sábado, 30 de janeiro de 2010

Bom português



Dois militantes do PNR preparavam uma faixa contra pretos gays. Um deles escreveu: "Os homosexuais de raça negra era pô-los todos num barco no alto mar e afundá-lo." O outro disse-lhe: "Ó Gordo, homossexuais não se escreve com um "s", mas sim com dois." O primeiro respondeu, com um ar muito desconfiado: "Ouve lá, como é que tu sabes essa merda?".

Contra tudo e contra todos...

...CARREGA BENFICA!!!

Força nisso Zé!

Câmara de Lisboa quer plantar árvores proibidas no jardim do Príncipe Real.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O estranho caso do hiper-realismo infantil



Um dos mitos mais solidamente enraizados no senso comum é o de que as crianças são seres fantasiosos, com puca ligação à realidade. Nada é mais falso. Não há nada mais realista do que uma criança, e a prova disso é que mesmo as mais afirmações mais estapafúrdias são milimetricamente levadas à letra pelas mesmas. E digo-o com conhecimento de causa porque albergo em minha casa duas dessas pequenas criaturas hiper-realistas. Atentemos, então, em alguns exemplos.

No outro dia dia, a minha filha (que tem 3 anos) estava a portar-se mal e eu disse-lhe, na brincadeira, que, se persistisse na birra, lhe arrancaria, uma a uma, todas as cabeças das suas Pollys (para quem não sabe, Pollys são pequenas bonequinhas engraçadas que a pequenada adora despir e vestir). Não é que a criatura desata a chorar num pranto descontrolado, como se acreditasse que eu fosse verdadeiramente um monstro capaz de perpetrar tamanha crueldade.

E não pensem que esta tendência hiper-realista desaparece rapidamente com a idade. O meu filho, que é quatro mais anos mais velho que a pequena, continua a sofrer do mesmo crónico e incurável realismo. No outro dia, eram cerca de 6 horas da tarde, estava o meu puto a ver "A liga da Justiça", quando eu lhe disse qualquer coisa parecida com isto: "Desculpa, filhote, eu sei que são os teus desenhos animados favoritos, mas fui agora acometido de uma súbita e irreprimível vontade de ver o telejornal". É evidente que só podia ser brincadeira (até um miúdo de sete anos deveria saber que às seis da tarde não é hora do Telejornal) mas não é que o meu puto me levou a sério, soltando o mesmo grito lancinante de dor e de raiva que a minha filha alguns dias antes também soltara.

É evidente que estes episódios conduzem-nos inevitavelmente para outra questão: que relações devem existir entre ética e sentido de humor? Ou seja, trocando em miúdos, será que as piadinhas de mau gosto atrás expostas me ilibam (pelo simples facto de serem piadas) de qualquer responsabilidade moral sobre o sofrimento que infligi nos meus próprios filhos? As respostas normalmente dividem-se conforme se é o autor da piada, um receptor neutro da piada ou um receptor não neutro da piada. Deixem-me, então, explicar. Imaginem que um tipo manda uma piada qualquer sobre o Haiti. As pessoas que ouvem a piada, costumam reprovar a imoralidade inerente ao mau gosto da mesma quando ainda paira no ar o odor das 70 mil pessoas acabadinhas de morrer soterradas. O autor da piada considera habitualmente que o sentido de humor tem essa estranha propriedade filosófica de mitigar por completo a sua responsabilidade moral, por mais maliciosa que esta seja, defendendo-se sempre com um discurso deste género: "isto era uma piada, não estava a falar a sério, vocês não têm mesmo sentido de humor". É como se o sentido de humor conferisse uma espécie de imunidade diplomática ao prevaricador: qualquer barbaridade cometida ao seu abrigo dispensa qualquer prestação de contas. Quanto ao ouvinte haitiano, é claro que irá sempre e invariavelmente esmurrarar com tenacidade o engraçadinho. Pela minha parte, durmo ainda descansado: os meus filhos são por enquanto bem mais pequenos do que eu.

Há coisas que...

...me deixam fodido da vida.

O senhor presidente da EMEL, essa espécie de califa dos xulos, deu uma entrevista na qual revela as prioridades da empresa para este ano: aumentar em 40% o custo do estacionamento em algumas zonas de Lisboa. A contrapartida é que as tarifas noutras zonas sofrerão "uma ligeira descida".
Ora a mim parece-me que 40% é uma subida mais que ligeira. Mas enfim, não entremos pela mera discussão semântica.
Outra novidade espectacular é que, para além do dístico de residente, os moradores em Lisboa vão ter também um dístico da zona onde trabalham. Ou seja, vão incentivar que quem mora em Lisboa vá de carro para o trabalho!

Isto é absolutamente típico da maneira tuga-xico esperta-trafulha-modernaça de fazer as coisas.

Tudo o que vemos é desinvestimento nos transportes públicos, sobretudo nas zonas que já são carenciadas, que não têm metro. Mais uma vez, é começar a construir a casa pelo telhado. Em vez de incentivar o uso dos transportes, melhorando-os (é absurdo, por exemplo, o metro não estar aberto até muito mais tarde, ao fim de semana), vamos é taxar à grande a utilização do carro.

Isto mostra, de facto, que não há qualquer estratégia de mobilidade ou sequer de modernidade. É tudo acerca de sacar o mais possível enquanto dá.

Só o facto de permitir que quem vive em Lisboa tenha lugar à borla à porta do trabalho mostra que os autores desta fabulosa ideia não acreditam nos transportes nem querem divergir pessoas para os transportes. Esses, que por acaso deviam ser os principais utilizadores dos transportes, perdem o incentivo para o fazer.

Esta proposta vai a aprovação de António Costa. Não me surpreende que seja aprovada. Este é um presidente da Câmara que baseou a sua campanha na ideia de trazer gente para morar em Lisboa e cuja primeira medida foi aumentar os impostos municipais em...90%!

Numa cidade normal isto era um escândalo. Mas como estamos a ficar demasiado habituados à roubalheira, passará despercebido.

Siga a banda e desculpem por esta interrupção.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

One of the very best


Morreu ontem um dos melhores escritores que tive a felicidade de ler, e parte da razão pela qual sou obcecado com a literatura americana do século XX.

