quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Serge

Ainda não fui ver, mas estreou na semana passada um dos filmes pelo qual mais aguardei, a biografia de Serge Gainsbourg.
Já o disse muitas vezes, aliás, digo-o sempre que posso: Gainsbourg foi somente o maior génio musical desde Beethoven.
Ponto.
Para muitos, Serge nunca foi mais que aquela figura vagamente alcoolizada, rodeado de mulheres bonitas. E sim, isso faz parte do mito de Serge e completa toda a sua fascinante personagem. Mas nada disso importaria se não fosse a música. Diz-se de Bowie que é "o camaleão", devido às muitas fases e mutações da sua carreira, mas perante Gainsbourg Bowie seria um contabilista conservador e aborrecido. A melhor fase de Serge foi de meio dos anos 60 a meio dos anos 70, mas produziu até aos anos 90. Fez de tudo, e fez sempre bem. Foi percursor de tudo, e as suas influências podem, hoje, ver-se em todo o lado. E é por isso que fico feliz por haver este filme. Porque pode expor a fabulosa música de Serge a gente que nunca o conheceu, que nunca lhe deu uma oportunidade, que com ele nunca se cruzou.
Deixo-vos aqui um vídeo retirado do seu melhor disco "Melody Nelson", com ele e a então deslumbrante ninfeta Jane Birkin, e um excerto de uma entrevista que Birkin deu, este mês, ao Jornal de Notícias.

Jornal de Notícias: Na sua vida pessoal, como encara a memória de Serge? Costuma ouvir os discos dele, por exemplo?
Jane Birkin: Não, nunca olho para trás. Tive o melhor do Serge. Mas continuo a cantar as suas canções. Também me conhecem por isso. As canções mais interessantes são as que ele escreveu quando o deixei.
JN: Porque diz isso?
JB: É verdade, os três últimos discos dele são o melhor período. Como o "L'amour des feintes", que escreveu três meses antes de morrer e em que desenhou o meu rosto na capa. Telefonou-me na véspera de morrer. E comprou-me um anel três dias antes de morrer. Abençoo-o por isso, por manter essa amizade comigo até morrer.
JN: Qual foi a verdadeira influência dele na música francesa?
JB: Há um antes e um depois de Serge Gainsbourg. Mudou a música francesa de uma forma radical. Há livros sobre ele. Na escola, a música dele é estudada. Ele revolucionou a língua francesa. As pessoas têm saudades dele porque ele dizia exactamente o que pensava. E era uma pessoa tão querida. Não há hoje ninguém como ele.

Jornal do incrível


Não me espanta. José Sócrates é um cadáver político há um ano e ainda por aí anda....

Pergunta inocente

Onde anda o camarada Sócrates?..........

A bola é quadrada

Se a política nacional fosse futebol, o último ano teria sido um jogo não muito bem jogado, mas muito interessante tacticamente.
Senão vejamos.
Passos Coelho é eleito, reforça o PSD. Sócrates ficou à rasca.
Depois é o congresso do PSD, que naturalmente deu a Passos Coelho um novo "elan". Sócrates fica pensativo, e um pouco mais apertado.
Repois rebenta a bronca das contas públicas. Sócrates fica apertado, Passos Coelho finge-se de responsável e assume os PEC I e II. Passos Coelho dispara nas sondagens, digamos que, nessa altura, estava "por cima no jogo".
Depois, inchado e demasiado confiante qual Jorge Jesus, dá uma de Carlos Queiroz e faz uma substituição suicida. A revisão constitucional foi o Paulo Torres de Passos Coelho.
Deu o flanco a Sócrates. Este percebeu que o flanco esquerdo do adversário estava desguarnecido, e canalizou por aí todos os seus ataques, através do extremo "I love Estado Social".
E eis que, de repente, Passos Coelho teve, finalmente, a sorte do jogo, na forma de um penalti infantil concedido pela equipa adversária.
Por outras palavras, a situação actual, com o rompimento das negociações para o OE, é a melhor coisa que lhe podia ter acontecido.
Este é o raciocínio:
Eu acho que Passos Coelho se vai abster e, assim, viabilizar este péssimo orçamento. Mas já conseguiu uma coisa, não se sujar muito e passar por responsável.
Depois do ultimato a Sócrates, para o qual este cagou de alto, Passos Coelho estava desesperado por uma única coisa: como ceder sem perder a face. E a intransigência do PS deu-lhe a escapatória perfeita.
Passos Coelho vai abster-se. Vai dizer: "vou ser responsável e evitar que venha para aí o FMI. Fui responsável porque quis negociar, fiz propostas concretas e o Governo foi irredutível e não quis negociar, não quis melhorar este mau orçamento. Mas este não é apenas um mau orçamento, é um orçamento da exclusiva responsabilidade do PS, e por ele deverá ser julgado".
É perfeito.
Não passa por irresponsável e pode fingir que tentou melhorar o documento, e que o PS não deixou. E mais, no dia a seguir à aprovação do orçamento, tem caminho livre para malhar forte e feio no PS, uma vez que não está vinculado ao orçamento, o que aconteceria se votasse a favor, após acordo com Sócrates.
É perfeito. De facto, neste caso, Passos Coelho teve mais sorte que juízo.
E é com este presente táctico que o PSD pode ganhar o jogo, embora pouco tenha feito para o merecer.
Sócrates, desesperado, de cabeça perdida e com jogadores a menos, meteu a mão à bola dentro da área.
Agora é só Passos Coelho converter o penalti.

Quem quer que ganhe, perde o país.
Mas, se isto não fosse gravíssimo, seria um jogo muito interessante.



                                                                                                        Deste Sócrates eu gosto.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O paradoxo presidencial

Há um paradoxo à volta destas eleições presidenciais: Alegre só daria um bom presidente se o PS, partido a que pertence, não estivesse no poder.
Eu explico, apesar de ser bastante simples.
Alegre é um lírico, numa altura em que falta lirismo na política. O problema dele não é esse: é ser um cobarde e um hipócrita. E não há pessoa menos lírica e mais realpolitik do que Sócrates, que era capaz de vender a sua própria mãe para impingir uns Magalhães de exportação.
Alegre fala contra "os poderosos da Europa" e contra os "especuladores internacionais". Sócrates age como um lacaio de Merkel e da Goldman Sachs.
Há, obviamente, um fosso total entre as ideologias políticas de Alegre e Sócrates. O que me faria claramente votar em Alegre, se ele fosse consequente ou mais do que um "idiota útil". Vai ser muito curioso ver a campanha de Alegre. Ver os discursos - em que veremos Louçã a aplaudir ferverosamente se ele soltar a sua verve esquerdista, e com os jornalistas a perguntar a Sócrates se ele se sente atingido pelos recados de Alegre - , e ver como Louçã e Sócrates, e como os jovens membros das máquinas partidárias de BE e PS, se vão dar. Promete ser delicioso, não fosse a aura de fim de festa que, inevitavelmente, vai invadir essa mesma campanha.

