.
- Ei, não olhes para mim como se eu fosse uma espécie de escumalha ou coisa parecida, porque não sou.
- É que… - a voz começa a falhar-me.
- É o quê? - quer saber Rip.
- É que… eu acho que não está certo.
- O que é que está certo? Se queres uma coisa, tens direito a tê-la; se te apetece fazer qualquer coisa, tens direito a fazê-la.
Encosto-me à parede. Oiço Spin a gemer no quarto de dormir e, em seguida, o som de uma palmada, talvez na cara.
- Mas tu não precisas de nada. Tu tens tudo - digo-lhe.
Rip olha para mim. – Não, não tenho!
- O quê?
- Não, não tenho!
Faz-se uma pausa e depois pergunto: - Oh, merda, Rip! O que é que tu não tens?
- Eu não tenho nada a perder.”
(Bret Easton Ellis, in “Less than zero”)
terça-feira, 8 de junho de 2010
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1 comentário:
folgo por ver que finalmente andas a ler coisas de jeito.
qualquer dia ainda te vejo a fumar.
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