JD Salinger bateu a bota aos 91 anos. Confesso que só descobri que estava vivo há uns seis meses atrás. Um escritor e fã sueco decidiu escrever uma sequela da obra-prima de Salinger, "The Catcher in the Rye", agarrando nas personagens que fizeram tantos, eu incluído, gostar de literatura.

Salinger, que vivia há décadas em total reclusão, deu sinal de vida, ao anunciar um processo judicial contra o tal autor sueco.

"Atão este cabrão está vivo e nunca mais escreveu nada?!", foi a minha reacção imediata.

É que dele li tudo o que apanhei, e não foi muito: "For Esmé, with love and squalor", "Raise high the roofbeam, carpenters", "Seymour" e "Fanny and Zooey", para além do fabuloso "The Catcher in the Rye", provavelmente a melhor primeira obra de sempre, em igualdade pontual e de golos com "Less than zero", do Bret Easton Ellis.

Eu, fã egoísta e nojento, ao ouvir falar da sua morte, só espero que algum herdeiro sem escrúpulos e sedento de guita decida publicar quaisquer inéditos que o velhadas tivesse guardado.

Fica a minha homenagem a um grande, grande escritor.

Facebook



André Henriques (8h23)- Fui à casa de banho.

André Henriques (8h35)- Pus duas fatias de pão na torradeira.

Adelaide Pinheiro (8h42)- Boa, André. Tens imensa graça: o pão na torradeira...

Ema Costa (9h37)- Fui ver o Matrix. Espectacular. Até parecia mesmo real com as 3 dimensões.

André Henriques (9h38)- Foda-se. Esqueci-me da puta das torradas.

Filipe Nascimento (10h33)- Pessoal, esta noite à hora do costume no Escandinávia. Vai ser a puta da loucura.

Ana Lourenço (12h32)- Maluco, és um doido. Eu estou já lá.

Fernando Martins (15h34)- Estou lá também.

Inês Oliveira (17h23)- Hoje não vai dar. Mas com um bocado de esforço da vossa parte, eu sei que vocês conseguem divertir-se sem mim.

André Henriques (17h56)- Acabei de sacar o último da Madonna. Cinco estrelas. É muito boa ... a música, quero dizer.

Ana Lourenço (18h23)- LOL, André. És um doido. Já ouvi o single e também gostei.

Deixem jogar o Magnusson!!!

Foi linda a festa, meu.
Uma causa nobre, o triste aniversário do nosso Fehér, o feliz aniversário do Pantera Negra. Um estádio cheio.

E o Benfica, todo aquele Benfica. O Valdo, o Chalana, o Poborski, o Rui Costa, o grande Vítor Paneira (o meu grande ídolo do Benfica enquanto criança).

E, acima de todos eles, a grande estrela do jogo, o inimitável Mats Magnusson.

A sua entrada, 300 quilos de carisma, levantou de vez o estádio. É o efeito Mantorras, um tipo que não se consegue mexer mas que mexe connosco. E é por isso que o Benfica é o que é. Porque nós sabemos que toda a grandeza do clube tem uma pontinha de ridículo. É enorme, é português e é popular. Daí o voo da águia, o Mantorras, a memória, aqueles que morreram em campo com a nossa camisola, as bifanas, as depressões e a euforia.
Não quero um clube de gentlemans falidos ou de boçais corruptos.
Quero o que ele é. O maior clube do mundo. Com lantejoulas e tudo.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A carroça e a política

Vou desperdiçar esta posta inteirinha a tentar demonstrar a inútil e estupefacta tese de que o PCP e o BE são, para o bem e para o mal, os ciganos do nosso sistema político-partidário.

1. Assim como os ciganos têm sido mantidos à margem da sociedade portuguesa desde que para cá emigraram no século XV, também a esquerda à esquerda do PS tem sido mantida fora do nosso sistema político desde o fim do PREC em 1976.

2. Assim como os ciganos responderam a essa hetero-exclusão secular através da sua própria auto-exclusão (fechando-se sobre si próprios para melhor se defenderem das ameaças externas à sua própria sobrevivência) também a esquerda à esquerda do PS optou por se defender da sua ostracização, auto-excluindo-se do sistema (recusando quaisquer coligações governamentais e votando sempre contra o orçamento do estado, abdicando assim de exercer qualquer influência sobre o mesmo).

3. A auto-exclusão do PCP e do BE(tal como a dos ciganos) é uma faca de dois gumes: se por um lado os protege o suficiente para permitir a sua sobrevivência, através de uma identidade forte definida em clara diferenciação e demarcação do PS para evitar a sua diluição no mesmo (como já sucedeu com os partidos congéneres de outros países europeus como a França e a Itália), por outro lado, o preço a pagar por essa cultura de contra-poder, é o seu escasso poder de influência na definição das principais políticas públicas, entregando de bandeja à direita este poder de influência, o que gera um crónico enviesamento do nosso sistema político à direita.

4. Tal como os ciganos, também comunistas e trotskistas são indivíduos extremamente perigosos.

Já acabou. Eu bem vos tinha tinha avisado da inutilidade desta posta.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A minha amiga especial




Conheci a minha melhor amiga muito antes da minha mulher. Continuo a gostar muito dela e a minha mulher parece não se importar muito com isso. Ela sabe que a minha amiga é quase como uma segunda sombra para mim, alguém que sempre me acompanhou nos bons e nos maus momentos. A minha amiga nunca me desiludiu. Nunca me julga nem me faz perguntas. Simplesmente, vai partilhando a vida comigo, crescendo comigo, tropeçando comigo. A minha amiga é uma eterna caixa de surpresas- por mais que eu pense conhecê-la, ela revela-me sempre novas facetas até aí desconhecidas. A minha amiga é um bocado bipolar: consegue oscilar da mais profunda euforia à mais intensa depressão. E as suas emoções são contagiosas como vírus. A minha amiga é de uma versatilidade incrível, conseguindo ser elegante e rude, suave e intensa, divertida e amarga, sensual e desajeitada, simples e pretensiosa, sossegada e urgente, doce e zangada. A minha amiga é especial. E quando a música é a tua amiga especial (como na velha canção que obcecou a minha adolescência), tu nunca estás verdadeiramente só.