Alegre tentou, há uns meses atrás, quando anunciou a sua candidatura, fazer de Cavaco um perigoso beligerante. Dizia ele que "o actual presidente tem de entender que o papel do presidente não é governar, nem ser contra-poder". Ora o que acontece é que se há crítica que se pode fazer a Cavaco é que ele não fez nada, rien, a ponta de um corno, durante o seu mandato. Não foi contra-poder. Deixou Sócrates governar como bem entendeu. Mais, suportou de Sócrates todas as tropelias do próprio e da sua incrível entourage xuxa. Foi tolerante e institucional para além de todo o bom-senso. Escondeu-se. E Alegre ficou sem argumento, até por grande incompetência própria.
Depois, Alegre ultimamente tem falado pouco. Porquê? Porque ao falar agora, e ser consequente com as suas opiniões (coisa que nunca foi), teria de se colocar contra Sócrates e este OE absolutamente assassino, num momento em que o PS e o Governo estão frágeis, pelo que qualquer discordância pública seria vista como uma facada nas costas, sobretudo num partido tão sensível à crítica.
A verdade é que, das poucas vezes que tem falado, - e procurando acentuar o seu lado esquerdista - diz sempre que "se eu fosse presidente, não permitiria isto, não permitiria aquilo, o grande capital, etc, etc". A verdade é que, se ele fosse eleito e fizesse metade do que promete, seria um pesadelo para Sócrates. A ideologia deste último é, claro, liberal, e muito mais próxima da de Cavaco do que da de Alegre.
A verdade é que, se Sócrates fez tudo o que bem lhe apeteceu com Cavaco na presidência, para que raio quereria Alegre lá? Resposta: não quer. Nem pintado. Era só a pior coisa que lhe podia acontecer, a seguir ao Diogo Infante decidir emigrar.
Alegre, neste seu estilo pseudo-a mim ninguém me cala e pseudo-interventivo, só seria útil numa circunstância: se o PSD estivesse no Governo.
É este o paradoxo: Sócrates apoia um candidato que só lhe seria útil se ele próprio não estivesse no poder. E apoia Alegre quando, em termos ideológicos, é puro laranja e cavaquista.

É claro que Alegre, se fosse eleito, não iria realmente incomodar Sócrates. Ia meter a viola no saco, como tem feito ao longo dos últimos 10 anos no PS. Mas seria um filão a explorar, depois de se armar em esquerdalho e forte, sabendo todos nós o que teve ele de prometer a Sócrates para ter o seu apoio.

Posto isto, continuo sem saber em quem votar. E o cabrão do Vieira que não consegue as assinaturas...

Boçal

E pronto, habemos Cavaco.
Eu achava que "notícia" era algo até então não conhecido, ou surpreendente, ou coisa assim. Apesar disso, os jornais da noite abriram com a "notícia" bombástica: Cavaco é candidato à Presidência da República.
Já nem vou falar da aberração que é ter sido Marcelo Rebelo de Sousa a anunciar o anúncio. Mas isto foi uma tristeza.
O discurso pobre. Sem chama. Sem imaginação. Sem mundo.
No fundo, tudo aquilo que Cavaco é, por mais que se esforce em sentido contrário.
O momento actual é o melhor momento possível para Cavaco ganhar estas eleições, e à primeira volta. Num panorama dominado por um Sócrates trafulha e por um Passos Coelho saltarico e imberbe, Cavaco pode tirar partido do seu maior capital: a seriedade e honestidade que os portugueses insistem em ver na sua figura.
Para o tuga, basta estar calado para ser sério, e competente. Foi assim que Cavaco ganhou todas as eleições, de facto.
Em terra de cegos, quem tem meio olho vesgo é rei.
Cavaco vai ganhar, à grande e à vontade. E isso diz tanto do nosso país como da miserável concorrência que se lhe apresenta.

...e o Sporting é isto

"Salomão, por seu turno, sofreu um traumatismo no joelho esquerdo na sequência de um choque com um banco de suplentes." A BOLA, 25-10-2010.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Feira Popular

Quando era pequeno, adorava ir à Feira Popular.


Não havia hipermercados nem Toys R Us, e o espaço de brincadeira mais sofisticado era o salão de jogos, em que durante muito tempo não nos deixavam entrar, por sermos muito pequenos e por não termos dinheiro.
Vivi até aos 20 e tais em Carcavelos, o melhor subúrbio do mundo. Vinha a Lisboa passar o fim de semana com o meu pai, todas as semanas. Mas só ia à Feira Popular aí umas 3 vezes por ano. Feira Popular, para mim, era sinónimo de frango assado, algodão doce, pipocas, e brincadeiras. Só uma vez andei na Montanha Russa, tinha medo, medo que se confirmou quando lá andei, para nunca mais. Gostava muito do comboio fantasma, e uma vez fui com o meu primo João, que entrou com uma espada de brincar e saiu sem ela. Andava nos póneis sedados e pachorrentos, que andavam aborrecidamente à volta. Andava nos carrosséis, naqueles que eram carros e a gente ia lá dentro. Andava nos carrinhos de choque e jogava nas máquinas de luta, e aí não era preciso sermos grandes para jogar.
Eu sei que os tempos são outros. Que agora há playstations e "funcenters" por toda a parte. Mas, ainda assim, acho que havia espaço para a Feira Popular, para os jantares de grupo, para aquela atmosfera burlesca e decadente, bem no meio da nossa querida cidade. Para esse aterrador resquício das brumas dos anos 80, o "Poço da Morte".
A Feira Popular está agora como estas imagens, sacadas ao acaso da net, demonstram. 
Como se recordam, a Feira Popular foi encerrada como contrapartida para o Casino de Lisboa. Depois o Casino foi para a Expo, depois de estar previsto para o Parque Mayer, outro espaço de outros tempos que reclama atenção. E, no meio de tudo isto, a Feira Popular foi esquecida. Até o seu nome é um anacronismo, um delírio de um tempo em que Popular, e Povo, não eram palavras vãs e 'démodés'. 
Está assim, ao abandono. E, no meio de tudo isto, alguém encheu os bolsos. E ninguém diz nada, ninguém faz nada, ninguém vai preso, ninguém é responsabilizado.
Foi o Santana, podia ter sido qualquer um.
Lembrei-me da Feira Popular porque ela é um símbolo perfeito do que este sistema partidário tem feito ao nosso país. Tal como a Feira Popular, também o pais está abandonado, a saque, sugado de tudo o que ainda tinha.
E alguns mais gordos, bem mais gordos...

