domingo, 28 de fevereiro de 2010

1000 truques de bricolage

Os cães ladram e a caravana passa


CARREGA BENFICA!!!

Os neo-lusitanos



O império pode estar apático, moribundo e decadente, soterrado nos escombros das glórias do passado, mas há um grupo de lusitanos intrépidos que continua a resistir: os nossos junkies arrumadores de carros. Um arrumador tuga não se conforma com o trabalhinho das nove às cinco: custe o que custar, o tugo-junkie trabalha sempre as horas que forem precisas. Um arrumador tuga nunca tem férias: trabalha o ano inteiro, nos dias úteis e até nos dias inúteis. Há quem diga que o trabalho dos arrumadores é inútil. É mentira, há uma clara utilidade residual: de vez em quando, é mesmo difícil estacionarmos a puta do carro. Um arrumador tuga é um trabalhador brioso e digno: quando assegura que se pode estacionar em segunda fila (porque conhece melhor do que ninguém os horários do dono do carro da primeira fila) e alguém desconfia da sua palavra, fica extremamente ofendido porque a sua honra profissional foi posta em causa. Um arrumador tuga luta heroicamente contra o flagelo do envelhecimento da população, morrendo muito cedo por amor à pátria. O arrumador tuga não explora os seus clientes: está há anos a cobrar 50 cêntimos por serviço, não tendo até hoje aplicado qualquer aumento anual. O arrumador tuga não aliena a sua existência em nome de quaisquer promessas futuras: vive sempre no aqui e agora, tentando optimizar sempre o seu prazer imediato. O arrumador tuga nunca é mal encarado: não há ninguém que seja tão exageradamente bem educado como um tugo-junkie. A comunidade junkie não depende da mama do estado: auto-organiza-se espontaneamente, vivendo apenas do próprio trabalho. Cada arrumador tuga faz mais pelo combate à criminalidade do que qualquer outro português.
No outro dia, um junkie de longas barbas e olhar penetrante arrumou-me o carro no Príncipe Real e tenho quase a certeza que era Viriato. Dei-lhe uma moeda de 1 euro.

Finalmente percebo porque é que a família é o pilar da sociedade



Hoje a minha filha disse: "Quero dormir sempre com a mãe, quando o mano morrer."

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Solidariedade

Curti bué ver o Alberto João Jardim a falar na televisão. Já fez as contas, e reconstruir a Madeira vai custar, diz ele, mil milhões de euros. Quase 150 Sinama-Pongolles, mais coisa menos coisa. Mai nada.
Mas o meu problema é este: como ser solidário com aqueles gajos?
Nós, os cubanos, fazemos galas e choradinhos, especiais de corrida e missas cantadas. Enquanto isso, aqueles cabrões estão de mangas arregaçadas, como verdadeiros homens e mulheres de bigode, a limpar pazadas de merda e a limpar a sua terra. Enquanto, por cá, enviamos mantimentos suficientes para soterrar toda a ilha, os madeirenses agem como se aquilo tivesse sido um mero arranhão.
De cada vez que vejo na Tv aquele presidente da Câmara Municipal do Funchal - que não conheço de lado nenhum mas considero obviamente um facho do pior - não consigo deixar de pensar que ele era tipo para dar cabo do Rambo em três tempos. Aquele gajo era capaz, apenas com a feroz mandíbula que exibe orgulhosamente na televisão, de comer três Arnolds ao pequeno-almoço.
Como podemos ser solidários, assim?
Nós gostamos é dos haitianos. Fomos lá, fizemos o brilharete, e antes de virmos embora até jogámos uma futebolada com os nativos. Jogámos de botas da tropa e demos-lhes uma ganda abada, para verem de que é feito um país de Ronaldos. Assim é que é. Aquilo é que é malta agradecida. Ficaram todos destruídos, os chorões, quando viemos embora e perderam os comparsas da bisca lambida, para além da refeição seguinte.
Porque assim estamos bem. Sentimos o quentinho por dentro. Assim podemos fazer o papel do tuga bacano, aquilo que realmente achamos ser.
Mas os madeirenses?
Eu nem me importo de ver corpos e o caraças quando estou a jantar. Mas não me metam à frente o Guilherme Silva ou o Hugo Velosa, foda-se.
Aqueles cabrões são tão duros, tão reactivos, que quando falam parece que nos consolam a nós. Que estão sensibilizados com o nosso apoio, e tal, mas que está tudo encaminhado e não precisamos de nos preocupar, só falta darem-nos eles a palmadinha nas costas. Como se atrevem?
Enquanto choramos baba e ranho, os gajos estão noutra. Daqui a uma semana já estão a descer aquele calhau no meio do mar em cima dos carros de verga. Alías, só para nos foderem são gajos para começar a descer o calhau em cima da própria verga, só para vermos o quão machos eles são.
É por estas e por outras que de mim não levam nada.
A ver se para a próxima aprendem a chorar, como as pessoas.

Bom fim de semana para todos

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O que eu gosto no Hardcore é o seu extraordinário poder de síntese

Ontem à noite...



... um demónio com um sentido de humor de gosto muito duvidoso, entrou-me pela casa adentro e obrigou-me a escolher entre os meus discos e o meu testículo esquerdo. Não quero falar mais sobre este assunto.

Como se o assunto justificasse mais do que meio post



Explico-me um pouco melhor.

A questão não está (com a sua licença, Dr. Pacheco Pereira) neste novo filme que não vi.
E não se diga que aqui mora preconceito cego. Aqui, apenas se anima um simples enjoo, sem deixar de reconhecer ter até apreciado alguns dos filmes feitos pelo Tim Coisa.
O que não suporto é pois algo de mais simples. Não suporto que ele prossiga com a actividade de fazer filmes.
Começam-me a faltar as forças nas pernas para o simples anúncio de mais um filminho de horror-fantasia, atulhado de rasgos pseudo-intrigantes e de constantes acenos a uma certa irreverência emotional hardcore situada algures entre o Gótico e o Hello Kitty.
Estou certo que existem alguns adultos com mais de 13 anos que concordarão comigo.