Se os Strokes tivessem crescido em Queluz trocando a Colombia University pela Igreja Evangélica de Massamá

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Se eu fosse Deus...

...ressuscitava o Bukowski e convidava-o para ir beber um copo.

Mas provavelmente ele mandava-me à merda e ainda me dava um enxerto de porrada.

Um diz mata e privatiza, o outro diz esfola e liberaliza



Hoje de manhã, quando estava a mijar, lembrei-me da seguinte hipótese: "A ostracização mediática da esquerda à esquerda do PS mantém-na completamente fora do sistema". Fui ao Google procurar estatísticas que me permitissem testar a minha hipótese. Vejamos os resultados. A RTP (e RTP N) é o único canal a refutar a hipótese, uma vez que 60% dos seus Programas políticos (Corredor de Poder, Parlamento e Pontos de Vista) incluem representantes de todas os partidos parlamentares, sendo que apenas 40% dos mesmos (As escolhas de Marcelo e as Notas Soltas) os excluem. É preciso então sair do contexto protector da televisão pública, para que esta ostracização política se torne evidente. Na SIC (e SIC Notícias), apenas 20% dos seus programas políticos incluem intervenientes à esquerda do PS (ou seja, o Daniel Oliveira do BE no Eixo do Mal), enquanto 80% os excluem (Plano inclinado, Quadratura do Círculo, A regra do jogo e Ponto Contra Ponto). Na TVI, este padrão repete-se, com apenas 25% dos seus programas de conteúdo político a incluírem participantes à esquerda do PS (o independente Manuel Villaverde Cabral no Roda Livre, que, apesar de ter sido no passado apoiante do PS, é, há muitos anos, um dos seus mais ferozes críticos situado à sua esquerda) enquanto 75% os excluem (Cara a Cara, A torto e a direito e Contas à Vida). Uma nota relevante: a não ser nos programas da RTP abertos a todos os partidos parlamentares, não há nenhum outro programa político com algum representante do PCP. É curiosa, então, a noção de debate político que impera na nossa televisão (especialmente a privada): colocar vários marmanjos liberais numa acesa controvérsia sobre quais de entre eles são os maiores defensores do fundamentalismo do mercado. Estamos conversados em relação às virtudes democráticas do capitalismo liberal.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Avatar?!


Façam um favor a vós próprios.

Vão ver isto.

A sério.

Uma tarde nos saldos

O ano ainda agora começou mas um padrão começa a definir-se.

Tudo vem de trás, com a aprovação do casamento entre homosexuais. A posição oficial do Vodka é também a minha, devido à disciplina de voto instituída: acho muito bem, desde que possa continuar a fazer piadas fáceis acerca de maricas e fufas.

Depois, aparecem nas revistas fotos do Malato, numa discoteca gay em Madrid, de tronco nu entre outros grandes machos barbudos. Às revistas, argumenta que "se alguém vai a uma festa de whisky, isso quer dizer que se é alcoólico?".

Depois, surge na TV uma campanha de incentivo à utilização do preservativo. Um senhor está de avental em frente ao fogão. Depois chega outro - presumivelmente de um dia de trabalho ou de um encontro na casa de banho da estação do metropolitano das Jaranjeiras - chega-se carinhosamente à sua traseira, talvez para cheirar os cominhos da panela.

Ontem fui aos saldos no Chiado. Para quem não sabe, o Chiado tem mais veados que a zona de caça associativa de Montargil. Mas ontem havia algo de diferente. Andavam aos grupos, nos saldos. Vi um casal entrar no provador da H&M, um deles com umas cuecas amarelas de tigresse na mão.

Tive de sufocar o preconceituoso que há em mim, e até funcionou.

2010 é, oficialmente, o ano gay.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Dinheiro, Pátria e Família



A direita parlamentar, na sua infinita dedicação ao valor sacrossanto da família, chumbou ontem no parlamento a imoral e subversiva proposta apresentada pelo PCP que pretendia a infame redução do horário semanal de trabalho de 60h para 40h, o que empuraria os trabalhadores e trabalhadoras para um convívio suplementar forçado com as respectivas famílias, aumentando de forma exponencial as oportunidades de se desencadearem conflitos no seio familiar, que poderiam culminar na pecaminosa dissolução do pilar fundamental da sociedade, fazendo ruir toda a estrutura moral em que a mesma assenta, o que certamente constitui o objectivo político último do perigosíssimo partido que apresentou esta radical proposta.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Dicionário Estupefacto

Definição de Autocarro- Aquário com rodas que transporta pessoas-peixe de um lado para o outro.

Nunca duvidei da capacidade do Sá

E, por isso, muito lamento não o terem deixado acabar o trabalho para o qual estava tão vocacionado.


Não se pode dizer, ainda assim, que, nesta curta passagem pelo dirigismo, não tenha deixado a sua marca (nas fuças do Liedson).

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dr. Jekyll & Mr. Sócrates



O nosso PM é um tipo divertido.
Há quem o apelidaria de bipolar, mas acho que é só maldade.
Durante quatro anos, foi um filho da puta. A mandar em tudo e todos, cagando de alto para os cidadãos, para a oposição, para toda a gente. Depois, perdeu a maioria absoluta, e de repente ficou um porreiraço. É só beijinhos e convites para tomar scones. Depois ouviu o Louçã e zangou-se outra vez. Enfim.
Agora, tem em cima da mesa o orçamento para 2010 e, contra a sua vontade, a discussão acerca das presidenciais.
Neste último capítulo, vai apoiar Alegre e alegremente fazer campanha, baseando-se no alibi de que quer "unir as esquerdas", numa liga brilhante e homogénea que trará de volta as canções de Abril (este é o momento em que, se Sócrates fosse nosso leitor, teria de controlar o vómito).
No entanto, no que realmente conta - o orçamento - balança entre o PSD e o CDS, qual moça casadoira que ama o rapaz pobre mas quer o estatuto do gémeo rico e mau. Sim, estamos perante uma novela venezuelana com mais possibilidades que o "Perfeito Coração".
Não lhe passou pela cabeça negociar com o BE ou com o PC, esses perigosos esquerdistas (bhlergh) que vai ter de aturar durante a campanha presidencial.
Sabemos muito bem que há dois graus de hipocrisia: há hipócritas e depois há políticos.
A vantagem é que nem todos os hipócritas chegam a Primeiro Ministro. Infelizmente, por decisão dos portugueses, temos uma tendência especial para os eleger.

