Ora aí está a terceira marca relevante dos anos de José Sócrates. Depois de tudo, quando finalmente reconhecer a sua incapacidade para governar e, qual Nero, enlouquecer tocando Lira, há três coisas positivas deixadas por este senhor e o seu bando de malfeitores, que ficarão na história: o Simplex - que infelizmente ficou coxo porque a simplificação de procedimentos não foi acompanhada pela respectiva redução de pessoal - , a legalização do aborto e o casamento bicha.
O Simplex poderia ter sido decisivo e ter um impacto em larga escala, mas é positivo. A legalização do aborto foi, para mim, o grande acontecimento, porque resolve um problema de saúde pública e afasta o puritanismo que ainda grassava no nosso país. Esta história do casório é mais folclórica e simbólica do que realmente importante. Mas é um símbolo poderoso e bem vindo, e a democracia também se faz disso.
É pouco para quase 6 anos de um governo de "esquerda".
Quanto ao Cavaco e ao seu discurso alucinado, parece-me que tudo tem de ser visto à luz das próximas eleições presidenciais. Estou convicto que ele, caso não houvesse eleições em breve, teria vetado, mesmo que depois fosse ultrapassado. É óbvio que, agora, era lixado fazer isso. Era dar à esquerda um Cavaco Bicho-Papão, ultra-conservador, etc, etc. No fundo, aquilo que ele é, mas que podia levar a que a esquerda fosse forçada a escolher um "campeão" para o derrotar, naturalmente Manuel Alegre. Não seria isso que me levaria a votar numa fraude, mas muita gente o faria.
Quanto a mais uma lamentável tentativa do Amarelo de explicar a sua teoria pela qual todos os bons rapazes de esquerda têm de votar Alegre, creio que estamos conversados. Supostamente representa a "ala esquerda do PS", algo que, manifestamente não existe. E, sobretudo, ninguém pode ser disso símbolo e, no discurso de candidatura, mandar um forte abraço e um beijo molhado a José Sócrates.
São escolhas. E as escolhas têm consequências.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Lembro-me da Clara Ferreira Alves (uma pedante do pior e uma daquelas gajas que quase dou graças existirem pelo prazer que me dá odiá-la, de resto) quando o Sócrates foi eleito pela primeira vez dizendo algo do género "Sócrates vai fazer o que o país exige no momento: que seja um primeiro ministro com ideais de esquerda a fazer uma política de direita".
De facto, no plano económico, não se vislumbra onde está o esquerdismo do PS (o próprio Guterres, durante os 6 meses, a única medida verdadeiramente socialista foi o rendimento mínimo garantido). E ser de esquerda significa algo mais do que ter umas ideias alternativas no plano dos costumes.
(quis dizer 6 anos, quanto ao Guterres, evidentemente)
Suponho que os socialistas que têm criticado a deriva liberal do seu partido, como o João Cravinho, o António Arnaut, o João Proença, a Ana Gomes, o Paulo Pedroso, a Rosário Gama, o Ferro Rodrigues, a Helena Roseta, o João Ferreira do Amaral, o Vera Jardim, o Manuel Alegre, o Nuno David e o próprio Sampaio, sejam todos eles meros hologramas.
A Ana Gomes não devia contar nem para fazer estrume.
E o Alegre pode-se considerar um holograma de seriedade.
A Roseta só escapa mesmo de raspelinhas, depois de ter pedido que as mulheres lisboetas deviam votar nela só pelo facto de ser mulher.
*depois de ter pedido às mulheres.
O sistema gera a sua própria pseudo-antítese domesticada. O enfants terribles têm uma utilidade em qualquer partido ou regime que muitos ignoram - criticam, normalmente de forma inconsequente e sem grandes ideias assentes sobre como implementar os seus ideais (se tivessem um rumo corriam o risco de se tornar perigosos para o poder), de modo a permitir ao poder fazer um brilharete a desmontar as críticas. Mesmo que não o saibam, cumprem esse papel na perfeição. Estão de resto enfiados na engrenagem até às narinas.
Talvez não sejam hologramas mas bonecos e bonecas insufláveis.
Enviar um comentário