The same, as usual



Eu sei que o Vodka Atónito está apenas num embaraçoso 477º lugar no ranking dos blogs mais vistos do nosso pequeno rectângulo escangalhado (ver blogómetro), mas isso não me retira por completo a autoridade moral de me armar em Pacheco Pereira, tecendo algumas considerações pseudo-inteligentes sobre a blogosfera, por uma razão muito simples: é que essa não é a questão essencial. E a questão essencial é a seguinte: podemos não estar em 14º lugar como o 31 da Armada, mas ao menos não usamos mocassins, camisolas com monogramas e cuecas com a bandeira monárquica. Cá vai então a minha douta opinião: a blogosfera é uma senhora com um grave problema de dupla personalidade. De dia, Dona Bloga é uma senhora respeitável de meia-idade, que entre cházinho, torradas e um jogo de canasta, se dedica à nobre causa da democratização da opinião. É certo que essa democratização é muito limitada porque a maior parte dos blogs são como o Vodka Atónito, pequenos tascos familiares dirigidos a um pequeno número de clientes habituais (no nosso caso, 78 visitas diárias médias, que nem sequer precisam de nos pedir nada ao balcão a não ser o cúmplice: "the same, as usual"). No entanto, não deixo de me espantar como é que alguém como eu, sem dinheiro, sem contactos, sem estatuto, sem currículo e sobretudo, sem ideias, consegue fazer chegar as suas estupefactas opiniões a uma pequena audiência de pessoas desconhecidas (muitas delas também, por sua vez, autoras em outros blogs), com quem posso trocar livremente argumentos e insultos (e é aí que Dona Bloga se transforma no traveca maluca e libertina, Miss Fera, sem qualquer despeito contra o travestismo). Por acaso, até temos tido muita sorte aqui no tasco porque é raríssimo alguém entrar por esse caminho de substituir argumentos por insultos pessoais, sob a capa cobarde do anonimato. De qualquer forma, exorto a que todos cá no tasco sigam o meu exemplo, prescindindo de um medroso pseudónimo e assumindo as posições de cada um com o nome verdadeiro. Estupefacto da parte da minha mãe, Amarelo da parte do meu pai.

Porque hoje é sexta e estou muito bem disposto


Vou-me abster de vos revelar a enorme vontade que tenho de mandar o Tim Burton para o caralho.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

The greatest shits

A compilação de músicas num "greatest hits" é um crime inqualificável que deveria ser punido por lei. Cada álbum de originais é um todo indivisível maior do que a soma das suas canções. É uma barbaridade esquartejar diversos álbuns em canções desgarradas e ensanguentadas, fazendo uma nova colagem contra-natura dos membros e órgãos arrancados mais conhecidos, dando origem a numa nova criatura disforme e irreconhecível- um verdadeiro Frankenstein musical. Bem faziam os Led Zeppelin que nem sequer editavam singles, justamente como um statement de indivisibilidades dos seus álbuns. O Led Zeppelin II não é o Whole lotta love- é aquela combinação perfeita de nove músicas juntas num todo inseparável. Foi por isso com profunda repugnância que me vi forçado a comprar a merda de um "Very best of The Jam" porque não havia a puta de um único álbum original dos gajos em rigorosamente nenhuma das Fnacs de Lisboa. E não é caso único, com os Madness passa-se a mesmíssima merda. Com os Silver Jews e com os Kills é ligeiramente diferente: ando há que séculos a procurar em vão álbuns de originais, mas ao menos têm a dignidade de não me apresentarem uma pseudo-alternativa de um "greatest hits". A conclusão é óbvia: desde que a Fnac adquiriu o monopólio sobre a venda de discos em primeira mão (com a excepção residual dos hipermercados), o seu catálogo tem reduzido escandalosamente. Agora que já chacinaram por completo a sua concorrência (muito justamente, aliás, porque a concorrência era uma bela merda), já podem coçar à vontade os seus tomates multinacionais à sombra do seu monopólio. É que já nem tentam disfarçar que se estão a cagar completamente para os discos que vendem. Assumem obscenamente que os discos são apenas um vago chamariz para as pessoas comprarem o que realmente lhes dá margens de lucro interessantes: os lcds, hi-fis, computadores e gadjets para todas as paneleirices possíveis. Já para não falar dos preços absurdos, com álbuns dos Stones dos anos setenta (na altura em que eram bons) a serem vendidos por 20 aéreos. A única concorrência à altura da Fnac são as excelentes lojas de discos em 2ª mão que há em Lisboa, com bons discos a óptimos preços. Enquanto não for eu a vítima, continuarei a recorrer sempre que puder ao meu pequeno crime de receptação numa destas lojas: antes pequeno cúmplice de pequenos junkies ratoneiros, do que compactuar com o furto multinacional organizado como eu o fiz com a merda desta compilação. Mas que se foda, sabe bem ouvir os singles da mais britânica das bandas Pop britânicas, como este "Going Underground".

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ah querem Janis Joplin? Atão tomem!



Delicioso.

S.f.f. também se usa!

O último post do camarada Amarelo foi, mais ao menos, como um choque de disfibrilador, serviu para dar alguma vida a este corpo cirrótico. Confesso que de vez em quando penso nas belas bebedeiras que apanhei neste tasco imundo e sinto vontade de despejar, outra vez, o stock de bebidas destiladas. Mas enquanto o transplante de fígado não chegar o futuro é incerto.

No entanto, quero deixar umas notas soltas, ao melhor estilo do pequeno hobbit António Vitorino:

- Se o camarada Amarelo e o camarada Bastard tivessem um filho, era de certeza o personagem dessa grande graphic novel da série Sin City: "That Yellow Bastard"



- Amarelo é como está ao meu fígado, mas já a caminhar para o castanho ferrugem.

- Este ano o tom de ferrugem da moda é o verde Alvalade.

- Alvalade não me parece assim tão mau, principalmente se me lembrar que o Sílvio Cervant é do Benfica.

- Por falar em Benfica... CARREGA, BENFICA!

- E para fechar, uma mensagem para o pessoal do FCP ressabiado que fica ofendido com o benfiquismo que reina neste tasco: "Vão mamar na quinta pata do cavalo!"

Escrevam, caralho.

Os Founding Fathers deste tasco têm cirroses já tão avançadas que escrevem agora muito pouco, pelo que resolvi republicar algumas das suas postas escritas em 2003 e 2004. Escrevam, caralho.

Raviolli Ninja

A vida n'é bela: são 2:53 da noite e estou eu a arreganhar os dentes a mais uma directa de labuta laboral. O meu gato estava deitado junto de mim a espreguiçar-se. Agarrei-o e pensei: "tu é que tens uma bela vida!". Saiu-me tão sincero que juro que me ouvi ronronar.