O maravilhoso mundo da bola tuga

Uma das coisas bonitas do futebol é que, em campo, podemos ver praticamente todas as emoções e desejos humanos. Dor, religião, amor, raiva, frustração, perseverança, superstição, paixão.

Mas depois de ver os adeptos do Sporting aplaudirem de pé um jogador que lhes estava apalavrado e que, mais uma vez, foi desviado para o plantel do Porto, fiquei a ver ainda um outro lado do jogo.

Eu sei que o Sporting sofre de um estranho (ou talvez não) complexo de inferioridade em relação ao Benfica. Só isso explica a razão pela qual continua a atacar o seu rival lisboeta - que não ganha nada há bué -, em vez do rival nortenho que, curiosamente, lhe tem papado os campeonatos todos. Devido a esta obsessão com os benfiquistas, o Sporting e os seus presidentes desde Dias da Cunha têm assumido uma postura submissa em relação ao Papa. Este agradece, aposto que até se ri do pequenote que quer muito ser seu amigo, e depois dá-lhe a bela da encavadela por trás.

E agora, ao ver o jovem Ruben Micael - hoje já jogador do FCP - ser aplaudido ao abandonar o relvado lagarto, descobri mais uma característica humana que se reflecte no mundo da bola: o sado-masoquismo.

Optimismo cínico



Em política, a escolha nunca é entre o bem e o mal, mas sempre entre o mal e o mal menor. O meu optimismo cínico reside na fé inabalável de que para todos os problemas políticos há sempre, precisamente, um mal menor. Vasco Pulido Valente, Medina Carreira e António Barreto são tão cínicos, tão cínicos, que nem no mal menor acreditam. Estão enganados: num dilema entre passar a vida a ler o azedume apocalíptico dos nossos pessimistas profissionais e partir a espinha dorsal num salto mortal azarado, a primeira opção é, claramente, o mal menor.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que é que preferes: o precipício ou o abismo?



A crise financeira global arrastou o Estado Português para uma situação em que faça o que fizer está sempre lixado. Se o nosso governo optar por continuar os estímulos públicos (despejando dinheiro em cima do anémico sector privado, para relançar o crescimento económico e o emprego), vem o precipício: a dívida pública dispara, as agências de rating agravam a notação do nosso risco, os nossos credores externos emprestam-nos dinheiro com juros mais elevados, a dívida pública cresce ainda mais, numa espiral viciosa que nos levará à falência. Se, pelo contrário, o nosso governo cortar no investimento público e nas despesas do Estado (de forma a diminuir o endividamento externo e o risco de falência), vem o abismo: agravaremos ainda mais a depressão económica e o desemprego. Entre a eutanásia da primeira solução e o suicídio da segunda, eu prefiro, sinceramente, um prato de caracóis.

A terrível encruzilhada em que nos encontramos não foi resultado de uma qualquer inevitabilidade histórica mas foi o resultado de escolhas eleitorais livres de milhões de cidadãos que pelo mundo fora elegeram irresponsavelmente governos liberais. Que os eleitores assumam a responsabilidade do seu monstruoso acto, reparando-o através de um imposto. Que os esforços de consolidação orçamental sejam inteiramente pagos por este imposto "sobre o genocídio económico".

Pedro Passos Coelho, mais coisa menos coisa (na óptica de Moita Flores)


Do consumo de drogas pesadas

Neste jovem firme, livre, tolerante e afectuoso está a porta do futuro. Não só do PSD mas do país.

Francisco Moita Flores a propósito de Pedro Passos Coelho.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Teste de Avaliação das suas Tendências Homossexuais Recalcadas



Imagine que está perdido num deserto abrasador. Sem beber uma gota de água há dois dias, está prestes a desfalecer por desidratação. Eis se não quando um estranho oásis surge à sua frente: no meio do nada, sob a areia escaldante, parece vislumbrar duas máquinas de venda de refrigerantes. Ao aproximar-se, repara que a máquina da esquerda tem disponível uma água gelada por um euro. Pelo mesmo preço, a máquina da direita tem disponível uma mulher atraente e insinuante. Exausto e sedento, vasculha desesperado os bolsos e encontra apenas uma só moeda de um euro. Responda sinceramente: optaria pela mulher ou pela garrafa de água?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Declaração

Sobre as torpes e vis insinuações que têm sido lançadas neste Blog contra a minha pessoa, alegando a existência de bizarras particularidades do meu Trivial Pursuit, venho por este meio dizer, em nome da defesa da minha honra e da minha dignidade, que neste mundo complexo e pós-moderno em que vivemos, a distinção conceptual entre verdade e falsidade torna-se, cada vez mais, problemática.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Carta Aberta à Carta Aberta

Atão e o nosso Benfas, hein?

Pátáti Pátátá...

...Alegre prá'qui, Alegre pá'colá...

Já não há cú pó Manuel Alegre.

Espero que lhe dê uma real caganeira, perdão uma caganeira de esquerda.

Bem hajam!!!

Resposta a um post do Amarelo situado ali mais em baixo, intitulado Carta Aberta a Papousse

Caro Amarelo,

O Grande Bastardo e o Ninja das Massas disseram já, mais ou menos(mas em versão bom e legível), aquilo que quereria ter-te respondido. Não obstante isso, porque me mereces toda a consideração, largarei umas patacoadas mais sobre o assunto. Afinal, é para isto que serve um blog, não é?

Creio que tudo se resume a esta carrada de linhas que aqui vou deixar.

Para ti, Amarelo, a vitória da esquerda (lato sensu) nas presidenciais consubstanciará uma conquista de valor absoluto, que não permite que à definição do candidato da esquerda acresçam outros crivos que não os que resultem das seguintes convicções: Trata-se de alguém que a sociedade portuguesa reconhece como sendo de esquerda + Não existe nenhum outro merdas em melhores condições de sacar a taça à direita cavaquista.

