quarta-feira, 15 de setembro de 2004

A Grunhice

Este post começou por ser um simples comentário ao post do Fanica - A Liga Protectora dos Animais Adverte - sobre o Alberto João Jardim. Todavia, por constrangimento de caracteres, ou simples incapacidade de síntese, decidi-me pelo arregaço das mangas. Ora cá vai disto...

Antes de mais (fica sempre bem começar o segundo parágrafo assim), introduzo um pouco de rigor científico: "O povo só deve amar-se literariamente. Só ama o povo quem não conhece o povo" (não volto a repetir, Fanica).

Sem prejuízo da justeza destas palavras, sempre achei por bem não associar sem reservas a postura popular ou populista de alguém, ou mesmo brejeira, ao "o povo" propriamente dito.
Daí que discorde da opinião do Fanica.

Alberto João não é do povo. Nenhum madeirense do povo, por exemplo, pode gastar 8 ou 9 anos em Lisboa a fazer uma licenciatura como Alberto João gastou.
Alberto João não é do nem é o Povo. Nunca foi ou será, por mais que tente e consiga parecer.

Não será um preconceito, de todos nós, achar que a rudeza, a pouca afabilidade, a bebedeira pública, são patrimónios classificados, cultivados, protegidos e únicos do povão? Julgo que sim.

Sem esquecer quer a condição de advogado do diabo do Fanica quer a sua menção a algum novo riquismo, insisto na tecla do preconceito. Por que não velho riquismo em vez de novo? Por que raio um comportamento bronco tem invariavelmente de ser ligado ao povo e não à burguesia?

Que Alberto João Jardim não tem uma conduta própria de um político com as suas responsabilidades é um facto. Daí a dizer-se que a sua postura é à pobre ou à rico, à esquerda ou à direita, à povo ou à burguesia, à clero ou à nobreza, vai uma enorme distância.


Recordo-me de, há já uns anos, ter frequentado, por razões familiares, uma festa, em que, supostamente, estaria reunida a nata do jet-set alentejano (sim, o Alentejo tem jet-set), e onde a meio da noite se discutia futebol (vejam lá que a burguesia fala de futebol, aquela indústria que potencia a venda de bifanas em roulotes e insultos aos árbitros!) com um conjunto de tios sportinguistas a massacrar um tio benfiquista até este se decidir pela liminar tirada: “É isso, é isso, mas no Jamor levaram 3 mais um very-light”. Erudito, sem dúvida.

Se há coisa que o materialismo dialético não explica (e há muitas, graças a Deus) é a grunhice.
A grunhice não tem classes.

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