quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Bomba Atómica

E pronto. Zé Socras, esse perigoso esquerdalho, usou a bomba atómica, em forma de golden share.
Foi um tremendo disparate, mas foi bonito de ver por várias razões.
Primeiro havia o chamado "núcleo duro" nacional, supostamente composto por CGD, Parpública, BES, Controlinveste, Visabeira e Ongoing, entre outros. Esta malta, que já vem de trás - da OPA da Sonae sobre a PT - formava uma espécie de Viriato empresarial, do alto da montanha a fazer manguitos a Castela. A PT, blablabla, Portugal, blablabla, centros de decisão nacional, blablabla. E depois a Telefónica abriu a carteira, e tirando a Caixa toda a gente meteu a viola no saco, e vendeu.
É importante ver que este bloco CGD/BES é, de facto, o verdadeiro polvo económico nacional, sobretudo o BES e o seu séquito. O BES manda na PT, que alimenta a Visabeira, a Ongoing e outros que tais. Assim, o BES manda, os outros fazem.
A primeira parte hilariante foi estes grandes patriotas meterem a viola no saco e venderem. O patriotismo tem um preço, que são 7,15 mil milhões de euros.
Mas o mais hilariante de tudo é esta gente humilhar-se ao vender a mãe, e ainda assim não terem conseguido cheirar a guita. O Zé, qual Chavez, não deixou.
Um dos argumentos é o interessa nacional.
Um disparate.
Como se para o interesse nacional, para mim, fosse relevante a PT ter a Vivo no Brasil. Mais, como se para mim fosse relevante o facto de a PT ser portuguesa, espanhola, alemã ou marroquina. É-me absolutamente indiferente, enquanto consumidor.
Enquanto cidadão português e eleitor, já me faz diferença. Adoraria que a PT, e a EDP, e a Galp e isso tudo fosse espanhol, ou sueco, ou o raio que o parta.
Como já disse, e enquanto pessoa de Esquerda, defendo a presença do Estado na economia. Mas o Estado (PS/PSD) já demonstrou inequivoca e repetidamente não ser pessoa de bem. A PT é, apenas, o maior poleiro de tachistas e políticos e filhos e sobrinhos de políticos. Maior ainda que a Caixa, que tem o poder de ser um banco. Toda a gente fala na Caixa, mas é na PT que eles estão. A razão é simples: como empresa "privada" paga mais. E, para além disso, é uma questão cultural, como vimos pelos Ruis Pedros Soares e quejandos.
Ou seja, se vender a Vivo torna a PT mais fraca, eu sou a favor. Se qualquer estrangeiro quiser comprar a PT, eu sou a favor. Tudo o que possa tornar a PT menos poderosa, menos apetitosa, menos manipulável ou desejável de manipulação, eu apoio.

Sócrates quer manter a PT como está. Tem-lhe dado muito jeito, como já vimos e vamos continuar a ver. Se a PT fosse espanhola, poderia ser-lhe mais complicado colocar lá gajos só porque sim. Os estrangeiros têm esta coisa esquisita de quererem que uma empresa seja eficiente, quando pagam por ela.

Quanto à golden share, foi um desastre diplomático. Nós temos um problema: por um lado somos uns ganda liberais, amamos o mercado e copiamos, tintim por tintim, a cartilha americana. Por outro, quando não nos convém já não queremos brincar. Sócrates falou em interesse nacional. O que ele fez, para se armar e eventualmente sacar uns votos aos tugas sedentos de vingança contra Espanha, foi dar uma machadada na credibilidade internacional do nosso país.

E isto no momento em que ele, esse perigoso esquerdalho, prepara uma batelada de privatizações. E quem raio quererá comprar uma empresa ao Estado português, sabendo que este quer continuar a mandar?

3 comentários:

funafunanga disse...

Basicamente, as golden shares juntam o melhor de dois mundos: mantêm o controlo pelo Estado de empresas estratégicas, sem despesas nem dores de cabeça associadas.

É uma pena a UE não gostar delas. Vamos tentando empatá-los enquanto pudermos. Com jeitinho e pelo caminho que as coisas tomam, a golden share da PT há-de durar por mais tempo do que a própria UE.

A PT mete muitos boys, é verdade, mas daí a querer vê-la em mãos estrangeiras vai um longo caminho.

funafunanga disse...

Não houve há tempos um veto parecido do governo espanhol num negócio qualquer com a Indesa ou Iberdrola? (vaguidão da questão denuncia anos de jornal económico dobrado debaixo do braço só mesmo naquela de ser sociável, mas destinado a forrar caca de gato).

Little Bastard disse...

Repito, quanto mais fraca melhor. Quanto mais depressa em mãos eficientes, melhor. Estrangeiras ou seja quem for.