Deixou-nos o Saramago.
Neste momento de luto colectivo de Portugal, e também de Espanha, Saramago não deixa de ser controverso. Todos elogiam o escritor, mesmo aqueles que nunca o leram. Outros falam do homem, os que o conheceram. Outros salientam o ser político.
Como escritor, para mim, é um monstro sagrado. Divide com Lobo Antunes o trono de maior escritor português do período que se iniciou no final dos anos 60, e que ainda dura. E, como alguém disse, foi, juntamente com Fernando Pessoa a única grande figura literária portuguesa que possuia verdadeira dimensão mundial (talvez acrescentasse o grande Eça). Lobo Antunes, tal como Camões, tem na sua arte algo de profundamente português, e mesmo de pessoal, que só lhe diz respeito a si. Saramago não. Era e é de todos, e acerca de todos. Mesmo que a qualidade dos seus livros tenha vindo a decair nos últimos anos.
Pelo homem, nunca tive grande simpatia. Parecia-me seco e convencido. Como político criticam-lhe os saneamentos que fez, no DN, após o 25 de Abril. Eu sou coerente, e defendo que a nossa revolução devia ter ido muito mais longe do que foi, e que o estado em que nos encontramos se deve aos cravos em vez de balas. Como tal, e não sabendo quem foi saneado no DN - até então um jornal muito respeitoso para o regime - prefiro não me pronunciar acerca disso.
A verdade é que o homem, o político e o escritor são inseparáveis.
Perdemos aquela que é, justamente, a maior figura literária nacional, e foi bonita a homenagem que lhe realizaram. A imagem que me fica é de um grandíssimo escritor, e de um homem que, teimosamente, insistia em ser lúcido e não se deixar levar por este estupidificante caminho de pseudo-modernização que o nosso país segue.
Num país obcecado por Ronaldos e Mourinhos, é bom que não nos esqueçamos dos verdadeiramente grandes.
E a maior homenagem que lhe podemos fazer, e que temos de fazer, é continuar a lê-lo. Que assim saibamos fazer, por muitos anos.
domingo, 20 de junho de 2010
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2 comentários:
Na minha opinião, um vaidoso do pior, e deixava isso transparecer na escrita, o que lhe roubava subtileza e naturalidade. Até me surpreende gostares da escrita dele. Acho que tinha boas ideias de base, mas fraca qualidade técnica para as levar a bom porto. Acho enfadonho, é tudo. Mas os que estão a seguir, a fazer-se ao lugar, são piores.
O Saramago saiu daqui com a barriguinha cheia. Os seus últimos trinta anos foram indescritivelmente maravilhosos. Dariam para encher duzentas vidas.
Muito me consola que o país lhe tenha prestado tão digna homenagem desde sexta-feira.
Sabia-o um excelente negócio literário, ignorava que fosse tão amado por tantos portugueses.
Ele mereceu tudo isso. Foi um grande escritor.Um homem irrepetível.
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