Fatchary

Ela nunca me tinha procurado num dia de semana, só os fins de semana eram nossos, nos dias úteis ela era do marido tal como uma repartição pública de horário rígido e igual desprezo a cumprir as suas obrigações. Ela nunca me tinha deixado dizer: "Amo-te!", demolia todas as vezes essa minha intenção, com os seus lábios poderosos e eu desmoronava-me como um baralho de cartas. Ela nunca tinha se entregado assim, o sexo entre nós nunca tinha sido tão selvagem, tão primitivo, as unhas dela esquecidas nas minhas costas, as minhas mãos violando o mais íntimo recanto do seu corpo. Ela nunca tinha explodido daquela maneira em cima de mim, não como naquela noite, mas como em todas eu adormeci primeiro. Ela nunca tinha despejado o tambor do revólver no meu peito.

Idle Consultant

É com alguma apreensão, que noto que há alguns dias que esses filhos esquecidos da Reforma Agrária, os incêndios estão arredados dos serviços noticiosos nacionais.
Os incêndios são em Portugal os únicos que trabalham verdadeiramente durante o Verão. Os Incêndios lavram! Lavram e preparam as terras, preparando-as para as próximas colheitas, ou melhor, tentam fazé-lo porque as forças para-militares cooperativistas da Associação Nacional de Bombeiros, não o permitem combatendo ferozmente os pobres e indefesos incêndios e denegrindo a sua imagem elevando-os à categoria de criminosos. Isto não pode continuar assim, há que acordar bom povo português!!! Já alguém se questionou, porque razão se encontra a lusa agricultura num estado tão moribundo? As forças mercenárias dos bombeiros são pagas a peso de ouro p'las multi-nacionais estrangeiras afim de que ocorra a total destruição da agricultura nacional, de modo a que esses vís impérios agricúlas possam alimentar-nos com as suas batatas e laranjas espanholas, ananazes dinamarqueses, cenouras do Báltico e outros que tais... tudo isto produtos inferiores ao produto nacional.
É tempo de Estado agir com mão de ferro e acabar com a impunidade, a corrupção e os compadrios no seio dos bombeiros e a bem do bem-estar, produtividade e alimentação lusas fomentar a cinergia entre os incêndios e os bombeiros. A solução é simples e está à vista de todos. Os incêndios lavram e os bombeiros semeiam e regam as sementes, trabalhando em conjunto para a prosperidade nacional. Não à extinção dos incêndios, os incêndios são nossos amigos e têm uma função social. Bem hajam.

Papousse

Denuncio mais um acto de terrível violência ocorrido em Oeiras na passada sexta-feira pelas dez horas e trinta locais: Gatiti foi castrado. Pois é, o meu gato preferido foi sujeito à mais miserável das intervenções médicas e vive agora tolhido, combalido, enfermo, triste e deprimido com um grotesco abat-jour enfiado no pescoçoo, sem ponta de energia e de agressividade, aquela agressividade que não raras vezes me fez, às escondidas da dona do gato (que é muito boazona e já está arrependida e de coração destroçado. Eu consolo), atirá-lo da janela do prédio para a estrada. Agora tudo isso é passado. Acabaram-se as guerras e ciúmes entre mim e Gatiti, esse novo coitado, essa recente vítima dos veterinários fascistas. A Gatiti nada mais resta, para os próximos dias, que dormir e esperar que a recuperação seja rápida, sem a ilusão de que seja total. Não será. Já todos percebemos que a Amnistia Internacional pactua com o crime que de modo reiterado se abate sobre os gatos do nosso país. Alguém tinha que fazer alguma coisa. (Raviolli, já redigiste o abaixo-assinado?) O Gatiti perdeu um colhão mas ganhou um amigo para a vida. Heis-me.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Quando leio Bukowski...

...sinto-me, de início arrogante.
Eu também sou capaz de fazer aquela merda. Sou capaz, sobretudo, de escrever aquela merda. Uma frases simples, gajas e mamas e copos.
Depois sinto-me frustrado, porque não sou capaz (ninguém é).
Depois sinto-me esmagado, porque a facilidade da escrita e o prazer rítmico e visual de cada página faz-me ter vontade de ganhar vergonha na cara e nunca mais escrever uma linha na vida.
Quando leio Bukowski, fico contente por não ser ele.
Depois fico destruído por não ser ele. Por gostar de andar de sapatos, por não ter sífilis, por querer conservar a minha mulher linda, por não viver a minha vida na eterna incerteza do amanhã, por tomar banho frequentemente, por não beber até morrer.
Bukowski não escreve, é. E ninguém mais o pode fazer, da mesma maneira, porque mais ninguém foi capaz de viver, daquela maneira.
E porque sou um tipo português, de um subúrbio chamado Carcavelos, que tem um emprego bem pago. Um tipo eficiente, que paga contas, que vai às Finanças e anda de carro. Que se preocupa com os animais e com a sua mãe. E que, de mês a mês, lá consegue tirar uma tarde para, durante umas horas, brincar a essa coisa de ser escritor.
Quando leio Bukowski, apetece-me beber. Depois bebo, e apetece-me ler Bukowski.
Quando leio Bukowski, tenho vontade de me mandar, nu, para um monte de esterco, onde pertenço enquanto aprendiz de escrevinhadeiro.
Quando leio Bukowski, percebo, enfim, que tenho demasiado a perder.
É por isso (e por um pequeno pormenor de diferença abissal de talento) que nunca chegarei lá.

O verdadeiro colinho

Enquanto aqueles que andaram décadas a viver à sombra de fruta e café com leite choram, porque querem de volta a mama que fez deles o que são...




CARREGA BENFICA!!!

Este blogue podia acabar assim


George DuBose / LFI

Se eu fosse primeiro-ministro...



... obrigaria a que gajos como o Morrison, o Hendrix, a Janis, o Jeff Buckley, o Nick Drake, o Ian Curtis e o Elliot Smith, só tivessem permissão legal para morrerem depos de editarem pelo menos 74 álbuns.

Qual Mandela qual quê, este gajo é que é um humanista a sério

"Estávamos num fosso, mas, por detrás de nós, estendiam-se cento e cinquenta metros de terreno plano, tão desérticos que mesmo a um coelho seria difícil esconder-se. Um homem saltou para fora da trincheira e pôs-se a correr ao longo desta, completamente a descoberto. Estava meio despido e segurava as calças na mão. Abstive-me de atirar, em parte por causa das calças. Tinha vindo para abater "fascistas", mas um homem com as calças na mão não é um "fascista", é, com toda a evidência, uma criatura como vocês e eu, uma criatura da mesma espécie - e deixámos de sentir qualquer vontade de o abater" (George Orwell)

Rock and Roll ain't fair. Poderia ter morrido aos 23 anos numa overdose ou num acidente de automóvel. Morreu aos 57 anos de cancro dos intestinos.

Entrevista de MST a José Sócrates - O que faltou responder

Dúvida 1: O que é que Sócrates quis dizer com "Temos hoje uma economia eficiente"?