Jogo de Espelhos

A malta anda confusa, e não é para menos.
Veja-se o comportamento do último par romântico da política nacional, José Sócrates e Pedro Passos Coelho.
O primeiro, depois de anos a favorecer os privados e a desmantelar o Estado Social, faz deste a sua bandeira. Depois de anos a esbanjar a nossa guita, em favores aos muitos amigos xuxas/maçons que controlam este país, de repente tornou-se no Mr. Scrooge, avarento e resmungão. Em 2009, em plena crise e ano de 3 eleições, deu o maior aumento da década aos funcionários públicos, defendendo uma política expansionista e classificando de louca Manuela Ferreira Leite, que pregava equilíbrio e austeridade. E agora faz o que criticava, sendo o melhor exemplo o corte das deduções fiscais dos PPR, defendido há um ano por Louçã e na altura ferozmente rejeitado por Sócrates.
Por outro lado, Passos Coelho passou tempo todo - tirando aquele em que ia dando tiros nos pés, nos braços e na própria tola - a pedir mais austeridade. A dizer - e com razão - que o Governo não fazia qualquer consolidação das contas públicas, que era preciso cortar no investimento, TGV's, etc. Agora que Sócrates decidiu corrigir toda a sua incompetência com um corte a direito, que afecta sobretudo os mais pobres, Passos Coelho já não gosta, diz que é austeridade a mais.
A verdade é que, em teoria, está tudo errado. É normal e tradicional no PSD que peça consolidação, menos investimento. E é normal que o PS, supostamente de esquerda, defenda mais gastos do Estado, mais investimento, mais apoios sociais.
O problema é que, devido a necessidades e tácticas eleitorais, as prioridades mudaram, e está tudo misturado, quando não está mesmo ao contrário.
Na verdade, Passos Coelho e José Sócrates são Jekyll e Hide, duas faces da mesma moeda, de "O Médico e o Monstro". Infelizmente nenhum é médico para curar este país.
Infelizmente ambos são o monstro. 

sábado, 23 de outubro de 2010

O Disco da Minha Vida XII

Bom, isto agora torna-se algo desonesto. Porque tenho de escolher um disco entre 3 ou 4, fantásticos, que considero estarem todos ao mesmo nível.

O disco de hoje é "The Cult of Ray", de Frank Black.
Frank Black, ou Black Francis, como quiserem (o seu nome verdadeiro até é Charles), é, toda a gente sabe, o antigo vocalista e principal compositor dos Pixies.
Para mim, como para muita gente da minha geração, os Pixies bateram demasiado tarde, para muita malta já depois de eles acabarem a sua primeira encarnação. Mas foi bem a tempo de deixar uma marca que, provavelmente, não desaparecerá durante as nossas vidas de amantes de música.
Mas esta não é uma mensagem sobre os Pixies. É uma tentativa de corrigir uma das grandes injustiças da música contemporânea. É que, mesmo para os fãs de Pixies, Frank Black a solo não existe. É mau ou, na melhor das hipóteses, é irrelevante. E isso é errado. Como se o tipo que escreveu todas as grandes músicas dos Pixies, de repente, deixasse de perceber alguma coisa de música. As if...
Foi o Amarelo quem me mostrou o Frank Black, depois de já ter sido ele a mostrar-me os Pixies. Em ambos os casos, estaca céptico, mas rapidamente a coisa mudou. Com Black, ele mostrou-me o seu primeiro disco a solo, homónimo, de 1993, menos de dois anos depois de os Pixies terem editado o derradeiro "Trompe le Monde".
A voz continuava lá. Aquela voz de eterno adolescente, entre o romântico freak e o rebelde alucinado. E isto vindo de um monstro de 100 kilos, gordo e careca, sem pinta absolutamente nenhuma.
E para além da voz, continuava lá o rock. O bom e velho rock.
Ao longo dos discos seguintes, perto de 15, foi mudando e apurando o som, que no início era relativamente semelhante ao que fizera antes. Em termos muito gerais, e fazendo a inevitável comparação com os Pixies, teremos de dizer que estes eram um som mais urbano, se por urbano entendermos uma cave rock num qualquer outro planeta. A solo, Black tem uma estrutura mais clássica de canção, e mais ligada às raízes do rock. Teve uma fase meio country, teve sim senhor, e foi bem boa. Teve outra mais pop, igualmente boa. Mas a sua música teve sempre duas coisas que estiveram sempre lá, misturadas com as outras coisas: o rock, sempre, e a grande capacidade para fazer grandes canções, feitas de adrenalina e de uma grande capacidade aditiva.
Escolhi "The Cult of Ray" como podia ter escolhido o grande "Pistolero", "Dog ín the sand" ou "Teenager of the ear". Podem agarrar num disco qualquer dele e só muito dificilmente não acertam com um grande disco.
Vi-o ao vivo, com a sua banda "The Catholics", há uma data de anos, na Aula Magna. Fui arrastado pelo malogrado Amarelo, até porque na altura não conhecia bem o seu trabalho a solo. Numa sala bem composta, o público foi bombardeado com um grande concerto,  com três guitarras agressivas em palco, e nenhum baixo. A sala foi reagindo entre o entusiasmo e o espanto, para só ir ao rubro quando a banda tocou duas ou três músicas dos Pixies, nomeadamente "Mr. Grieves", que ia levando a casa abaixo.
Talvez como vingança por tudo querer ouvir os Pixies e não a sua nova banda, a verdade é que passei uma semana a ouvir mal, com um zumbido resistente nos ouvidos.
E ele é que tinha razão, e só vim a perceber mais tarde.

Deixo-vos uma das melhores músicas de "The Cult of Ray", curiosamente uma das músicas mais lentas e "baladeiras" que alguma vez fez. Não é muito representativa do seu estilo, mas é representativa do seu talento.

Dá-lhe, Charles.  

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Clueless

Imagem que um tipo vai ser pai dentro de um mês. E que a sua mulher tem um furo no pneu do carro, nas redondezas de onde esse tipo trabalha. E que liga a esse tipo para a ir desenrascar. E esse tipo tem o telemóvel no bolso do casaco, nas costas da cadeira. E só vê uma hora depois…


E que este tipo anda a garantir há bué à sua esposa que “não precisas de mais nenhum número de emergência, quando for hora ligas-me a mim e pronto”.

E como raio vai esse ser hipotético, nesta situação puramente hipotética, defender-se das várias acusações que sobre si pendem, neste momento?...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

LOST

Já reparou que, aquando da apresentação daquela bela merda chamada Orçamento do Estado para 2011, foi Teixeira dos Santos, o cabeça de giz, a levar com as bolas na cabeça?
Já reparou que, quando foi hora de reagir às propostas do PSD para o dito Orçamento, quem apareceu foi esse bonifrate chamado Pedro Silva Pereira?

Se reparar bem, a última vez que o culpado desta merda toda apareceu foi no fim de semana, numa "iniciativa cívica de defesa da escola pública". Que por acaso era uma iniciativa "cívica" pejada de dirigentes e militantes socialistas, mascarados de sociedade civil.

É sempre bom ver que, em momentos de crise, há uma liderança presente.

Duas palavras apenas



                                                                         Liga Europa.

