BUBAMARA
Reflexões pós-concerto de Kusturica & the non smoking orchestra.
A multidão bastante heterogénea. Poucos autênticos freaks dos cães, sobretudo muitos betos a armar ao radical de esquerda. Elevada percentagem de gajas, diferente, digamos, de um concerto dos AC/DC (que só consigo imaginar a tocarem na concentração de Faro). Estranhamente, numa multidão de aspecto bastante controladinho, a coisa até animou bastante. Mas de forma controlada, sempre.
Houve uma espécie de moche. Frequente e agitado, mas nada de muito perigoso. Se todo aquele movimento fosse a sério, teria havido feridos. Vários.
Foi um óptimo concerto para observar pessoas. As várias ganzas ajudaram, e de que maneira. Há um primeiro movimento de moche, dos mais empenhados. Depois, quando a música volta a subir, o grupo parte, como um comboio, para outras paragens, levando tudo à sua passagem. E depois nasce a segunda ronda do moche. São aqueles que, aquando do primeiro, estiveram vai não vai para se envolverem, mas ficaram tímidos e não foram. Depois, quando a coisa pega de novo, não querem perder a oportunidade e entram. Mas já são os preguiçosos, e o moche dura pouco.
É também um bom concerto para aproveitar os moches para apalpar as gajas. Diferente de, digamos, um concerto dos metalica, em que tal poderá ser não apenas incompreensível como perigoso.
Um dos últimos moches, o único que me acabou por entornar um pouco de cerveja, era bastante sui generis. Olhei, e no fundo eram apenas três gajos e duas gajas. A força motriz era um grandalhão, betinho mas já nos 30, que estava muito emocionado por estar a partilhar aquele momento de maluquice com os amigalhaços. Então, eles abraçavam-se todos, com os braços gigantes do grandalhão a unirem todas aquelas pessoas, e depois saltam todos ao mesmo tempo, abalroando malta à volta.
É o moche dos abracinhos.
Nos concertos mais agitados, aliás em todos os concertos, a localização é importante. Tendencialmente, vai haver mais molho e competição pelo espaço quanto mais perto do palco se está. É aí que estão os fãs hardocre, e os gajos mais mamados.
Quando a coisa começa a aquecer, o mais perigoso não são os gajos grandes. São os de porte médio, mais móveis, que cobrem mais área enquanto saltam ou dançam freneticamente. Um gajo grande é chato porque tapa a visão, mas também não tem, habitualmente, a mesma capacidade de deslocação. Ontem, o único golpe que recebi foi de uma gaja que achou boa ideia estar no meio da confusão com uma mala gigante, tipo mochila de campismo, e me deu com ela nas costelas.
A meio de um concerto, a questão da localização está mais ou menos resolvida por si. A malta já se organizou, já encontrou o sítio onde está confortável. Depois há, claro, os fluxos migratórios, hordas de bárbaros que, de repente, vêm de algum lado em filinha pirilau. Geram alguma perturbação, mas normalmente seguem viagem. Já me irrita bastante aqueles que parecem vir a passar e depois param, bem à nossa frente. Mas nada que uma pisadela não resolva (tipo Jorge Costa a marcar o João Pinto).
Os putos de agora são bastante mais livres do que nós éramos. Mais homogéneos, é certo, mas fazem mais cenas.
Quando nós éramos putos, 80% era controlado. Tínhamos amigos ou conhecidos que faziam surf, andavam de skate, eram cool, etc. Nós não, fazíamos parte da imensa massa de nerds que eram a grande maioria da nossa geração. A diferença é que os putos de agora, com toda a liberdade dada pelos paizinhos, e aquela arrogância da juventude de quem considera ter direito a tudo, fazem tudo aquilo que os poucos gajos cool da nossa geração faziam: surf, drogas, moches e sexo antes do tempo (e com gajas que se sabem vestir, ao contrário do antigamente). Os putos de hoje foram ensinados a olhar esses meios cool dos nossos tempos como alternativos e adoptarem-nos todos, porque todos querem ser alternativos. A diferença é que na nossa geração a maioria não o fazia, era tenrinha, batia píveas em casa à espera de perder a virgindade, apanhava bezanas ridículas e nunca seria apanhado em algo tão 'in' como um moche num concerto. A nossa geração estava na casa de banho a vomitar a garrafa de vinho do porto.
Havia um tipo fascinante à minha frente. Com um penteado a linhas rectas, parecia um macaco. Dançava freneticamente sem deixar de ocupar o mesmo espaço (obrigado por não me teres pisado vez nenhuma). E foi a prova de que os homens conseguem fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo: este conseguiu enrolar uma ganza enquanto saltava.
Parecia ser um bocado o cromito do grupo. É claro que era ele o enrolador designado. Deve ter jeito para montar merdas e deve perceber de máquinas. Deve ser também o condutor do grupo e nunca fica com qualquer gaja.
Um tipo atrás de mim, que decidiu mandar vir com a generosidade do público em termos de palmas. "Também já estão a exagerar. Se batem palmas por tudo e por nada eles não se esforçam, ainda não fizeram nada". Este é o gajo que leva lençóis para o estádio da luz, e que utiliza sempre a expressão "nem sabem marcar um canto, caralho".
Momento alto da noite: quando o alucinado vocalista, vestido como um morcego azul-cueca, apresentou Emir Kusturica como "Manuel Rui Costa". Muito bom, também, o facto de haver uma banda que incentiva o seu público a gritar "fuck you MTV" e "Fuck USA".
É muito fácil um tipo ficar com ar ridículo durante um concerto do Kusturica. Quando a música está a bombar e de repente desacelera, vi por ali muito macho aos semi-saltinhos, com as mãozinhas no ar, a bater palminhas.
Dúvida da noite: quando os gajos começam a puxar gajas para cima do palco, uma dúvida se instala por entre os milhares de presentes: mas aquele maluca é a Rita Blanco?
Ainda agora não sei. O vocalista tira a camisola e incentiva as moças a imitarem, só esta (Rita Blanco?) o acompanha. E estava claramente em baixo de forma, completamente louca com as banhitas aos saltos. A emoção de estar a ver uma carreira terminar num único instante de loucura. Seria ela?
As cervejas e as ganzas mudam completamente um concerto. Aliás, a minha grande vitória foi ter-me aguentado como um touro. Estava com um grupo que fazia ganzas com a velocidade de um space shuttle alucinado. Não tenho ido aos treinos, mas não queria fazer fraca figura. E, para meu orgulho, aguentei-me à bronca. Quem sabe nunca esquece. É como andar de bicicleta, mas bastante mais divertido.
Chegado a casa, o incrível ataque dos munchies. A dúvida perante comer ou não uma fatia de fiambre. E depois a sensação de que: "eh pá, tás mocado e é fiambre. o que raio pode correr mal aqui?". Indeed. Com a fomeca da ganza, aquele fiambrinho foi um festival, como milhares de pequenos canhões a detonarem confetis dentro da boca. Foi um massacre de prazer.
Foi o meu terceiro concerto desta banda. E sim, voltou a valer a pena.
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6 comentários:
Do me a favor...A não ser que tejas a fazer poblicidade à TMN, screve "mosh" com S, sim?
E escreve-se Metallica,imbecil.
e publicidade com "u" :D mm se fizermos a dita à TMN
é o que dá escrever a pressa x) aquilo foi um typo x) da mesma maneira que falta um E em "screve" xD
Grammar Nazis por aqui?
bom! aliás, muito bom!
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