Dúvida 2: Por que raio tanto insistiu ele em palavras que, em termos fonéticos, marchavam lindamente como nomes de porteira (Dona Infâmia e Dona Ignomínia)?

Dúvida 3: Quem foi a alminha que convenceu o MST a adoptar aquela nova coloração capilar? O Jorge Jesus?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Serviço Público

Apercebo-me agora, infelizmente tarde demais, que deixámos passar em claro, a 2 de Fevereiro, o Dia Mundial das Zonas Húmidas.

Já meti na agenda, para o ano não escapa.

A Gerência.

O tubo perfeito

Percebemos que algo de profundamente errado se passa quando Isaltino Morais é elevado à categoria de paladino da moralidade e da luta contra a corrupção. O senhor vem agora reclamar das patifarias do Tagusparque na tramóia do Sócrates, do Figo, da PT, enfim, do Polvo.

Não sabemos se estará zangado por ter havido uma aldrabice, bem nas suas garbosas barbas, e ninguém o ter chamado.

Mas nada disto será novo para o homem habituado a manobras perigosas:
é favor conferir em http://www.isaltino.net/

Et Tu, Vieira? III

Neoliberalismo

Publico agora em 2010 este estranho texto da minha adolescência

Um dia, todos os pretos, paneleiros, lésbicas, putas, junkies, mulheres que abortaram, estrangeiros, deficientes, loucos, provincianos, mulheres, analfabetos, comunas, chinocas, feios, trans-sexuais, gordos, punks, magricelas, suburbanos, carecas, velhos e desdentados, juntar-se-ão todos numa enorme caravana do ódio e, um a um, todos os homens brancos de classe média alta, heterossexuais, sofisticados, cultos e bonitos serão cruelmente despedaçados por aqueles milhões de braços, frenéticos, sedentos, descontrolados, implacáveis. Só assim as contas estarão saldadas.

Vodka Atónito atinge as 200 mil visualizações.



Para quem vem de Lisboa, de Barcarena, da Amadora, de Vialonga, do Milharado, da Amora, de Carnaxide, de Almada, de Álvaro, de Rio Maior, de Odivelas, de Rio de Mouro, de Cantanhede, de Prime, de Loures, de Queluz, da Trafaria, de Alfena, de Benavente, de Torres Novas, de Linda-a-Velha, de Matosinhos, do Porto, de Santarém, de Castelo Branco, de Coimbra, de Vila Franca de Xira, de Setúbal, de Sheffield (Reino Unido), Voisin (França), de Newark (EUA), de Pitangui, São Paulo e Porto Alegre (Brasil), e para todos os outros clientes habituais cá do tasco, hoje as cirroses são por conta da casa.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sex and drugs and Rock and Roll



Para alguém com uma sensibilidade essencialmente Pop, para quem os Beatles e as pastilhas Gorila constituem as referências culturais por excelência, foi com desconfiança (e com um vago interesse antropológico) que aceitei uns bilhetes gratuitos para ir assistir a um concerto de música clássica na Gulbenkian. Arrependi-me. Não pela música em si (apesar de lamentar a sua assepsia de laboratório e a sua intrínseca falta de groove) mas pelo ambiente social manifestamente fascista que reina numa sala de concertos. Dada a necessidade absoluta de concentração dos eruditos músicos e dos eruditos espectadores, um gajo tem que estar duas horas e meia eruditamente imobilizado, sem poder emitir qualquer som, e mesmo uma expressão facial é considerada excessivamente barulhenta pelos agentes da SS disfarçados que te rodeiam. É claro que uma repressão tão violenta sobre os instintos humanos mais naturais só poderia dar origem às mais repugnantes monstruosidades: os civilizados espectadores, que com um esforço sobre-humano conseguem manter um silêncio rigorosamente absoluto em todo um andamento, logo que o mesmo acaba começam todos ao mesmo tempo a tossir cavernosamente e a expelir todo o tipo de ruídos nojentos de dentro de si (uma experiência, a todos os títulos, repugnante, repulsiva e grotesca, que quase me fez vomitar), para poderem mergulhar novamente no silêncio absoluto e hitleriano de mais um civilizado andamento.
Mas Auschwitz ainda não acabou porque o civilizado espectador enfrenta ainda o complicado e angustiante problema de saber quando é que aplaude no momento certo ou quando, pelo contrário, vai ser fuzilado. É que, mandam as boas regras de etiquetas e boas maneiras, é muito feio aplaudir-se antes do último andamento. Mas sei lá eu quando é que a puta do último andamento de uma peça de um caramelo-do-século XIX-com-um-nome-extremamente-esquisito. A estratégia de sobrevivência que eu tentei adoptar foi recorrer ao mimetismo social dos mais esclarecidos, aplaudindo alguns segundos depois dos outros aplaudirem. Não resulta. Não era o único ignorante na sala pelo que aplaudi várias vezes no momento errado, à boleia dos meus camaradas igualmente ignorantes mas mais desinibidos. Claro que a senhora de casaco de peles e nariz de princesa mal disposta que se sentava à minha frente (senhora culta e civilizada) fulminou a minha plebeia pessoa com o seu olhar de hidra, fazendo uma qualquer alusão que não percebi ao programa do concerto. Olhei em redor e apercebi-me, pela primeira vez, que toda a elite de Lisboa sem excepção se encontrava lá. Amigos anarquistas, façam-me um favor. No próximo concerto de música clássica que decorrer no Grande Auditório da Gulbenkian, ponham lá no meio uma pequena bombinha que, de uma só penada, estilhace pelo ar, em pedacinhos pequeninos de carne queimada, toda essa douta e superior gente que nos tem pilhado o nosso rectângulo e os nossos bolsos ao som de Schuman e de Brahms. Mas, atenção, sejam anarquistas educados e ponham a bombinha só no final do último andamento.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Coitadinhos....

Tudo bons rapazes....

