A miserável argumentação que, ontem na AR, sustentou os votos contra a proposta de tributação de dividendos não merecerá aqui qualquer replicação, digamos, substantiva. Há espaços próprios, e gente mais séria, para o efeito.Não contem comigo para trabalho tão digno.
O que me leva a escrever um número considerável de palavras (face ao que neste blogue digito) é o expediente da abstenção tomado por alguns deputados do PS na esperança de manter viva a áurea de esquerda moderna que ostentam, garantindo, em simultâneo, o objectivo essencial da respectiva turba parlamentar: o chumbo da tributação de um imposto sobre os dividendos antecipados.
A matéria em discussão e votação não se prestava a meias tintas. Chocam, por isso, mais do que os votos contra, as abstenções de Miguel Laranjeiro, João Galamba e Miguel Vale de Almeida.
O caso de Miguel Vale de Almeida seria, à primeira vista, o mais perturbador, mas a realidade mais actual regista, olhando à sua performance, que a esquerda pôde apenas contar com os seus préstimos em combates na área, digamos, dos costumes - casamentos entre paneleiros do mesmo sexo, ivêgês, e afins mais ou menos anticlericais – o que, não sendo despiciendo, parece, ainda assim, poucochinho para um fundador de um recente partido de esquerda (trata-se, recordo, de um dos criadores do Bloco de Esquerda).
A sua abstenção, assim como dos outros dois camaradas, aparecerá aos olhos dos mais incautos como um exercício, ainda que leve, de irreverência e inconformismo, mas, na prática (e, queiramos ou não, a prática tem nestas coisas capital importância) apenas contribuiu para inviabilizar a proposta do PCP, salvaguardando os interesses de quem, além de rechear os bolsinhos com muitos e muitos euros, costuma encher imoralmente a boca nos Prós e Contras e SIC Notícias desta vida em clamores por cargas maciças de austeridade sobre quem trabalha e sobre quem menos tem. Tudo em nome da pátria, confiando que a fórmula proclamada, de tão antiga quanto liberal, revele o caminho da redenção.
Conforme a fotografia o documenta: é esperar sentados.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
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1 comentário:
Acho que tem a ver com o princípio da não retroactividade fiscal conforme explicou o Bagão Félix na RTPN enquanto eu tentava encontrar pilhas para o comando de forma a voltar à SporTv. Eles fodem é sempre os mesmos seja sentados ou de pé.
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