Digamos que aquela segunda linha mostra que o Google pensa como eu

terça-feira, 19 de outubro de 2010

The Specials

Não, não me fui embora. Ainda aqui ando.
Mas o trabalho anda a dar cabo de mim. Digamos que o Orçamento do Estado me está a lixar ainda mais que vocês, o que é bastante.
Há muita coisa para ser dizer, e será dita, por isso continuem a espreitar o que por cá se passa.

Entretanto, de algures entre a Jamaica e Coventry, a minha música preferida de uma das minhas bandas favoritas.

Enjoy e até já.

Allez Les Bleus

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ooops

"Ora aí vai a economia, o Estado Social, as famílias"....

Lolocausto

"Este Orçamento protege o emprego e o Estado Social" - José Sócrates.

domingo, 17 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O GOS

As novidades do Grande Orçamento Socialista (GOS) começam a ser divulgadas.
E é bastante fácil de resumir o que traz: impostos, mais impostos e....bem, mais impostos.

Vai tudo a eito. Sobe o IVA nos livros, esse produto de luxo. No leite com chocolate ou com cálcio, esse luxo. Aumenta-se também a tributação dos prémios literários, essa instituição burguesa. E aumenta-se até, imagine-se, os prémios associados às medalhas conquistas pelos nossos deputados paralímpicos, esses cabrões desses mamões que andam a dar cabo do défice. O grande camarada Sócrates conseguiu ainda aumentar o IVA sobre as flores e plantas ornamentais...como os bonsais.

Neste GOS, tudo é um luxo, e taxado como tal.

O Grande Camarada Sócrates, esse génio da política, da engenharia e do inglês técnico, conseguiu o que se pensava impossível: instalar em Portugal a cartilha económica da Albânia ou da Roménia nos anos 80, em que até o leite das criancinhas era um luxo dos ricos decadentes. E nem precisou de instalar o tenebroso comunismo para o conseguir.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Sugestão

Para todos aqueles, como eu, que se sentem órfãos dos saudosos Ornatos Violeta, anda por aí uma banda de Braga que é um mimo.

São os Peixe:Avião, acabam de lançar o seu segundo disco, Madrugada, em edição de autor. Conheço-os há pouco, mas estou francamente entusiasmado.

Vá lá malta, há quanto tempo não compram um cd? Ainda por cima, este não dá para sacar da net (ainda) e está a 12 euros na Fnac!

Que sa foda a austeridade!

Muito agradecido

Devo confessar-vos, cheio de alegria, que fui agradavelmente surpreendido à vossa reacção ao meu post "The Fear", em que confessei as minhas angústrias e desvendei parte da minha estratégia para lidar com a maior mudança da minha vida: uma xavala que aí vem a caminho (não é esta que aqui está ao lado, ou a caçadeira que já encomendei não chegaria para manter a harmonia no meu lar).

Surpreendido porque não esperava que alguém tivesse paciência para ler mensagens daquele tamanho, nesta era de feisseboos e twiters, essa invenção idiota, a versão modernaça e intelectual do piropo do trolha em cima do andaime.

E surpreendido porque, graças a vós, descobri que não estou sozinho.

Estava à espera de reacções cínicas, como muitas que recebi. Coisas tipo "isso dizes tu agora, depois vais ver que também tu vais ser igual", como se não houvesse mais que uma maneira de fazer as coisas, e várias maneiras boas, apenas diferentes.

Pode ser, é um facto. Sei que não vou poder, como agora, desfrutar de todos os meus fabulosos prazeres egoístas (e aqui incluo os que envolvem a minha mulher) sempre que me apetecer. Sei que haverá um ser pelo qual serei responsável, e isso é um peso duro de carregar, por mais alegria que me traga. Sei que, neste momento, não sei nada do que será. Mas sei que vou continuar a ser uma pessoa inteligente, humana, lúcida e viva, sobretudo viva. E não quero perder isso por nada deste mundo.

Posso vir a transformar-me numa amiba babada, que fica sem assunto a não ser a criança. Posso não conseguir vencer o mundo e convencer a criança de que prendas é no dia de anos e no Natal, e não a cada ida ao supermercado. Posso ficar igual a todos os que vi embrutecerem que nem calhaus suaves, quando lhes nasceram os filhos.

Mas mais vale entrar forte e perder, do que entrar derrotado.

Obrigado pela força.

Um abraço do vosso amigo bastardo.

Por falar em babies...

...deixo-vos este docinho. Da senhora Nancy Sinatra que, ao lado do absolutamente genial Lee Hazlewood (comprem tudo o que virem dele, é sempre bom), fez uma data de discos fantásticos.

The Fear

Meus amigos, o assunto é sério.


Quero partilhar convosco um episódio que me transtornou profundamente.

Estava eu preparado para uma bela tarde de copos com os amigos, e saiu-me, pela primeira vez, um verdadeiro banho de imersão na grande experiência da paternidade. E foi mau. Muito mau. E isto é um bocado preocupante para um tipo que está a um mês de ser pai.

Eu explico.

Recebi um inocente convite de um casal amigo, sendo que a senhora, minha amiga de muito longa data, está grávida: “venham cá a casa no sábado à tarde, aproveitam para ver o Benfica”. Parecia-me bem. Para além do casal anfitrião, ia outro casal amigo, que tem um filho de meses. E eventualmente mais um ou dois dos nossos amigos, sem filharada.

Ora muito bem. O nosso grupo tem uma longa tradição de lanches ajantarados, bem regados e bem fumados, feitos de piadolas e boa disposição. Com o passar do tempo, os encontros são mais raros, o que os torna ainda mais preciosos, mas lá vão acontecendo.

Ora o que eu previ, e aquilo por que eu ansiava, acabou por se transformar numa aterradora experiência sociológica. Eu esperava uma boa tarde de um bom convívio, uns copos, umas ganzas, com sorte ver o meu Benfica ganhar, ver a malta, divertir-me, e à meia-noite estar em casa.

Em vez disso, entrei na puta da Kidzania.

Chegado lá, duas crianças inesperadas, de chofre: o sobrinho da minha amiga anfitriã, e a filha de um casal amigo deles, por acaso bastante simpáticos - que eu mal conhecia e que não eram frequentadores destas cóbóiadas. Estava também o tal bebé de meses, dos meus amigos. Chegou ainda, mais tarde, outra amiga, também armada com a sua criança, sendo que eu ansiava era pela chegada do marido dela, meu amigo do peito e grande bebedor e benfiquista. Para além disto, duas crianças em gestação, a da minha senhora e a da anfitriã.

Durante algum tempo, fui conseguindo ignorar a estranheza daquilo. Fui bebendo uns copitos, sendo fracamente acompanhado pelos outros machos do local. Mas, desde o princípio, uma coisa ficou absolutamente clara para mim: eu estava no território dos putos, e não mandava um caralho naquela casa. Mais, fui descobrindo que os convidados daquela tardinha foram escolhidos a dedo. O critério foi muito simples: a minha querida amiga convidou todos os amigos que têm filhos, ou que estão prestes a tê-los.