Odds

A entrada em cena de Fernando Nobre na corrida às presidenciais foi a melhor coisa que podia ter acontecido. Nunca tinha ouvido o senhor falar e por isso prestei alguma atenção ao seu discurso. Não tem grande jeito para falar, mas também a ocasião era de deixar um gajo nervoso. Vê-se que não é um profissional, mas talvez isso o ajude. Em termos de conteúdo, foi tudo o que eu e muita gente queria ouvir. Chega de merdas de partidos, de jogos escondidos, de falinhas bonitas para segurar o tacho. Falou de ética, e acho que é isso que mais falta.
É claro que, em termos de resultado final, isto não altera nada. O Cavaco vai ganhar, como ganharia mesmo que fosse um mano-a-mano entre ele e Alegre. Isto porque Alegre nunca iria conseguir congregar as esquerdas, por estar demasiado comprometido com o seu partido. Para mim não passa de mais um traidor aos ideais e valores de esquerda.
Se o Candidato Vieira não aparecer entretanto, Fernando Nobre é gajo para levar o meu voto, desde que não faça muita merda até lá. Vão aparecer histórias nos jornais, o PS vai tentar atacá-lo de todas as formas, por isso vamos ver.
De qualquer das formas, isto favorece Cavaco.
Quanto a Alegre, estou muito curioso para ver como vai reagir. Ontem tivemos um cheirinho, com a sua colagem ao grande amigo Zé. A verdade é que, com Nobre na corrida, Alegre perde o slogan (falsíssimo) de independente. Só lhe resta, para tentar ganhar, respaldar-se na máquina partidária do PS e contar com o folclore inconsequente do Bloco e o eventual apoio (que seria sempre discreto) do PC.
Vai ser uma derrota para Alegre, que esbanjou o capital de confiança e independência que teria conquistado nas últimas presidênciais, tudo porque não tem tomates e optou pelo broche muito pouco discreto a Sócrates, em troca do apoio oficial do PS.
Isto ainda vai ser divertido.

O Bardo

Alegre, o bardo chato que, ao contrário de Assurancetourix mete a mordaça na sua própria boca quando lhe convém, andou muito caladito. Três semanas de granel, nesta latrina tornada ainda mais irrespirável pelo caso Face Oculta, até o Rato Micas deu opinião e....Alegre? Onde andava o bardo, o guardião das liberdades? A muito custo, lá falou. Tarde e a más horas, claro, a defender o seu amigo Sócrates (que tal como Alegre é um grande defensor das liberdades, nomeadamente de imprensa). E, coincidência das coincidências, qual o dia que escolheu para quebrar o silêncio, e retomar a sua "Volta a Portugal em jantaradas"?
Exacto, na mesma noite em que Fernando Nobre anunciou a sua candidatura à presidência.
Ou muito me engano, ou o bardo está prestes a começar a cantar fininho...

Carta aberta a Funafunanga, o nosso atónito monárquico



Caro Funafunanga,

Sendo eu viciado em tubos de cola e querelas intelectuais, e tendo cometido o erro de me auto-censurar em relação à pancadaria ideológica com o Bastard, vejo-me obrigado a recorrer a uma metadona conceptual de substituição, discutindo a monarquia contigo.

Por mais que um monárquico moderno se distancie do absolutismo, defendendo uma monarquia liberal e constitucional (como tu defendes), há 4 características intrinsecamente anti-democráticas em qualquer forma de monarquia:

1- Contrariamente à República, o Chefe de Estado não é escolhido democraticamente pelo povo, mas sim imposto por descendência da família real.

2- Numa República qualquer pessoa pode candidatar-se à Chefia do Estado. Numa monarquia só um membro da família real poderá ascender à Chefia do Estado. É violado o princípio da igualdade, sendo um resquício anacrónico e inaceitável das sociedades de castas que existiam antes da Revolução Francesa.

3- Numa República o poder do Chefe de Estado é transitório. Numa monarquia, uma só família (a família real) procura eternizar-se no poder, de geração em geração. Uma das consequências deste ponto é que se um presidente for mau, há uma forma simples e não violenta de correr com ele: basta não votar nele nas eleições seguintes. Se um rei for mau, não há nenhuma forma não violenta de nos livrarmos dele (e da sua descendência).

4- Os monárquicos tendem a usar bigodes de monárquicos.

Com os melhores cumprimentos republicanos,

o homem do estupefacto amarelo

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Armistício



O Bastard não gosta do Sócrates, eu também não. Eu não gosto do PS, o Bastard também não. O Bastard é de esquerda, eu também. Para mim, a liberdade de imprensa é um valor fundamental, para o Bastard também. O Bastard despreza o clientelismo endémico do PS e do PSD, eu também. Eu desprezo a mentira e o populismo na política, o Bastard também. Divergimos, contudo, na nossa opinião sobre as relações que devem existir entre Justiça, Política e os Media. É isso razão suficiente para andarmos sempre às turras neste tasco? Claro que não. Estando cansado desta guerra entre irmãos, declaro publicamente que não irei mais criticar o Bastard neste tasco em relação a esta polémica, nem responder às suas eventuais novas críticas. Perdoem-me a minha falta de carácter, mas num dilema entre a amizade e a liberdade de expressão, escolho sempre os inglorious bastards dos meus amigos.

Entre a Alegria e a Nobreza



Estava aqui o amarelo já sem angústia eleitoral nenhuma, convencidíssimo do seu voto no pomposo Alegre, quando vem esse patifório do Fernando Nobre apresentar a sua candidatura presidencial. Fico baralhado. Com certeza que fico baralhado. Aqui vai então a minha estupefacta opinião. Em primeiro lugar, considero que esta candidatura serve sobretudo para dividir a esquerda. A direita agradece. Em segundo lugar, tudo indica que há aqui a mão singela do Soares: para o pai da nossa democracia, mais uma punhaladazinha nas costas do seu antigo amigo é muito mais importante do que evitar a reeleição do candidato da direita. Posto isto, não há nada a fazer: a candidatura já está lançada e é preciso tomar decisões. No meu dilema entre o Nobre e o Alegre, pesam 3 critérios: personalidade, cálculo político e simbologia política. No primeiro critério, o Nobre ganha destacadíssimo: tenho muito mais admiração pelo humanismo e carácter do fundador do AMI do que pela gabarolice inconsequente do Alegre. No segundo critério, preciso de sondagens, mas aparentemente parece que o Alegre tem melhores condições para vencer a direita do que o Nobre. No terceiro critério, inclino-me mais para o Alegre, por ele simbolizar a possibilidade de toda a esquerda se unir à volta de um projecto comum. Ainda a procissão das presidenciais vai no adro e já tenho uma certeza: detesto fazer escolhas difíceis.

Novilíngua



O Bastard tem razão. Os meios de comunicação social nunca erram, nunca são tendenciosos e nunca cometem ilegalidades: apenas "enquadram jornalisticamente".

A amizade serve-se num prato frio

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Descubra as Diferenças

O efeito Sporting

O nosso amigo Amarelo é como o Sporting. É repetidamente goleado, às vezes em casa, depois perde 2-1 com uma equipa que levou 7 do Benfica e ainda canta vitória.

Esse ser Amarelo é uma espécie de Santos Silva de barba (muito bem lembrado, caro Papousse), um Pacheco Pereira que clama contra a televisão enquanto admira a sua pureza no espelho, um pequeno burocrata obcecado com o respeitinho e com as regrazinhas.