Não faço – porque não há que fazer – uma apreciação moral sobre a singeleza destes dois critérios, mas reservo-me o direito de tomar um caminho diverso, não aceitando que, simplesmente, por isso, sem mais, esteja a ser sectário.

Com efeito, para além das probabilidades de vitória e da arrumação ideológica do candidato, outros factores poderão concorrer na escolha que cada um fará para próximo presidente. Ora, estando em causa a eleição de uma pessoa, não concebo o votar de cruz no cromo da esquerda apenas porque sim. Terei (falo na primeira pessoa do singular) inexoravelmente que atender a um aspecto para mim essencial: o carácter (ou, vá lá, o perfil) do cidadão que se propôs vir a ser chefe desta tribo republicana. E, bem ou mal, quanto a isto, a apreciação que faço do Manuel Alegre não é positiva, facto que necessariamente ponderarei se me for colocada a possibilidade de nele votar.

Que isto seja sectarismo, discordo.

Sectarismo esquerdista não é seguramente, porque, brincando aos cenários, admito, sem dramas, poder vir a votar em quem se situe à direita do Manuel Alegre.

Nomes para esses cenários? Freitas do Amaral e Ramalho Eanes (que apoiou, creio, a candidatura do Cavaco).

Carta Aberta a um pequeno bastardo

Meu caro amigo,

Escrevo-te para corrigir algumas imprecisões da tua carta aberta.

1- Ser sectário não é pertencer a um grupo (estando ou não filiado). Ser sectário é tornar-se fanático nessa relação de pertença, perdendo-se o sentido crítico em relação ao seu grupo, e sendo-se tendencioso na relação e na apreciação dos grupos adversários. Deste modo, não enfio o carapuço do "sectarismo", porque em variadíssimas circunstâncias (inclusive neste tasco) sempre critiquei livremente o BE, e sempre elogiei as características positivas dos outros partidos, e sempre defendi que deve haver plataformas de entendimento entre os diversos partidos de esquerda. Tu podes não ser filiado em nenhum partido, mas revelas-te sectário ao dividires o mundo entre o bem e o mal, o bem do lado da tua tua esquerda pura e venerável e o mal do lado das outras esquerdas impuras e aburguesadas.

2- Dizes que a esquerda é menos pragmática, que só lhe interessa a consciência e a intenção, independentemente das consequências. Na minha opinião, isso é uma visão muito distorcida do que é a esquerda. Para mim, sempre entendi a esquerda como um projecto político de efectiva transformação do mundo, no sentido de o tornar efectivamente mais igualitário. A proclamação de stataments abstractos de igualdade, que não tenham a mínima hipótese de se materializar numa diminuição concreta e efectiva das desigualdades, pode ser bom para a tua consciência mas de pouco serve as causas da esquerda.

3- Depois do Alegre ter andado anos numa geurrilha ideológica interna com o Sócrates, e de ter concorrido para as presidenciais sem o aval do PS e contra o candidato oficial do PS, dizeres que o Alegre é um "pau- mandado do PS" é, no mínimo, absurdo.

4- Como tu próprio o assumiste, a função do presidente não é servir de contra-poder, mas sim de ser um árbitro e moderador imparcial que garanta o bom funcionamento de todas as instituições. A função de contra-poder cabe à oposição. Logo, a tua teoria que roubaste a Soares que não se deve pôr todos os ovos no mesmo cesto, não pega. Na minha opinião, o Cavaco tem sido um mau presidente por não conseguir a imparcialidade devida, funcionando como mero contra-poder. O Alegre, ao ter revelado independência em relação ao seu próprio partido, tem demonstrado que poderá assegurar a independência e imparcialidade que é devida num presidente.

Um abraço,

o amarelo

A quem encontrar um clip mais politicamente incorrecto, oferece-se um alvo para dardos com a cara do Alegre e a frase "A mim ninguém me acerta"

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Carta aberta ao Homem do Estupefacto Amarelo

Caro Homem do Estupefacto Amarelo,

esta carta aberta é uma resposta à carta aberta que escreveste ao amigo Papousse. Ele sabe bem responder por si, mas aproveito o espaço de uma posta para espraiar o que penso sobre o assunto, não confinado às irritantes caixas de comentário.

Concordo contigo que Manuel Alegre é o candidato mais forte para, como tu dizes, "unir as esquerdas". A questão é que, para merecer o meu voto, não basta isso. É preciso eu reconhecer-lhe algum mérito, alguma capacidade, alguma verticalidade, algum carisma verdadeiro (e não aquela fleuma balofa algures entre o Júlio Machado Vaz e um caçador de Borba).
Se quiseres, é o mesmo argumento que uso para ser contra os Pepes, os Decos e os Liedsons na selecção. Sei que com eles temos mais hipóteses de ganhar, mas ganhar não é tudo.

Em segundo lugar, creio que há aqui uma confusão. Não estamos a falar de uma eleição para primeiro-ministro. O Cavaco é um medíocre, boçal e provinciano tecnocrata, mas na presidência não tem hipóteses de fazer grande mal. O único mal que pode causar é ao Governo, e ao teu amigo Sócrates (fodi-te com esta, na foi?). Ora o meu argumento é exactamente este. Um presidente deve funcionar como equilibrador da democracia. Quando estamos perante um Governo autista, centralizado, autocrático e desrespeitador de tudo e tudos, como o que temos (ou tu és daqueles que acredita na nova pele de cordeirinho do teu amigo Sócrates?), o que é preciso é um Presidente que tenha o PM em sentido.
E a verdade é que só sendo muito ingénuo podes acreditar que Alegre fará algum tipo de contra-poder a Sócrates.
Em teoria, o Presidente não devia servir sobretudo de contra-peso. Mas em teoria o primeiro-ministro Sócrates não se devia comportar como se comporta, um pequeno ditador arreliado e desgostoso pelo facto de este país de merda não idolatrar a sua brilhante presença, a dádiva de Deus a Portugal.
Concretizando: com este Governo, prefiro ter Cavaco na presidência do que Alegre. Do que Alegre ou do que qualquer pau-mandado do PS.
Já chega de xuxas. Estão em todo o lado. No Estado, nas empresas públicas e privadas, na comunicação social. O PS é um polvo sedento que não sabe nem quer parar de crescer.