Devo explicar que esta cara amiga pura e simplesmente pirou, enlouqueceu, desde que ficou grávida. Conheço-a desde os 5 anos de idade, e passou a cumprimentar-me no Messenger com um “olá, a tua mulher vai quando à consulta?”. Perdão? What the fuck?! Atão e o “estás bem, o que tens feito, tens escrito, vais sair?”, etc, etc. Desapareceu. Na vida dela, e para ela aparentemente também na minha vida, tudo deixou de existir, excepto o simples facto de virem crianças a caminho. Deixámos de ser indivíduos, somos apenas geradores de seres que hão de chegar. Esta senhora está de tal forma eufórica que tudo o resto deixou de existir. Chegou ao cúmulo de sugerir que as pessoas chegassem mais cedo, “para irmos com as crianças ao parque”. Foda-se, só amarrado. Cheguei pouco antes do Benfica, claro.

Depois, a tentar ver o meu querido clube, era um corropio de criançada à frente da TV (ok, nessa altura eram apenas duas crianças, mas eram mexidas). Eu a ver o Saviola cheio de estilo a encaminhar-se para a baliza para falhar mais um golo e…um puto mete-se à frente, a esfregar com as mãos no ecrã, distraindo El Conejo da jogada e prolongando a minha agonia. E eu, de copo de vinho na mão, a pensar no meu sofazinho de casa, no meu barrilinho de cerveja no frigorífico, na perspectiva de ver o Glorioso descansadinho, a ganhar ao Marítimo. Era impossível. Quando o jogo lá terminou (1-0, golo do pequeno grande Coentrão), já passava das 9 horas. Levantei-me, enchi o copito, e fui papar, já que estava com a larica. Até que me é comunicado, com pompa e circunstância, que “agora são as crianças, nós comemos a seguir”. Oh que caralho, eu não percebo nada disto, mas aquela hora não é um bocado tardia para as crianças paparem? Porque raio não paparam quando estava a dar a bola, em vez de andarem pela sala a mandar merdas ao chão e a incomodar um sócio que sofria?

Depois percebi. Não paparam antes porque isso retiraria à minha anfitriã a possibilidade de me mandar a bela sentença: “as prioridades são elas. Vai-te habituando”. Como se fosse uma mãe de 7 filhos, caralho! Eu vou ter um filho antes dela!

Durante toda aquela tarde e noite fui observado. Eu era um ratinho de laboratório, encurralado numa experiência macabra. Senti-me sempre observado, com esta cara amiga a registar todas as minhas reacções perante as crianças. Que oscilaram entre o desprezo, a ignorância e talvez 30 segundos de genuíno interesse, isto em perto de 5 horas de convívio.

Atenção, ela não fez isto para me lixar, para me entalar, para me desagradar. Fê-lo porque está de tal forma excitada com a perspectiva de ter um filho que quis antecipar a experiência. Quis antecipar o seu sonho, o ter os seus amigos todos reunidos agora já na fase seguinte, com todos os nossos putos à volta. Creio que ela, secretamente, tinha a expectativa de que eu, de alguma forma, tivesse já mudado, e tivesse abraçado aquela experiência mística de culto da maternidade, como um velho hippie depois de 15 horas a ouvir os Grateful Dead. Mas se há coisa que odeio é obrigarem-me a fazer seja o que for.

Foi a primeira vez que, no meu grupo de amigos, um encontro nosso viu alterados todos os seus códigos de comunicação. As caralhadas foram banidas; os cigarros foram ao frio; a comida fora de horas; a sagrada visualização do Benfica conspurcada por uma galhofa provocada, com o intuito de me mostrar que “a tua vida como a conhecias acabou, agora é isto, e é lindo”.

E o que digo, muito sinceramente, é que a minha vida, a partir de agora, pode “ser isto”, mas “isto” está muito longe de ser “lindo”. É um cabrão de um pesadelo. Sei que muita coisa já mudou, e que muita mais vai mudar. Que não posso esperar que continue a ser tudo como eu quero (embora gostasse bastante que assim fosse), que há cedências, que há novas “prioridades”. Eu sei e estou preparado para isso. Mas recuso-me a atirar a minha individualidade para o lixo, e passar de repente a uma espécie de meia-idade acéfala em que nada acerca de mim ou da minha felicidade importa, em nome das sacrossantas criancinhas. E mais, não é por ir ter uma criança que passei a adorar todas as crianças de repente, e que passei a ter uma propensão natural para gostar de aturar as crianças dos outros.

O mais curioso é que, no meio de tudo isto, as crianças até se portaram bem. Elas estavam apenas a ser crianças, e até bem porreirinhas. O problema foi os progenitores, mais concretamente a minha cara amiga anfitriã, que está de tal forma consumida com o êxtase da futura maternidade que nos quis enfiar a todos, pela goela abaixo, o seu modelinho de vida de sonho. Lamento dizê-lo (not really), mas o meu modelinho de vida de sonho não é nada disto.

Quero muito ter a minha filha e sei que o vou desfrutar intensamente. E também sei que vai ser duro, cansativo, interessante, esgotante, enervante, e excelente. Sei isso tudo e estou preparado, tanto quanto se pode estar antes de se passar por isso. Mas quero continuar a ser uma pessoa feliz, porque isso fará de mim um pai muito melhor. Quero continuar a beber copos, a fumar, a fumar ganzas, a ver o Benfica, a fazer amor com a minha mulher, a ouvir música, a escrever, a ler. A viver, e não apenas auto-limitar-me a viver através de outrem, por mais desejada e amada essa pequena pessoa seja.

Em resumo, a bela experiência de uma espécie de ritual de “mãe terra” foi o pior contributo que me podiam ter dado no que toca à minha iminente paternidade. Andei dias a bater mal, a pensar se sou normal, se sou um egoísta, se estou preparado. E finalmente percebi que sim, que estou preparado. Que, no meio de todas as futuras dificuldades, quero apenas tentar fazer as coisas bem, à minha maneira. Sem me alienar, sem me obliterar, sem me transformar numa massa incolor e triste, que apenas ganha vida quando aquela pequena vida me alegrar com as suas graças. Essa pequena vida apenas me vai acrescentar à felicidade que já tenho na minha vida. É ganhar o Joker em cima do euromilhões, e isso é absolutamente fantástico.

E é possível.