Visto que, mesmo após se ter espalhado repetidamente ao comprido, insiste na sua senda anti-comunicação social, vendo nesta a responsável por todos os males deste mundo, cá vou eu cansar-me mais um pouco. Tal como o Benfica na casa de banho, metade da equipa é suplentes, mas bacalhau basta.

Primeiro, faz uma posta irrelevante, em que gasta as suas preciosas pontinhas do dedos, para na última frase chegar, finalmente, ao que lhe interessa: quem vigia os abusos dos jornalistas? Sim, esses talibans de laptop, esses perigosos meliantes, que vigia os seus abusos? Os seus perigosos abusos, que tanto mal têm feito à nossa sociedade? Quem vai compensar cidadãos exemplares como José Sócrates, Armando Vara, Paulo Penedos ou Rui Pedro Soares? Como vão esses cidadãos exemplares, como todos nós, que trabalham duramente pela vida, impolutos, que não subiram na vida à custa de roubar o NOSSO dinheiro e o NOSSO esforço? Isto é gravíssimo, de facto.

Depois, causou-lhe uma profunda comichão (no traseiro? no mindinho? no cerebelo? não sabemos) o facto de, com um criminoso título, o Expresso dizer que  "Polémicas envolvendo Sócrates ainda não beliscam a sua popularidade". Ele diz que cita de memória, e talvez a sua memória amarela já não seja o que era dantes. O problema é que o título, diz ele, é opinativo, porque sugere (ou até afirma!, meu deus!) que o jornalista espera que venha a afectar. Espera ele, espero eu e espera toda a gente que não escolheu desligar o cérebro, parece-me evidente. Isto não é opinar, é editorializar. É enquadrar JORNALISTICAMENTE. A percepção clínica, de um jornalista de bata, que não bebe, não fode e não respira, não existe em lado nenhum no mundo. Esse jornalismo por que o Amarelo tanto anseia existe na forma de um diário: chama-se Diário da República, é feito de factos, e não nos diz grande coisa.
O que não preocupa o Amarelo, e devia preocupar, não é os que editorializam. É os que amocham, fazem o jogo oficial, dão a bela da inauguração da escola primária que só abre 10 dias depois, porque ainda não estava pronta a tempo de eleições.
Está preocupado com as regras. Claro. Não dá valor ao facto de, graças ao suor e ao trabalho desses perigosos talibans, os jornalistas, nós todos sabermos que o nosso PM é um corruptor desavergonhado.

Depois volta às regras e à justiça, que claramente tem funcionado muito bem. Diz ele, na sua santa inocência, que "o respeito pelas formas e procedimentos de um processo jurídico (iguais para todos, previsíveis, constantes, objectivos e não arbitrários) são a única maneira possível de garantir aos arguidos o direito de defesa, o direito de contraditório e a presunção da sua inocência em relação aos conteúdos da acusação".

"Iguais para todos"?!

"Não arbitrários"?!

De facto, o Chapeleiro Louco ao pé deste Amarelo não passa de um muito são fabricante de bonés sem pala.

Para os ricos e poderosos (sobretudo políticos), o segredo de justiça não existe. Sabem sempre de tudo. A violação do segredo de justiça limita-se a dar a todos o acesso à mesma informação, que até aqui tem sido exclusiva de uns poucos (e dos mais perigosos, ainda por cima). É por isso que vem dos poderosos todo o barulho acerca do segredo de justiça.

E mais uma vez noto que esse pequeno Amarelo, numa série de 20 postas e 500 comentários, dedicou três linhas a dizer que bem, talvez o Sócrates não tenha sido muito correcto.

Isto sim é tapar o sol com a peneira.

Et tu, Vieira?

Isto está a ficar engraçado e melhor


The strange case of Dr. Jekyl and Dr. Jekyl



Sem o respeito pela forma, não há qualquer garantia sobre a validade do conteúdo



O Estado de Direito (com a sua justiça formal) é o pior de todos os Estados com excepção de todos os outros. A justiça formal permite que os culpados sejam sempre condenados? Evidentemente que não, mas o respeito pelas formas e procedimentos de um processo jurídico (iguais para todos, previsíveis, constantes, objectivos e não arbitrários) são a única maneira possível de garantir aos arguidos o direito de defesa, o direito de contraditório e a presunção da sua inocência em relação aos conteúdos da acusação. Substituir a justiça formal pela arbitrariedade da pseudo-justiça mediática é um gigantesco retrocesso civilizacional.

Nem os insectos gostam de nós



Se há insectos esquisitíssimos por todo o lado que comem as coisas mais estranhíssimas como madeira, roupa ou papel, porque é que não há uma única espécie de insecto em todo o planeta que goste de comer défices orçamentais e dívidas públicas?

Objectivamente subjectivos



No Expresso desta semana, na apresentação das sondagens sobre as preferências eleitorais, é colocado o seguinte título (que cito de memória): "Polémicas envolvendo Sócrates ainda não beliscam a sua popularidade". Este título não se limita a descrever os factos relativos às últimas sondagens, porque a subtileza da palavra "ainda" confere à notícia o seguinte juízo de valor implícito: as sondagens não reflectem os recentes escândalos envolvendo o Sócrates, mas deveriam reflecti-lo e estou certo que mais tarde reflectirão". Os jornalistas que escreveram esta notícia sabem melhor do que ninguém que a sua função enquanto jornalista não é opinar e emitir juízos de valor (essa é a função do leitor ou do opinion maker) mas sim simplesmente descrever os factos. Porque é que será que fingem não sabê-lo?

Quem vigia os vigilantes?



Os polícias vigiam os abusos dos criminosos. E quem vigia os abusos dos polícias?

As Agências de Rating vigiam o risco (financeiro) das empresas e Estados. E quem vigia o risco de promiscuidade de interesses das Agências de Rating?

Os jornalistas vigiam os abusos do Poder. E quem vigia os abusos dos jornalistas?

Portuguêsmente

O que é bom num fim-de-semana prolongado de Carnaval não são os quatro dias insuportáveis de chuva e shopping centers, mas sim a subsequente micro-semana de trabalho de 3 dias que passa no instante para nos metermos rapidamente outra vez num fim-de-semana insuportável de chuva e shopping centers.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Omo lava mais branco

E pronto, o Polvo contra-ataca.

Nos últimos dias, todo o Estado -Maior socialista saiu em defesa do corrupto-mor do reino.
À frente de todos eles o velho Soares, que mais uma vez desvaloriza o conteúdo da corrupção e valoriza a forma. É a estratégia oficial escolhida, e todos a seguem à risca.

