quinta-feira, 24 de julho de 2003

Prémio Cronista Crónica

Margarida Rebelo Pinto escreve crónicas para o Portugal Diário. São geniais, como tudo o que escreve, mas aqui podemos apreciar, além da suas capacidades de escrita, a sua cultura extraordinária e o modo como tenta atingir os diferentes tipos de leitores

Numa crónica sobre a novela Fátima Felgueiras, começa por comparar, numa metáfora brilhante, a dupla Fátima/Comunicação Social com a dupla Tom & Jerry. Fã confessa destes dois personagens animados, aproveita para dar a sua primeira estocada cultural:
"...enquanto personagens de cartoon, estes dois seres descendentes directos do deus Loki - o deus das travessuras - cresceram, evoluíram, tornaram-se muito mais densos e interessantes."
Fiquei estarrecido, "descendentes directos do deus Loki - o deus das travessuras" , é o domínio completo da mitologia nórdica, é como dizer que que o Paulo Portas é descendente directo do deus Ares - o deus da guerra. Nota-se aqui a preocupação de comunicar com os leitores mais jovens, se bem que o apontamento nórdico não estará ao alcance de todos.

Mais à frente chama a Fátima, Padeira de Felgueiras e explica:
"Só lhe chamo Padeira porque na mitologia histórica de Portugal não rezam mulheres de grande porte e mais guts que um punhado de soldados bem armados, embora as tenha havido em fartura: Leonor Telles, Maria da Fonte, Rainha Santa Isabel, Inês de Castro e Natália Correia, por exemplo.
Sem palavras, mais um coelho tirado da cartola, mais um ornamento cultural, de um requinte extraordinário, mas como uma subtileza tocante. O público alvo, aqui, é certamente uma classe mais erudita, letrada e espectadores assíduos de todos os programas do Prof. José Hermano Saraiva.

Quase no fim da crónica, com muita pena minha, volta a a estabelecer uma comparação com Fátima Felgueiras:
"...num personagem que é um cruzamento de Maria Madalena com a Pamela Ewing.
É a chave de ouro, é a cereja no topo do bolo, embora não tenha percebido lá muito bem a comparação. Aqui temos dois grupos de leitores distintos, os católicos devotos e todos aqueles que, durantes os anos 80, perderam horas a ver a saga da Família Ewing.

Sinceramente, não há pachorra! Tragam-me os comprimidos e uma garrafa de whisky!

A última frase da crónica é a seguinte:

"Ou então sou eu que estou a ficar confusa e não me consigo encaixar numa realidade tão absurda."

Sem dúvida, Margarida! Sem dúvida!

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