PS – a noite terminou da pior forma. Por volta das 11 da noite, juntei-me com mais dois machos e fomos fumar uma bela ganzinha ao frio. Acabava eu de dar as primeiras passas daquela erva mesmo boa, quando a minha anfitriã, sempre ela, qual albatroz, me comunicou que “a tua senhora disse-me para te avisar que está cansada”. “Oh, foda-se”, pensei eu, enquanto se ouvia o som do que eram os meus testículos a caírem sobre o cimento. Eu era o condutor, a minha senhora não gosta de conduzir, muito menos à noite, muito menos na autoestrada. E eu só fumei porque estava convencido de que íamos ficar mais um pouco, dava tempo para desfrutar, descer da moca, e conduzir a família feliz em segurança até casa. Propus que esperássemos um pouco, a ver se aquilo passava, mas meia hora depois a moca só subia, e eu sem a poder curtir, todo atrofiado porque queria ficar em condições de conduzir, como tinha sido previamente combinado. Não deu. Acabou por trazer ela o carro. Conduzindo devagar, de forma hesitante pelo meio do trânsito caótico de todos os bimbos que, sábado à noite, vinham da Costa mostrar os “élerons” para as Docas e a 24 de Julho. Conduziam todos furiosamente, perigosamente, fazendo sinais de luzes perante a lentidão da minha esposa, esses cabrões de merda com gel na tola. E eu no lugar do passageiro, com uma moca descomunal, absolutamente aterrorizado com o trânsito e tentando ajudar a minha senhora “deixa passar esse”, “é na saída a seguir”, “cuidado com este doido!”.

E a sentir-me miseravelmente culpado.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Será?

Já repararam que o Camarada Manuel Alegre anda muito caladinho?
Será que é porque o Camarada Alegre, o corajoso, frontal e insilenciável poeta, tem medo de, ao aparecer em público, ter de se pronunciar sobre o que o seu partido anda a fazer a todos os portugueses?...

No Future

O facto de a maioria de Esquerda no parlamento não servir para nada em termos de negociação do orçamento, devia fazer PS, BE e PC pensar seriamente na sua vida.
No fundo, pensar para que raio andam aqui, a mandar bocas, a aturar desaforo, alguns a encherem os bolsos, outros nem por isso.
Que raio de coisa, de bicho híbrido é o PS, que mantém o Socialista no nome, depois de ter mandado o punho às silvas, e criado aquela rosinha abichanada? Que raio de partido Frankenstein é este que, depois de paulatinamente ao longo de muitos e muitos anos a destrui-lo, vem chorar lágrimas de crocodilo pelo Estado Social? Que depois de uma data de anos a afundar o barco, ainda tem a lata de acusar o PSD de não usar o balde para mandar água fora?
Os culpados de toda esta merda são PS e PSD, com um breve cameo do PP. E para quem se vira o PS para resolver o problema? Exactamente o outro partido que, quando lá esteve, ajudou a atirar isto para a fossa. Se há algum partido que já demonstrou não saber/querer resolver o problema foi o PSD, digo eu...

E que dizer de Bloco e PC?
Que dizer de partidos que insistem em chavões e quimeras absurdas, em nome de um pseudo-estilo revolucionário e da manutenção de uma base de militantes fiéis aos dogmas, por mais ridículos que possam parecer?
Que dizer de um partido, como o Bloco, que tem como bandeira uma coisa tão parva como nacionalizar a Galp e a EDP?
Que dizer de um partido, como o PC, que insiste em cobrir-se de ridículo manifestando-se contra a atribuição no Nobel da Paz ao chinês, procurando "desmascarar" os prémios como a mão negra do imperialismo norte-americano?!
O que dizer de dois partidos que insistem em, eleitoralmente, prolongar a sua irrelevância, pela absoluta irredutibilidade das suas posições?
Como encontrar uma plataforma (que seja minimanente coerente e não um arranjinho mal enjorcado como a candidatura do pateta Alegre) que possa levar a Esquerda ao poder, se PC e Bloco não se mexem, e o PS só sabe mexer-se para a Direita?

Como cidadão, estou preocupado. Porque, pela primeira vez em muito tempo, não tenho realmente ninguém em quem votar. Tanto nas presidenciais (ainda espero por ti, Vieira), como nas futuras legislativas. Toda a minha vida votei Bloco e PC, e nas últimas sempre PC. Mas depois deste disparate absoluto do Nobel, também eu me interrogo se devo votar num partido que insiste em insultar a minha inteligência.

Eu voto. Eu gosto de votar. Eu quero votar.

Mas esta malta parece empenhada em dificultar-me a vida.

Circus freak

Na minha modesta opinião, os U2 são gigantes apenas porque são a banda preferida de toda a gente que não gosta de música e que vai aos concertos para ver as luzes a piscar.

Mas, para além disto: mais ninguém acha que eles estão há 30 anos a fazer a mesma (má) música?...

domingo, 10 de outubro de 2010

Prémio "Título mais ridiculamente exagerado de todos os tempos"

"Aloe Blacc tem o mundo aos seus pés" - um tal de João Bonifácio, no Y, Público.

Era só isto.

O Outono

Agora que o Outono se mostra em toda a sua força, deixo-vos "Autumn Leaves", pelo Bill Evans Trio.
Evans é o meu pianista preferido de todos os tempos, mas aqui o destaque vai para Eddie Gomez, o baixista que, aqui, faz o papel do genial Scott Lafaro, o membro do Trio que infelizmente morreu demasiado novo, pouco depois de ter gravado com o Trio as fantásticas sessões no Village Vanguard.
Sem mais seca, aí vai o Bill Evans Trio, ao vivo.



Boa semana para todos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pink moscatel

A Luciana Abreu disse à imprensa que agora que está grávida "enjoa os perfumes".

Eu diria que ela enjoa bastante mais do que isso.

Serviço Público

Happy birthday, Señor Presidente

Evo Morales, presidente da Bolívia, organizou uma jogatana de futebol entre o seu governo e o partido da oposição. Ora acontece aquilo que se vê no vídeo em baixo. O Morales é tipo de camisola verde, com o número 10, e cabelinho à "foda-se".



Alguma vez veríamos o Cavaco fazer uma destas? Aposto que vontade não lhe falta...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Midlife crisis

Mais triste do que um gajo de 32 anos rever o Academia de Polícia V e gostar, só o facto de o mesmo gajo ficar desiludido por o filme já não ter o Mahoney.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Viva! Viva! Mas viva o quê?

Eu não queria dizer isto, mas não andamos, nesta altura do campeonato, a gastar guita a mais nesta história do centenário da República?
São festas, são concertos, são paradas. Muita palavra, muito foguete. E o povo lá se entretém, à falta de um estágio da Selecção ou de um piquenicão com o Tony Carreira.
Ainda por cima, se formos ver bem, não há assim grandes coisas para celebrar. Já havia um Partido Republicano nos tempos da monarquia, e a "revolução" não foi mais que uma maneira desta malta ter mais poder. O Rei, enfim, era uma figura praticamente decorativa. Não mandava grande espingarda, era uma espécie de árbitro, que passava os tempos em caçadas e tentava impedir as trafulhices entre os partidos.
Ainda por cima, a Primeira República foi um verdadeiro regabofe. Em nome do povo - que desprezava como um belo novo-rico - a burguesia, os membros do Partido Republicano e muitos maçons, chegaram ao poder. Foi o início de uma bela saga - que na verdade vem da Idade Média mas sem a mesma escala - de um Estado que aproveitou a Administração Pública e os seus fartos lugares para conivências e favorzinhos. Ao ler sobre esse período - em que maçons e gente sem qualidade de pseudo-esquerda recheados de demagogia e interesses privados tomaram conta do país - não consigo deixar de ver as enormes semelhanças com a situação actual, com este Grande Estado Xuxa.
É muito bom podermos votar nos nossos líderes, isso é obvio. Daí fazer sentido celebrar o 25 de Abril, a Democracia. Não advogo de forma alguma o regresso à Monarquia, pela simples razão que não acredito em dar tachos vitalícios a um tipo só porque ele é de determinada família.
Mas a República, tal como foi prometida no início, falhou redondamente. Não foi prevertida, atenção. Falhou porque quem fez as promessas iniciais já não tinha qualquer intenção de as manter. Sobraram as eleições para todos os cargos de topo. Só isso.

