Em tempos ouvi contar uma história, que rezava que os partidos da Oposição (portanto os que não estão no Governo) existiam para fazer uma coisa chamada Oposição.
Eu até cheguei a acreditar nisto.
Até hoje.
É que hoje foi votada uma coisa chamada Moção de Censura. É quando um partido da Oposição decide fazer Oposição e tenta mandar abaixo o Governo, eventualmente na esperança de ir para lá e fazer melhor (no caso do PCP, esta última parte da frase anterior não faz sentido).
E o bom do Jerónimo, furibundo com as tropelias deste Governo, lá meteu a moção de censura. O Bloco, que não beija exactamente de língua o PCP, votou a favor. Os Verdes, que é o PC mascarado de lentilha, também.
Já o PS absteve-se.
E, ao contrário da frase que António José Seguro fez famosa, desta feita não foi "uma abstenção violenta". Foi mesmo só uma abstenção à pussy.
Mas não é isto que interessa.
O que interessa é que, no dia da votação de uma Censura ao Governo, o PS fez uma Censura ao Censurador, neste caso o PCP. Como quem diz "ó seu malandro, atão andam a censurar aqueles rapazes, coitados, mas quéisto?!".
No dia da Censura ao Governo, o PS não atacou sequer o Governo. Não o criticou, não o cutucou, não lhe deu um carolo, uma bélinha, nada.
E, mais significativo que tudo isto, durante todo o debate, o líder (?) António José Seguro entregou a voz do seu partido a quem? A Pedro Silva Pereira, claro.
Pedro Silva Pereira é aquele rapazote, aprendiz de Relvas, que aparecia sempre atrás do Sócrates a gritar "Apoiado!" em qualquer ocasião, e isto incluia quando o seu pai político se limitava a pedir uma bica e um rissól no bar do parlamento. Ah, e é o rapaz que, na companhia dos Lellos desta vida, se dedicou desde o início da legislatura a boicotar toda e qualquer "ideia" que o líder do seu partido pudesse avançar.
Está certo.
E o que fez o magarefe do Silva Pereira, no dia da Censura ao Governo?
Obviamente, fez um ataque violentíssimo ao PCP.
Faz sentido.
Lembrou o senhor, espumando vingança da boca, que foi o PCP quem, há um ano, "deu o poder à Direita", tudo para fazer guerra ao sacrossanto PS. Esse PS da Esquerda séria, da Esquerda responsável, da Esquerda O Algodão Não Engana. Ao contrário das outras, que enganam e não limpam nada de jeito.
E basicamente foi isto. O PS nem tocou no Governo, tão ufano estava no ataque vingativo ao PCP e, sobretudo e fundamentalmente, na defesa do consulado Sócrates (a escolha de Silva Pereira como porta-voz não pode ter sido inocente). Como disse, e bem, o norte-coreano Bernardino Soares, "o PS está mais preocupado em defender o Governo Sócrates do que em defender os portugueses". Touché.
O que mais me custou foi ouvir Silva Pereira falar da Esquerda, encher a boca com a Esquerda. Da mesma forma que me incomoda sobremaneira ouvir o Carlos Queiroz falar de...tácticas de futebol, por exemplo.
O PS adora a Esquerda. O PS acha-se toda a Esquerda. O PS acha que é de Esquerda, porque a Esquerda Moderna é a Direita com "éléron", e isso é que é preciso. Sim, o PS adora a Esquerda.
A única coisa que me chateia é que o PS só não adora a Esquerda quando governa. Sócrates não caiu por ser de Esquerda. Caiu por ser mentiroso, trafulha, desrespeitoso para com o Parlamento e, sobretudo, para com os outros partidos de Esquerda.
O PS adora a Esquerda. Desde que não lhe peçam para governar com uma política de Esquerda.
PS - imagem gentilmente roubada no Google.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
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