Os jornais são estranhamente inundados de crónicas e artigos de opinião que passam todos, exclusivamente, por branquear a actuação do ainda primeiro-ministro de Portugal.

Começa amanhã uma comissão de inquérito no parlamento, para discutir a liberdade de imprensa em Portugal. Dali não vai sair nada, a não ser escandaleira televisiva. Os queixosos vão repetir as queixas, das quais não têm provas, e os supostos especialistas vão dizer que está tudo normal. Estou particularmente ansioso pelo depoimento de alguns directores de jornal que estão no bolso do Sócrates. Pior do que o que corrompe é aquele que, como é o caso, não precisa sequer de ser pressionado para fazer o trabalho sujo. Faz de moto próprio, oferece-se de perna aberta, na esperança de receber benesses. E alguns desses serão ouvidos no parlamento.

No meio de tudo isto, há um silêncio que começa a ser ensurdecedor.
O de Manuel Alegre. O "a mim ninguém me cala", o "Senhor liberdades de Abril", o "Senhor anti-censura". Estará a preparar um dos seus belos poemas?

Missão duvidosamente cumprida

"Dei à minha filha o nome de Nuna Rosa, porque queria que fosse um nome original e ao mesmo tempo feminino" - Solange F.

É Carvalhal, ninguém leva a mal

Um ponto prévio: o Carnaval deixa de ter piada aos 13 anos. A partir daí, há algo de seriamente errado contigo. Um latagão vestido de Zorro ou de bombeiro já faz levantar o sobrolho de gente séria e a pila aos homosexuais/pedófilos (riscar o que não interessa).

O Carnaval à tuga é, de facto, uma coisa estranhíssima. Estão menos 3 e neva, mas em Viseu há um tal de corso com meninas roliças meio despidas dançando ao som do samba. Mas enfim, gajas são gajas, e quem não gosta não come.
Mas depois há os gajos, e isso é um campeonato à parte. Basicamente, não há terra parola em Portugal que não tenha o seu belo Carnaval, e normalmente mete gajos vestidos de gaja. E isto, lamento dizê-lo aos nossos leitores transformistas, é um bocado bizarro.

Atenção, isto é o Vodka Atónito, e como tal aplaudimos de forma veemente qualquer cerimónia que tenha como objectivo beber até cair. Mas isto do Carnaval lembra-me um bocado as tunas: passam tanto tempo a cantar sobre beber que, quando levam o copo à boca, já eu despejei três garrafas de palheto.

Não é necessário entrar numa de traveca em part-time. Graças a Deus e à hipocrisia da sociedade, em cada esquina há um supermercado, a abarrotar de bebida.

Beber é uma coisa séria. Tratem-no com o respeito que merece.

Em defesa de Rangel



Muitas das críticas apontadas a Paulo Rangel são injustas porque omitem um facto importantíssimo, conhecido por poucos: o seu estado líquido. Devido a esta sua propriedade física, Rangel não tem uma forma constante, ajustando-se à forma do recipiente em que é colocado. Desta forma, não existe qualquer contradição entre o seu discurso há uns meses (quando se recusava terminantemente a violar o compromisso que fizera com os seus eleitores de cumprir até ao fim o seu mandato no Parlamento Europeu) e o actual discurso em que assume essa possibilidade para se candidatar à liderança do PSD: como líquido que é, Rangel limitou-se simplesmente a obedecer à tendência natural do seu estado físico, acomodando-se à forma de duas circunstâncias políticas diferentes. Consta até que Paulo Rangel é tão líquido, tão líquido, que quando toma banho escorre pelo ralo da banheira abaixo primeiro do que a água do banho.

Conheci...



... uma vez uma tipa tão optimista, tão optimista, que no dia em que teve de amputar as pernas pensou: não faz mal, ao menos já não tenho de fazer a depilação.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Entre os meus filhos e a vida não existem mal-entendidos



1.

- Pai, sabes como eu gostava de ser?
- Diz, filho.
- Gostava de ser como sou.

2. Enquanto descíamos a Rua da Escola Politécnica, a minha filha disse, sou a mais bonita desta rua, por isso, quem manda nesta rua sou eu.

Descubra as 7 diferenças


Essa (malandrice) de Queirós: a sua pátria é também a sua língua



Num artigo da Y desta semana sobre o sexo e a literatura portuguesa, vem a seguinte citação do "Primo Basílio" do Eça:

"Basílio achava-a irresistível ; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto chique, tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas "tão feias, com fechos de metal", beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então faz-lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu, dizia: "não! não!" E quando saíu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda escarlate; murmurou repreensivamente:
- Oh, Basílio!
Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinha-a na mão!"

Tenho a certeza de que se houvesse um maior cuidado na escolha dos clássicos da literatura a constar nos currículos escolares obrigatórios, haveria certamente muito mais portugueses interessados pela leitura.

Sócrates volta a atacar

Edição portuguesa da FHM vai acabar

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Não sei se alguma vez vos disse isso mas não gosto lá muito do Facebook



Make blogs not friendships.

52 segundos de Them Crooked Vultures só para vos abrir o apetite

É verdade que o próprio conceito de super-banda é idiota e pretensioso: bora juntar vários gajos muita bons vindos de várias bandas muitas boas para formar a melhor banda do mundo. É evidente que esta visão infantil da pop dá quase sempre em merda, já que o todo é quase sempre menor que a soma das partes. Os exemplos de super-bandas falhadas são inúmeros, mas vou-vos dar apenas três exemplos: juntas gajos porreiros dos Soundgarden e dos Rage Agains the Machine numa super-banda, dá a super-merda dos Audio-Slave; juntas gajos dos Stone Temple Pilots com gajos dos Guns numa só hiper-mega-banda dá a hiper-mega-merda dos Velver Revolver; juntas malta dos Nine Inch Nails com malta dos Smashing Pumpkins na suposta melhor banda do mundo, dá origem aos tenebrosos "A Perfect Circle". No entanto, como não podia deixar de ser, todas as regras têm a sua excepção: se juntarmos o lendário baixista dos Led Zeppelin, John Paul Jones, com o Dave Grohl (ex-Nirvana) e o Josh Homme dos Queens of the Stone Age numa só banda, damos origem ao excelente power trio dos Them Crooked Vultures. É claro que o álbum não atinge o génio de um Led Zeppelin II ou de um Nevermind. Mas também não é justo compararmos o álbum com essas duas gigantescas obras primas. Pode-se dizer, talvez sem exagero, que o álbum não se deve envergonhar muito da comparação com qualquer álbum dos QOTSA (e são todos muito bons), muito também pelo facto da personalidade do Josh Homme nitidamente dominar o trio. Mas sabe bem ouvir as piscadelas de olho revivalistas que o álbum lança a bandas vintage como os Led Zepp e os Cream, muito provavelmente por influência do ex-baixista da melhor banda rock and roll de todos os tempos. Ramble on.

