E pronto, lá foi o camarada Relvas.
Com mais de um ano de atraso, é certo, mas sempre é melhor do que nada.
Este Governo chegou ao poder ungido de uma pseudo-superioridade moral, um aura de diferença face à pouca vergonha dos anos Sócrates. Um regresso ao "pobres mas honrados" do saudoso António de Oliveira Botas, com um ministro de Vespa e os outros em classe económica. Para pedir aos portugueses os sacrifícios que este Governo pediu (sem jeitinho, enfim), este Executivo tinha de ser, no capítulo da moral e da confiança pública, à prova de bala. Ou seja, "tenho de vos incomodar analmente, mas olhem para mim tão puro, tão limpo, tão bem intencionado, é tudo em nome da Nação".
Para os observadores políticos, a relação de relativa confiança entre o eleitorado (pelo menos o centrão, que é o que interessa) e o Governo quebrou-se com o estampanço espectacular da TSU. Esse foi o momento em que todos percebemos que estes tipos eram mesmo perigosos, que ninguém - por mais inocente que fosse - estava a salvo, que um dia um deles acordava e achava que seria boa ideia tirar dinheiro do nosso bolso para o meter no bolso do patrão.
Mas eu não concordo que tenha sido esse o momento do divórcio sem solução. Esse momento foi todinho protagonizado pelo Amigo Relvas e pelo Amigo Pedro. O momento em que um amigo, que por acaso é Primeiro-Ministro e deve respeito a todos os portugueses, se recusou a deixar cair outro amigo, por acaso Ministro e cujo percurso é, todo ele, uma ofensa aos portugueses honestos e trabalhadores.
Toda a gente fala da licenciatura fraudulenta - e será essa a pequena gota a fazer transbordar o copo - mas poucos se lembram do resto. Coisas ainda mais graves, como as ligações perigosas ao super-espião, as mentiras ao Parlamento, as brincadeiras maçónicas, as pressões inadmissíveis, ainda que completamente incompetentes, sobre jornalistas, sendo o caso do Público o mais gritante. Relvas, o sobredotado que faz 746 cadeiras na hora do almoço, conseguiu acumular mais casos e desvarios em menos de dois anos de Governo do que Santana Lopes se tivesse cumprido todo o mandato.
Sim, foi esse o momento decisivo. Em que percebemos (aqueles que ainda tinham dúvidas) que estes tipos não eram em nada melhores do que os anteriores e os anteriores e os anteriores. Que tudo fizeram e tudo fariam, em nome pura e simplesmente do poder. Indo até ao ridículo de forjar uma licenciatura apenas para compor o currículo e, sobretudo, o egozinho.
Relvas sai, falando de tudo - do tempo, do Benfica, do seu casório, etc - menos do que interessa. Finge que sai por cansaço, quando toda a gente sabe já que o poder a ele não só não cansa como o faz correr por muito gosto. Sai porque tem de sair. Porque, finalmente, o Primeiro-Ministro lhe terá dito que, com os novos elementos, seria impossível mantê-lo.
É demasiado tarde, e o estrago sobre a imagem de todo o Governo está feito, há muito. Pagarão por isso para todo o sempre.
É um bom dia para esta maltratada democracia portuguesa. Gostaria que este fosse o princípio da limpeza na política partidária deste país. Que os partidos e as pessoas que neles votam percebessem, de uma vez por todas, que tipos como Relvas, Dias Loureiro, José Lello, Santos Silva, Duartes Limas e tantos tantos outros, não podem continuar a ser levados ao colo até ao topo do monte do poder. A sua mediocridade é tão triste quanto a sua incapacidade de uma ideia própria, um projecto para o país, uma causa que não seja a busca do poder e da vaidade.
Gostaria muito que isto fosse o princípio de um país que, finalmente, se apercebesse que não pode continuar a eleger pseudo-elites que de elite têm apenas o facto de nunca terem tido um dia honesto de trabalho na vida.
Sei, infelizmente, que isso não vai acontecer. Nem hoje nem amanhã. Mas acredito que, um dia, as pessoas acordem de vez, e exijam ser governadas por pessoas de mérito e bem-intencionadas. Só isto. Isto não é pedir muito. Mas tendo em atenção o que nos têm servido (e nós temos eleito), parece ser pedir o céu.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
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