Sei que Cavaco é mau. É muito mau, mesmo. Como PM, foi o perfeito tecnocrata. Toma lá guita para estradas, tudo na missa e não dêem chatices. Lembro-me bem do ar putrefacto que se respirava neste país. Mas a verdade é que o problema deste país, de há cinco anos para cá, não se chama Cavaco. Chama-se Sócrates, e chama-se Partido "Socialista".

Falaste de realpolitik. Isto é que é realpolitik. Um tipo de esquerda como eu preferir, nestas circunstâncias, ter Cavaco em Belém, e Sócrates com algum respeitinho.

Quanto à união, não me parece um fim que justifique todos os meios. Não é por causa dos meninos do PP apoiarem um tipo do PSD para poderem abrir as garrafas de champanhe na noite de eleições que isso me leva a fazer o mesmo em relação a Alegre.

Se calhar é por isso que a Esquerda é diferente. Será menos pragmática, e se calhar isso dará a vitória a Cavaco. Não estou preocupado. Quero é viver bem com a minha consciência e servir-me do meu voto, o único instrumento que me dão, para expressar a minha opinião.

PS: não queria que as coisas chegassem a este ponto, mas chamaste-me sectário, o que é estranho num tipo que foi filiado no BE, ao passo que eu só sou filiado no Benfica (e com as quotas em dia). Como tal, recomendo-te mais respeitinho, ou serei forçado a divulgar ao mundo que o teu tabuleiro de Trivial Pursuit tinha sempre pintelhos no meio dos queijinhos.
Se eu divulgasse isto, aposto que terias dificuldade em explicar-te, meu menino.

O teu amigo,

Little Bastard.

Carta aberta a Papousse

Caro Papousse,

Em política, um Manuel Alegre nunca é apenas um Manuel Alegre. Em política, um Manuel Alegre é um Manuel Alegre mais as circunstâncias políticas que o rodeiam. E, como eu referi, as circunstâncias são as seguintes:

1- Direita unida em torno de um candidato forte, em contexto favorável de recandidatura;

2- Para a esquerda ter a mínima hipótese neste combate presidencial, tem que estar: (a) igualmente unida; (b) encontrar um candidato forte.

3- Alegre é um bom candidato para unir a esquerda, na medida em que: (a) pertence à ala esquerda do PS; (b) participou na luta anti-fascista; (c)
tem criticado abertamente Sócrates pela viragem social-liberal do seu partido; (d) teve uma candidatura independente do PS nas últimas presidenciais; (e) estabeleceu diálogos construtivos com outras forças políticas à sua esquerda.

4- Alegre é um candidato forte porque: (a) teve um excelente resultado nas últimas eleições, ainda para mais sem o apoio de qualquer partido; (b) é o pré-candidato de esquerda mais falado e mediatizado.

4- Face ao atrás exposto, Alegre parece ser o candidato de esquerda não só mais forte como também em melhores condições para unir a esquerda.

Posso estar enganado, mas se o tiver passo a batata quente para ti de me provares quais são, afinal, os pré-candidatos mais fortes e mais capazes de unir a esquerda do que Alegre.

Com as melhores saudações esquerdistas,

o homem do estupefacto amarelo

Jude Law, mais coisa menos coisa


A mim ninguém me cala

O meu amigo Little Bastard acusa-me de incorrer no erro de considerar o PS como um partido de esquerda. Bastard responde-me utilizando um dos truques clássicos do sectarismo à esquerda: considerar que só há uma esquerda, a pura, a da Bayer, que por acaso é a sua, e que todas as outras são sempre direitas travestidas de esquerda. Foi nessa lógica que Estaline designou os sociais-democratas de sociais fascistas. Foi nessa lógica que que, nos tempos do PREC, o MRPP pediu emprestado a Estaline o mesmo vocábulo e o arremessou contra os sociais-fascistas do PCP. É na mesma lógica que bloquistas e socialistas sectários acusam os comunistas de defenderem um totalitarismo muito próximo do fascista. E é na mesma lógica que comunistas sectários acusam os bloquistas de serem sociais democratas disfarçados. E é na mesmíssima lógica sectária que o Bastard, para justificar a sua posição de que não deve haver uma união PS, PCP, BE em torno de uma candidatura presidencial, descarta o apoio a qualquer candidato do PS porque "não é de esquerda". Ora, eu concordo com Bastard que o PS, do ponto de vista ideológico, tem feito uma perigosa viragem à direita numa série de aspectos. Mas tratar o PS como um partido de direita igual ao PSD (como parece estar subentendido nas palavras do Bastard) é uma caricatura grosseira da realidade política, já que quer em termos sociais (diminuição das desigualdades, aumento do salário mínimo, investimento em políticas sociais como o rendimento mínimo, etc.) quer em termos dos costumes (despenalização do aborto, fim do divórcio litigioso, acesso dos homossexuais ao casamento, etc.), o PS tem demonstrado estar claramente à esquerda do PSD, o que, na minha opinião, é razão suficiente para os outros partidos de esquerda abandonarem as suas mesquinhas quezílias fratricidas e se unirem contra um adversário comum. Se a esquerda continuar a insistir na via suicidária do sectarismo, continuará a ser o que sempre foi: a principal responsável pelo enviesamento à direita do nosso sistema político.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Eu seja ceguinho

Continuo a achar a conversa algo desfasada do seu tempo (nem sabemos se o Cavaco é concorrente), mas prossigamos com ela.

Porque eu já devia estar há 15 minutos a 15 Km daqui, direi a correr e com erros que discordo desta obsessão de alguma esquerda em tirar o Cavaco do cargo. A obsessão é tal que não hesitam em catalogar como sectários todos aqueles que, sendo de esquerda, não vejam nesse desiderato uma razão suficientemente forte para prometer desde já o seu voto a favor de qualquer candidato com conexões (estéticas) à esquerda.