Este ano...



... vou mascarar-me de uma pessoa não sexista, não batendo uma única vez na minha mulher durante todo o Carnaval.

O que o Bastard não disse mas poderia ter dito



O semanário "Sol" divulga hoje escutas ilegais de conversas ao telemóvel entre José Sócrates e um aparatchik da juventude socialista com um nome bizarro, que demonstram inequivocamente o maquiavélico plano do primeiro ministro para controlar o inconveniente "Vodka Atónito" (blog marcadamente incómodo para o primeiro ministro, com um impacto mediático cada vez mais crescente, estando já muito perto das 200 mil visualizações), através da infiltração no mesmo do cão de fila socialista: "o homem do estupefacto amarelo".

Hoje nas bancas


Quanto a ti, Amarelo, podes sempre ler o Borda D'Água.

Descubra as diferenças

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O espírito do tempo



Um faquir encontra o seu filho adolescente em flagrante a ser sodomizado pelo seu melhor amigo e diz-lhe: "Não reconheço em ti o filho que criei. Eu sou faquir tal como o teu avô o era, e tal como o teu bisavô antes dele também o era. Durante gerações e gerações sempre seguimos esta nobre tradição dos nossos antepassados, e agora vejo-te deitado num colchão. Num repugnante e repulsivo colchão. Gerei um monstro."

Deve haver alguma razão para isso mas não sei exactamente qual



Até hoje nunca nenhum dos aparatchiks que se cruzaram comigo conhecia o significado da palavra "aparatchik".

Para quando a puta de um jornalismo de investigação sério, isento e desinteressado em Portugal?



Antes que o velho e rezingão do "Bastard" morra de um ataque de coração, venho por este meio retratar-me, reconhecendo publicamente que existem de facto indícios fortíssimos de que Sócrates tem andado a arquitectar um "vergonhoso plano para controlar a comunicação social e limitar a liberdade de imprensa", já para não falar de "ter mentido descaradamente". Apesar de tudo, continuo a chamar a atenção para a notória falta de autoridade moral dos meios de comunicação social que o denunciam. Vejamos alguns exemplos. Comecemos pela Manuela Moura Guedes e o seu defunto "Jornal de Sexta". Sobre este caso, nem há muito a argumentar, porque a falta de objectividade é de tal forma gritante e o sensacionalismo de tal forma obsceno, que nenhuma pessoa séria poderá qualificar essa aberração mediática de jornalismo. Continuemos pelo ex-director do Público, José Manuel Fernandes. É imoral compará-lo com o apêndice infectado do José Eduardo Moniz, porque, mesmo no seu reinado, o jornal "Público" foi o único a não ceder um milímetro ao sensacionalismo (não se podendo dizer o mesmo de supostos jornais de referência como o "Expresso", muito menos do "Correio da Manhã- Parte II) em que se transformou o DN). No entanto, no que diz respeito à cruzada cega e facciosa que o ex-director montou contra o Sócrates, sofria da mesmíssima falta de objectividade jornalística que a sua congénere televisiva. Continuemos pelo senhor Mário Crespo. Admiro muito o profissionalismo deste velho senhor da televisão, mas caramba, fazer notícias a partir de escutas de conversas privadas em restaurantes, ainda por cima supostamente ouvidas por terceiras pessoas, e ainda para mais sem garantir qualquer contraditório, viola ao mesmo tempo tantas e tão elementares regras deontológicas do jornalismo, que me escuso a fazer mais quaisquer comentários. Terminemos então no Jornal Sol, no seu director, José António Saraiva, e na polémica da divulgação ilegal de escutas telefónicas mandadas destruir pelo Supremo Tribunal de Justiça. Para mim, repugna-me essa cumplicidade obscena que existe entre operadores de justiça e jornalistas, onde, na maior impunidade, se viola permanentemente a lei e o segredo de justiça, com o mesquinho propósito de vender mais uns quantos jornais e de servir agendas políticas secretas e obscuras. Agora, tenho que dar o braço a torcer ao Bastard, reconhecendo como muito suspeito o facto de dos quatro exemplos que citei, três deles terem misteriosamente perdido espaço mediático (Jornal de sexta suprimido, José Manuel Fernandes afastado da direcção do "Público" e Mário Crespo afastado do "Jornal de Notícias"). Mas, caralho: para quando a puta de um jornalismo de investigação sério, isento e desinteressado em Portugal?

O Óbito

Rangel promete "libertar o futuro"



Paulo Rangel anúncia candidatura à liderança(???) do PSD e regressa à Terra Média.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tão amigos que eles são

Ontem, no parlamento, presenciámos um momento de tal forma enternecedor que me levou às lágrimas. E ao vómito, mas isso agora não interessa.

Ora foi quando se falava daquela coisa sobre a qual não podemos falar porque uns tipos decidiram branquear o Sócrates e decidiram arquivar.

Passo a citar a notícia:

"Num outro momento do debate, o líder bloquista Francisco Louçã colocou-se ao lado de Sócrates ao condenar a divulgação de escutas e ao criticar as declarações do eurodeputado do PSD Paulo Rangel, que afirmou em Bruxelas estar em causa o Estado de Direito em Portugal

«Recusamos transformar a justiça num comissariado político», afirmou Louçã. «Sabemos que há gente que quer conhecer as escutas. O Bloco repete: as escutas ou servem à justiça ou não servem a ninguém», declarou, defendendo no entanto a necessidade de uma comissão de inquérito sobre o tema trazido a público pelo SOL.
Sócrates agradeceu a intervenção de Louçã: «Registo aquilo que disse sobre a matéria da justiça. É o primeiro líder político, depois de mim, a sublinhá-lo. Lamento que ninguém em Portugal tenha dito o que o senhor e eu dissemos».

Foi enternecedor ver aquela demonstração de compreensão por parte de Louçã. Também gostei muito de ver o Rosas a falar, com a sua bela Lacoste. Felizmente não consegui ouvir nada do que ele estava a dizer.

Mas Sócrates enganou-se. Não foi só Louçã a única pessoa a atacar o aspecto formal da matéria, e a impedir-se de pensar no fundamental.

Também neste blog há pelo menos um adepto dessa espécie de fora de jogo mental. Quando sobe a bandeirinha....toca a desligar o cérebro.