Mas neste momento, as festas de celeração da República suscitam-me e a milhões de portugueses a mesma paixão que a comemoração da Descoberta do Brasil ou da invenção do animatógrafo. É curioso, não mais que isso, e é confrangedor ver as televisões fazerem directos atrás de directos das celebrações, em que meia dúzia de pacóvios ouvem um concerto dos inenarráveis Amália Hoje enquanto esperam que alguém lhes venha dar um isqueiro ou um avental de plástico.

Tenham juízo, e tenham vegonha do que fizeram com as promessas da República.

Babies

Normalmente, não gosto de falar da minha vida pessoal aqui no tasco. Não é assim tão interessante e, para essas merdas, há o Facebook, onde a malta mete as fotografias dos filhos e adere a grupos de receitas da Bimby.
Abro aqui uma excepção a essa regra, para anunciar que eu e a Senhora Bastard seremos orgulhosos pais de uma menina, lá para o mês de Novembro.
Abro essa excepção apenas porque esta situação de futuro pai me fez entrar num estranho mundo novo, e nem todo ele é bom. E há coisas que têm de ser ditas acerca disto, e talvez algum dos visitantes do tasco esteja vagamente interessado. Portanto, a partir daqui, podem esperar posts sobre fraldas, umbigos que caem e desejos homicidas em relação a qualquer gaja que acha que pode tocar na barriga da minha mulher apenas porque sim.

A propósito, e para não ser apenas paleio, deixo-vos aqui o meu brinde, em forma de teledisco, como se dizia no meu tempo. Uma grande música de uma grande banda, e de uma altura em que o Jarvis ainda tentava desesperadamente passar por uma estrela rock atraente (não funcionou).

Um abraço para todos.

À campeão

Uma vitória sofrida e justa, feita de muita alma.
Eu e mais 43 mil almas gritámos, sofremos, vibrámos.
Vimos ganhar a única equipa que quis ganhar, que desde o início viu pela sua frente uma equipa bem diferente do que se esperava, depois do delfim tripeiro Domingos ter dito que vinha jogar ao ataque. Afinal, foram 10 homens atrás da bola, a dar porrada, a queimar tempo, a atirar-se para o chão. Curiosamente, assim que levaram o golo ficaram cheios de pressa, mas não foram os únicos. O próprio árbitro, que durante 73 minutos pactuou com todo o anti-jogo - que roçou o gozo com o próprio juiz - ficou muito apressado desde aí até final, mandando os jogadores do Benfica apressarem-se, algo que nunca tinha feito em sentido contrário. E mais um jogo em que o adversário faz muito mais faltas, mas os amarelos vêm para o nosso lado. Enfim, é o habitual.
Não foi suficiente porque houve golo. A haver um vencedor teria de ser o Benfica, mas a segunda parte do Glorioso foi fraca, confusa e atabalhoada. Acabámos por marcar no momento em que estávamos pior na partida. Mérito do Carlos Martins, um jogador que está a fazer uma bela época e a demonstrar, para quem tinha dúvidas, a sua categoria. Gostei também do Aimar, que perfuma tudo o que faz, e do Luisão, que tal como contra o Schalke foi o grande esteio da defesa.
Não temos de olhar para cima nem para baixo. Temos de fazer a nossa parte e o nosso trabalho, mesmo que haja gente, com responsabilidades, que não nos quer deixar.

Força Benfica. Força Campeão. Estamos contigo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Quero mijar, agora quero mijar - A máquina do tempo

A casa dos espelhos

Como raio o Sócrates toma as medidas que toma, que em qualquer situação significariam a morte política de qualquer Governo, e com isto surge como o salvador da Pátria e coloca o líder da oposição em apuros?

Com sorte, com muita cara de pau e com muita incompetência do seu rival.

Ontem à noite ouvi um tipo com cara de xavalo betinho tachista boy, chamado não sei quantos Medina, a dizer que o Governo e o PS, com isto, estavam a "cumprir o seu dever patriótico".
Dever patriótico era correr com esta gente já, rapidamente, e de preferência de forma violenta.

Mas já lá voltamos.

Com isto, Sócrates entalou completamente Passos Coelho.
Se ele deixa isto passar, fica colado às medidas de Sócrates e limitado na sua capacidade de o atacar. Se não deixa isto passar, atira o país aos lobos dos "especuladores dos mercados internacionais" e é anti-patriota. Touché.

A questão é o que fazer agora. O que vai fazer o homem que se recusava a aprovar um orçamento porque descia os benefícios fiscais, na prática um encapotado aumento de impostos? O que vai fazer ele agora confrontado com um real, efectivo e brutal aumento de impostos?
Durante semanas, Passos Coelho insistiu que a redução do défice tinha de vir, sobretudo, da redução da despesa. Mas não disse como. E agora Sócrates faz-lhe a vontade: aí está o corte na despesa, da forma mais violenta, em salários. O que pode fazer Passos agora? Dizer que não, que afinal queria cortes noutra despesa? Se é isso, porque não o disse?

É, de facto, uma belíssima armadilha que Sócrates montou ao seu rival, com a extraordinária ajuda deste.

Vai ter de comer e calar. Está neste momento à procura do argumento de retórica que lhe permita aprovar esta palhaçada sem perder totalmente a face, mas deu-se mal. É bem feito. É o que acontece quando garotos fazem voz grossa.