Esse candidato, determinou-se, será o Manuel Alegre. Ora, desculpem ser tão excêntrico, mas insisto em ver no Manuel Alegre o Manuel Alegre. E no Manuel Alegre vejo um ex-deputado que, com excepção de excepções - voto contra código do trabalho, voto a favor eliminação de taxas moderadoras, algumas abstenções inócuas e pouco mais – não passou de um alinhadinho deputado socialista.

Pegando só nos últimos anos, podemos observar, por exemplo, episódios como os orçamentos de 2006 a 2009. Em 2006, depois de muita crítica sobre o documento, faltou, bravo e corajoso, à sessão parlamentar, não sem antes avisar o líder parlamentar que caso fosse essencial a sua presença para a aprovação do orçamento, lá estaria sentadinho na sua cadeira para cumprir o dever. De 2007 a 2009, igualmente depois de muita crítica aos documentos, votou-os favoravelmente. Podemos ainda falar na inenarrável postura que manteve aquando das votações sobre o referendo e a aprovação do Tratado de Lisboa. Defendia ele, recordo, que o Tratado só podia vigorar após ser referendado. A verdade é que se absteve quando a possibilidade de referendo foi colocada no parlamento, dando posteriormente o seu voto favorável à imediata entrada em vigor do referido Tratado.

Em suma, mal irá a esquerda (todas as esquerdas) se, a 12 de Janeiro de 2010, tiver já desistido de pensar noutro candidato presidencial.

Facto é que conheço muita gente que há vinte e tal anos engoliu o Sapo Soares. E garanto-vos que hoje, olhando para trás, nenhum destes engolidores (que conheço) vê nesse voto uma decisão sábia.

O Disco da Minha Vida VIII



Em primeiro lugar, uma declaração de interesses: desde que conheci a sério a sua música, há coisa de quatro ou cinco anos, que vivo obcecado com Serge Gainsbourg. Comprei os discos todos, li livros, ouvi versões. Acho-o provavelmente o maior génio musical do século XX. A partir daqui, o resto deve ser lido com o necessário desconto, tendo em atenção o que acabei de dizer.

Quem o conhece, de todo, conhece sobretudo o "Je t'aime...moi non plus", música absolutamente fabulosa em todos os sentidos, que simbolizou para a geração dos nossos pais o início tímido da transgressão sexual.
Em 1970, Gainsbourg já era a maior figura musical de França. No activo desde o final dos anos 50, com vários discos no currículo, começava a ganhar a aura de freak genial, mudando de estilos musicais sempre com grande mestria e um sentido pop inigualável, sustentado nos seus profundos conhecimentos de jazz e de arranjos clássicos. E, claro, havia sido o companheiro de Brigite Bardot, o monstro misógeno que conquistara a bela mais desejada do mundo.
Em 1970, compra um Rolls-Royce. Gainsbourg, o excêntrico, não conduzia nem tinha chauffeur. Para se deslocar, com o auxílio de outros, tinha um bem mais prosaico Citroen 2 cavalos. O Rolls, esse, ficava na garagem, e era para lá que ele se dirigia com amigos, para beber, fumar e conversar. Nas suas palavras, "o Rolls era um bom carro. Serviu-me de cinzeiro durante dez anos".
Estava também apaixonado. Quem conhece bem o seu trabalho, sabe que nunca produziu música melhor do que quando esteve realmente enamorado. Primeiro BB, em 1970 Jane Birkin, a jovem ninfeta inglesa que ilustra a capa de "Historie de Melody Nelson".
Juntamente com Jean-Claude Vannier, que fez os arranjos dos seus melhores discos, Serge trabalhava naquele que não era apenas o mais ambicioso trabalho da sua carreira, viria a ser o melhor.
É um disco conceptual que se ouve como se não o fosse. Ode ao amor (à quase pedofilia?) entre uma jovem de 15 anos e o seu encontro iniciático com um homem mais velho que com ela se fascina, o disco tem apenas sete faixas e pouco mais de meia hora de duração. Tal como outro dos meus grandes favoritos "L'Homme a téte de chou" - também ele conceptual - as melodias vêm e vão, encontram-se mais tarde noutras faixas, completam-se. No fim, ficamos com um documento de um génio na mais absoluta posse de todas as suas faculdades: rock, ié-ié, jazz, clássico, e um sentido incrívelmente sensual nos arranjos e na composição, enfim, tudo com as letras, inigualáveis, do monstro Gainsbourg. Ele que, até ao fim da sua vida, fez discos de todos os géneros, tem em "Histoire de Melody Nelson" a súmula de todo o seu trabalho. Tirando o reggae, que explorou em vários discos mais tarde, tudo o que alguma vez fez tem lugar neste disco, de uma forma absolutamente coerente.
Sei que, provavelmente, para quem não conhece o disco ou o autor, não estarei a explicar muito bem que raio de disco é. Estou a ouvi-lo e, como sempre acontece, estou hipnotizado. Não agarra ao início, mas ganha com cada audição. E com um copo de bom vinho ou uma ervinha, e apenas olhar para o tecto a ouvir cada nota, cada arranjo, cada pormenor, é a experiência que mostra tudo o que a boa música pode ser.

Para quem acha que Bowie é, de facto, o camaleão, Gainsbourg mostra o que é a verdadeira reinvenção. Até ao momento em que, criticado por ter feito uma versão reggae do hino francês, comprou em leilão o manuscrito da letra do hino, como que dizendo que, a partir daquele momento, podia fazer o que quisesse com ele.

Por todos os motivos, é na minha opinião o melhor disco "pop" alguma vez feito. Porque pop pode ser negro, profundo, elegante e consequente.

Agora, com a vossa licença, vou ali carregar de novo no play.

Vodka Alegre



Aqui vai o meu pequeno pedaço no Vodka Atónito a que tenho direito sobre a candidatura do Alegre.

No meu entender, uma posição sectária da esquerda, materializada na sua incapacidade de se unir em torno de uma candidatura comum, só beneficia a direita, que, como já é habitual, tem a inteligência política para fazer essa união (neste caso, em torno de Cavaco). Até agora, independentemente dos muitos defeitos políticos que certamente Alegre tem (já apontados por diversos ilustres cá do tasco), a independência que demonstrou no passado em relação ao seu partido (concorrendo contra a candidatura oficial do PS e tecendo duras críticas ao enviesamento liberal do partido que ajudou a fundar) tornam-no, a meu ver, o candidato em melhor posição para unir a esquerda neste duro combate contra Cavaco. Não nos esqueçamos que se trata de lutar contra o padrão histórico de até hoje os presidentes em primeiro mandato terem ganho sempre as eleições para um segundo mandato.

