Ouvi com muita atenção a entrevista dada ontem pelo nosso Primeiro-Ministro. E fiquei ainda mais convencido de que ele não faz puto de ideia do que anda a fazer. Tirando a voz de barítono, tudo o resto está fora do sítio. A convicção, as ideias, o rumo, as indispensáveis explicações no momento em que decide saquear todos os portugueses de uma vez. Nada disso está lá.
Aliás, parece-me muito importante desfazer um equívoco criado propositadamente por este Governo. Para este Governo, discordar é ser irresponsável. Lutar contra uma injustiça é ser piegas. Chorar o desemprego é ignorar a oportunidade que isto representa. Um desempregado é metade malandro que não quer trabalhar e metade felizardo, a caminho da glória celestial do empreendedorismo. E, como tal, ser contra esta descida da TSU para as empresas e o subsequente aumento para os trabalhadores (mais, porque sobe mais do que desce o das empresas) é ser contra a troika. É rasgar o memorando. É não cumprir o défice. É o caos.
E a mentira está aqui.
Ponto 1: no memorando não consta nada disto. Consta a descida da TSU, é verdade, cuja quebra de receitas seria compensada pela subida do IVA. Como o Governo subiu logo o IVA sem descer a TSU, agora não tinha nada para compensar. Nada? Claro que tinha. O salário, as pensões.
Portanto, contestar esta jogada da TSU não tem nada a ver com rejeitar o cumprimento do memorando. Não foi a troika quem o exigiu, soubemos ontem. Foi o Governo quem o propôs. São mentiras, portanto.
Ponto 2: o défice. Passos vende-nos a história (falando no pacote todo), que contestar as medidas do Governo significa não cumprir o défice. Aqui está uma monumental mentira, que é importante destruir. Com esta medida, o acréscimo de receita para o Estado é insignificante. Estamos a falar de 500 milhões de euros, num défice que é muitíssimo superior. Seria fácil ao Governo encontrar uma outra medida qualquer para arranjar estes 500 milhões. Basta lembrar que o fez em quase todos os últimos exercícios orçamentais. Que tal uma sobretaxa às maiores empresas portuguesas (só a EDP lucra mais de mil milhões por ano, com certeza que aguentaria se pagasse uns 100 ou 200 milhões, tal como a PT, por exemplo)? Numa medida desesperada - apenas aceitável pelo estado de necessidade em que nos encontramos - por que não vender 10% do capital da Caixa Geral de Depósitos?
Eu não sou economista, mas se até eu me consigo lembrar de medidas alternativas - para poupar o povo a este colossal esbulho colectivo - não me digam que os génios deste Governo não o conseguiriam fazer?
Claro que conseguiriam. Mas não querem.
Porque o embuste é este: A QUESTÃO DA TSU NÃO É ORÇAMENTAL, NÃO É DE DÉFICE; É UMA OPÇÃO PURAMENTE POLÍTICA.
Quanto ao défice, é uma gota de água. Então pergunto: se não resolve nada em termos de défice das contas públicas, então por que raio estamos a fazer o nosso povo passar pelo maior processo de empobrecimento instantâneo desde que há memória?
É simples: porque esta gente acredita que o caminho certo é esse: o empobrecimento.
Passos disse, uma vez, que os portugueses iam empobrecer. Mas disse-o como se fosse uma coisa lamentável, uma pena, uma coisa dura mas inevitável. A verdade, sabemo-lo agora, é que isto não era apenas uma previsão amargurada: era uma declaração programática.
É a visão dos Antónios Borges e dos Moedas desta vida. O Governo, sem a mínima ideia económica (Gaspar só trata das finanças e o Álvaro é uma piada de mau gosto), está nas mãos destes rapazotes. Consultores, meninos que vivem há anos no estrangeiro, entretidos entre a alta finança e brincadeiras de MBA's. Meninos que, nas suas escolas, aprendiam em aulas teóricas sobre as intervenções económicas no Chile, na Venezuela, na Argentina. E agora querem tratar Portugal, o nosso país, como um desses casos teóricos com que brincam nas suas aulinhas.
Ao contrário do que dizem e fingem, estes senhores não têm nada de patriótico. A Pátria é o seu Povo. E a irresponsabilidade desta gentinha medíocre não pode mais ser tolerada.
Quanto à manifestação de amanhã, à qual comparecerei com toda a convicção.
O lema é engraçado, mas infeliz: "Que se lixe a troika, queremos as nossas vidas", reza.
Eu não quero que a troika se lixe. Nós precisamos da troika, precisamos do dinheiro deles, precisamos da pressão deles para fazermos as reformas que, de outra forma, nunca na vida faremos. O meu problema não é com a troika. O meu problema é com este Governo. Que, a coberto das pseudo-obrigações da troika (todas desmentidas), quer impor um modelo económico e social inventado em Nova Iorque por um desses expatriados de luxo, que são por cá tratados como sumidades.
Eu sei que temos que fazer sacrifícios. Que teremos de enfrentar uns anos de maiores dificuldades, e que se a coisa for (fosse) bem conduzida teremos uma economia, e um país, mais saudável.
O que não aceito é que não só os sacrifícios não são para todos como há alguns (as empresas) que ainda vão ganhar dinheiro com isto!!! À custa dos seus trabalhadores!!! Desta nem o Mitt Romney se lembraria.
Prefiro a Troika ao Passos. Prefiro, de longe, a Troika ao Relvas.
Amanhã, lá estarei, como tantas outras vezes estive. Porque não aceito que este povo seja roubado e tratado como um ratinho de laboratório, ainda por cima numa experiência que toda a gente já percebeu que vai falhar rotundamente. Porque não nos enganemos, meus amigos: estamos a perder o nosso salário PARA NADA. Não é isto que vai resolver nada, não vamos conseguir cumprir o défice, não vamos viver melhor a prazo. Não nada. Vamos sim, e já, ficar mais pobres. Porque sim.
Sempre estudei, terminei a minha formação universitária com 22 anos. Trabalho ininterruptamente há 12 anos. Nunca pedi um crédito ao banco, não comprei casa. Não devo nada a ninguém, nem ao Estado, nem ao banco. Nunca cometi um crime, nunca fui preso. Nunca roubei. Nunca pedi nada ao Estado, mas sempre descontei e paguei impostos, e bem. Ganho o meu salário com o suor do meu rosto e, com esse dinheiro, ajudo a suportar a minha casa e as minhas duas filhas. Todos os meses dou dinheiro à minha mãe, que trabalhou uma vida inteira e tem uma reforma pouco superior a 200 euros. Portanto não me venham com a conversa de que todos fomos culpados, todos fomos inconscientes, todos vivemos acima das nossas possibilidades. É falso. Não fui eu quem falhou.
Esforcei-me, estudei, trabalhei, e com isso consegui um salário decente. Com base nesse salário, fiz escolhas de vida, partindo do princípio que, caso não fosse despedido, essa seria a base financeira da minha vida. Até que chegou o senhor Passos e, apenas devido a uma opção ideológica de política económica, decidiu que eu devia ganhar menos. E que esse dinheiro devia ir para o meu patrão.
É por tudo isto, e por muito mais, que amanhã lá estarei.
Espero ver-vos por lá.
sábado, 15 de setembro de 2012
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2 comentários:
Lá estaremos, Camarada.
Bela posta.
Achei a melhor descrição da realidade do nosso pais que li. Partilhei no fb, espero que não leves a mal.
NR
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