quarta-feira, 30 de junho de 2010

Plano Inclinado


O problema danado da deriva do PS para a direita é que inclina todo o nosso sistema político para a direita.

1. Face a um PS tão liberal, o BE e o PCP perderam espaço político para defender o seu programa tradicional (mais revolucionário e igualitário), tendo que canalizar todos os seus esforços para que ao menos os últimos resquícios da esquerda mínima reformista - anteriormente protagonizada pelo PS (como a defesa do estado providência e de uma maior justiça fiscal) - não desapareçam por completo. A lógica deste deslocamento de partidos tradicionalmente revolucionários para o espaço da social democracia é simples e racional: mais vale um direito social na mão do que dois a voar.

2. Passos Coelho sintetizou há dias todo o seu programa político: "é necessário liberalizar o mercado e encolher o Estado". Margaret Thatcher não diria melhor. O PSD, para se diferenciar do seu concorrente directo, é obrigado a abandonar o seu tradicional liberalismo soft (agora adoptado pelo PS) para abraçar um liberalismo hardcore (versão Passos Coelho), defendendo um Estado mínimo (confinado apenas às funções de defesa, segurança e soberania) e um mercado máximo (com o mínimo de regulação e interferência do Estado). A mesma receita que recentemente provocou a maior crise financeira e económica desde a Grande Depressão. I've got a feeling que o nosso próximo primeiro ministro, doutor Passos Coelho, será, portanto, uma espécie de Carlos Queirós da Política.

3. O PP, para se diferenciar de um PSD tão desavergonhadamente liberal, é forçado a deslocar-se progressivamente para a extrema-direita, adoptando um discurso cada vez mais xenófobo e racista social.

4. Confesso que não estou muito informado das últimas novidades em relação ao PNR. Mas pela lógica de todo este plano inclinado iniciado pelo PS, suspeito seriamente que os seus militantes estejam neste momento na rua a fazer barricadas populares em nome da reforma agrária e da instauração de uma sociedade sem classes.

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