Tudo isto é verdade, mas é politiquice. O mais importante não está aqui. É que, enquanto os analistas políticos (e eu próprio) estão ocupados com este raciocínio, esquecem-se do fundamental.
Que tudo o que se está a passar é da responsabilidade de Sócrates e do seu bando de malfeitores.
Ponto final.
Estes senhores que falam agora de dever patriótico eram os que, há apenas um ano, diziam que Ferreira Leite era anti-patriota por se opor ao TGV, indo ao ponto de a acusar de ter uma visão obscurantista e isolacionista, de defender o mote salazarento do "orgulhosamente sós".
Agora dizem exactamente o mesmo que ela, e o contrário do que diziam.
Estes belos patriotas são aqueles que, em 2009, ano de forte crise e, curiosamente, de três eleições, deram um aumento de 3% aos funcionários públicos, todos, com grandes e pequenos salários. Eleições ganhas, agora toca a cortar 5%.
Estes patriotas são aqueles cujo líder está há anos a falar de um país imaginário, em que a economia "cresce de forma cada vez mais robusta" e no qual "não é necessário aumentar os impostos" e muito menos "cortar salários". Não foi há um ano, foi há três meses.
Estes são os patriotas que examearam a máquina do Estado com os seus boys, que ainda hoje tratam a PT como a sua coutada pessoal, apesar de nessa empresa terem menos de 0,05% do seu capital.
Estes são os patriotas que, perante esta situação, falam dos submarinos de Paulo Portas e atacam o PSD por criticar o Governo, virando o bico ao prego, como se todos fossem responsáveis pela situação actual, todos menos o PS.
É como um vizinho que não faz obras em casa e põe em risco todo o prédio. Os outros vizinhos vão avisando que aquilo é perigoso, e ele goza, contente da vida. Depois, por via da sua incúria, acaba mesmo por incendiar a casa e todo o prédio. E depois aparece de baldinho na mão, com postura "patriótica", criticando os outros que se recusam a apagar o fogo.
O PS vive numa gigantesca casa de espelhos, em que vê em si as virtudes dos outros, e nos outros todas as suas falhas e todos os seus pecados.
Se Sócrates conseguir - e eu acredito que vá conseguir - convencer os portugueses com esta encenação, esta mentira gigantesca que se tornará o golpe do século, então Portugal tem o que merece.

Eu achava que havia limites à cara de pau. Mas já há muito que sei que não há limites para a credulidade e estupidez deste miserável povo.

Ilona Staler

Em tempos, vi uma bela VHS da Cicciolina, essa amiga do Goucha, em que ela era alvo de uma tripla penetração. Isso foi, de facto, impressionante, mas parece brincadeira de crianças (salvo seja, excepto para o Paulo Pedroso, a quem o salvo seja neste contexto não faz sentido), dizia eu que parece brincadeira de crianças perante a quádrupla ou quíntupla penetração que o camarada Pinocrátes está a fazer a cada um de nós.

Vamos por partes, que isto é difícil e eu não caminho para novo.

Em primeiro lugar as medidas.
Da história do fundo de pensões da Pt já falei há uns posts atrás. É uma manobra puramente contabilística e mais nada. Aqui não há inocentes, nem sequer a muito injustiçada Ferreira Leite, que fez o mesmo há uns anos, quando titularizou e vendeu ao Citigroup as dívidas fiscais ao Estado.
São contas de merceeiro, e mostram que, para Bruxelas, o que interessa é o número do défice, é irrelevante como chegamos lá, se é ou não sustentável, se lançamos sementes para o futuro, etc. É o sonho de Cavaco, o maior tecnocrata de todos.

Um novo imposto sobre a banca. Parece-me bem, mas não com argumentos pategos de que os bancos criaram a crise. Não foi o caso da banca portuguesa, que foi bastante conservadora e não recebeu dinheiro do Estado, excepto os casos de polícia BPP e BPN. Acho bem no sentido de que toda a gente tem de contribuir, mais ainda uma indústria que continua a lucrar milhões. Falta saber a taxa, os pormenores, etc.

Corte total do investimento público até final do ano.
Se falamosde devaneios absurdos como o TGV Santa Apolónia - Poceirão e terceiras travessias e merdas dessas, aplaudo de pé. Só não percebo como isto não foi óbvio antes, muito antes.
Acho mal quando se corta cegamente, sem olhar a investimentos bons, de proximidade, e obras faraónicas para dar de comer aos amigos construtores (ex: Jorge Coelho).

Corte do vencimento dos funcionários públicos.
Aqui depende. Depende da forma como é feito. Eu acho que se deve pagar bem aos funcionários públicos, mas menos bem do que uma função semelhante recebe no sector privado. Pela simples razão que quem trabalha no Estado sabe que tem emprego garantido, e faz sentido que quem não tem essa garantia ganhe mais. Mas esse corte teria necessariamente que deixar de fora os salários mais baixos, inferiores a 750 ou mil euros. Isto porque essa gente, que ganha menos, são de facto as pessoas mais úteis na máquina do Estado. São os trabalhadores sociais, os polícias de giro, os homens do lixo. O problema da máquina do Estado não está principalmente aqui: está, sim, nas camadas e camadas sucessivas de chefias e prateleiras douradas, de gente que toda a vida trabalhou no Estado e, hoje em dia, acrescenta/produz praticamente nada. Assim, é sacar dinheiro por sacar, porque o escalonamento não foi feito com a discriminação positiva suficientemente vincada. Vai, mais uma vez, penalizar os mais pobres.

Corte no abono de família para as famílias com rendimentos superiores a 630 euros.
Devia acabar para toda a gente. É um valor irrisório, que não serve para nada a não ser os Governos fingirem que têm uma política de apoio à natalidade e às famílias. Devia acabar porque assim os Governos teriam de prestar algo de realmente importante às famílias, e não entreter o pagode com esta parvoíce, que não serve de nada às famílias e, no conjunto, custa algum dinheiro ao Estado.

Aumento do IVA.
Um erro de palmatória. A receita extra vai vir, sobretudo, em 2011, e vai arrasar a economia. Mais, o Governo arrisca-se a angariar ainda menos dinheiro, com uma taxa de imposto superior. Porque os preços vão aumentar, e as pessoas deixar de comprar. Excepto se o vendedor não passar recibo, não declarar. Vai ser o paraíso para a economia informal, como os livros ensinam.

Em suma, é uma maneira de resolver o problema. Não é a única, como o PS tenta fazer crer, mas vai resolver o problema, contabilístico, no curto prazo. Tudo estaria bem, não fossem alguns pequenos problemitas.

1 - Vai penalizar toda a gente, incluindo os pobres mas incidindo, sobretudo, na classe média, aqueles que mais foram penalizados por este eterno e recorrente apertar do cinto. Tinha de ser assim, para atingir o dinheiro que é preciso.

2 - Estas novas medidas são o reconhecimento do absoluto falhanço deste Governo em matéria de controlo orçamental.

3 - Estamos a entrar num caminho recessivo, feito de falências e muito mais desemprego. Se tivermos a economia a crescer mais de 1,5% em 2012 eu ficaria muito surpreendido.

4 - Temos estas medidas avulsas, que convergem num ponto. De forma rápida, custe o que custar, ter mais receita e gastar menos. Nem uma reforma de fundo que nos permita redimensionar, de forma lógica e permanente, os custos do Estado. Isto significa que, depois de domado o défice, quando a economia voltar a mergulhar voltamos a ter os mesmos problemas, com novo apertar do cinto.

Estou curioso com o que vão dizer as próximas sondagens. Mas num país em que mais de metade das pessoas vota sempre nos mesmos, infelizmente não antecipo qualquer surpresa agradável.