Sobre o voto em branco, já discorri em posta anterior sobre a sua inconsequência. Cada voto em branco é um voto a menos na esquerda, só favorecendo o Cavaco. Deste modo, como não me esqueço da tragédia política e social que foi o cavaquismo, apresento aqui publicamente o meu pré-apoio à pré-candidatura de Manuel Alegre.

É impressão minha, ou ainda falta um colhão de tempo para as eleições presidenciais?

Pois falta. Mas, sabe-se lá porquê, desatou um sexto de Portugal a tecer considerações sobre os presenciáveis da esquerda. E, quanto a isso, devo confessar que, com as cartas que estão sobre a mesa, não estou particularmente empenhado em ir a jogo.

Dar-me-ia gozo uma possível derrota do Cavaco? Sim, mas daí a que, a esta distância, tenha que ver cativado o meu voto a favor do Manuel Alegre, em jeito de imperativo ético de esquerda, já me parece francamente de mais.

Se o cenário se vier colocar, logo decidirei se votarei em branco ou nalgum dos dois. Mas, até lá, apenas tenho por certo isto: não fazem o meu género de homem.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A Volta a Portugal em Jantaradas

Foi com esta magnífica frase que o jornalista José Sobral definiu a ridícula pré-campanha de Manuel Alegre para as presidenciais. Toda a gente sabe que ele quer, o PS já decidiu que o vai apoiar, o próprio Alegre passou as últimas semanas abrir as perninhas ao Sócrates, tentando ser discreto mas sendo absolutamente transparente.
Numa entrevista ao "Expresso", que o jornal anunciou como sendo "a entrevista decisiva", ainda assim ficámos na mesma. Ele vai mas não diz que vai, qual Domingos Paciência com medo de assumir a candiatura ao título.
Tudo se resumiu a ataques a Cavaco, baseando-se numa simples premissa: Cavaco está a meter-se na governação e não deixa o Governo fazer o seu trabalho.
Com este simples statement, Alegre acaba de me dar o argumento ideal para não votar nele. Isto porque, por exclusão de partes, isto quer dizer que Alegre não se quer meter na governação, e quer deixar o Governo à vontadinha. Isto é óbvio e não seria preciso ele explicar-se tão bem.
A verdade é que com um tipo tão autista, autoritário e desrespeitador da opinião dos outros como Sócrates, a última coisa de que precisamos é de um presidente cooperante, ainda por cima que faça poemas de merda.
Com o seu comportamento das últimas semanas, ficou claro para quem pudesse não o saber, que Alegre é um político calculista e muito bem domesticado. Com a promessa de ser o candidato do PS, as críticas tornaram-se tímidas, os alvos Cavaco e a Oposição. O PS e o Governo passou a ser fabuloso.
Ele diz que ninguém o cala. A verdade é que ele se cala sozinho, desde que lhe prometam o tacho certo.

Por mim, venha o Candidato Vieira.

Santo António dos Cavaleiros



Caro leitor (isto supondo que alguém teria a insensatez de desperdiçar o seu tempo de uma forma tão leviana), imagine por momentos que enquanto bebia descontraídamente um Whisky num snack-bar em Santo António dos Cavaleiros, ouvia, atrás de si, alguém dizer: "Não tenho casa, nem mulher, nem filhos, nem país, nem irmãos. Os meus amigos só são meus amigos na medida em que pensam politicamente como eu". Certamente pensaria que tinha entrado no mesmo café do que o Vitalino Canas, mas, já decidido a mudar de poiso, vira-se para trás e, qual não é o seu espanto, quando vê, afinal, Che Guevara, fumando um pensativo charuto cubano e bebendo devagar uma Cuba Livre. Ainda não refeito da sua surpresa, olha para a mesa ao lado e repara num sujeito um pouco ossudo e esquálido (que, pelo gin barato que leva à boca, imediatamente reconhece como George Orwell) a dizer o seguinte: "Ser humano significa essencialmente que não se procura a perfeição, que até mesmo por fidelidade, se está disposto a cometer muitos pecados; que se recusa levar ao ascetismo ao ponto em que a amizade se torna impossível e que se está disposto, no fim de contas, a deixar que a vida nos vença e nos quebre - inevitável preço a pagar por quem corre o risco de amar outros indivíduos". Com qual dos dois gostaria de beber um copo?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Fuck Prog Metal

sábado, 9 de janeiro de 2010

Não havia necessidade


Nós sabemos que há por aí muita gaja, e até muitos gajos, que andam a precisar de levar com ele.

Um dos melhores exemplos é Clara Pinto Correia, que diz que é bióloga e escritora, e ultimamente enveredou pela carreira de "what the fuck?!".

Acaba de ser inaugurada uma exposição fotográfica composta por, basicamente, fotos da senhora a levar com ele. Atenção, não há nada de porcarias, são fotos apenas da cara da senhora, durante o acto.

Pelo que conseguimos saber, o sucesso está a ser de tal forma que já estão planeadas mais duas exposições que cartografam momentos íntimos de duas autoras: Rosa Lobato Faria a cagar e Margarida Rebelo Pinto no processo de retirar o tampão.


PS: quem tirou as fotos foi o "companheiro" de Clara Pinto Correia, presumivelmente enquanto lho espetava. No entanto, as imagens não estão nada tremidas. Ou o tipo é um ganda fotógrafo ou estavam numa de tântrico.

A história do beco



Na posta anterior, o nosso amigo bastardo dissecou muito bem o beco orçamental em que nos encontramos hoje. Mas o beco tem uma história (política e económica) que vale a pena contar. Entre a 2ª Gerra Mundial e os anos 70, dominou no mundo capitalista uma política económica de forte regulação do mercado através do Estado. Resultado: 30 anos gloriosos de crescimento económico, estabilidade económica, diminuição das desigualdades e um forte compromisso entre o Capital e o Trabalho. No início dos anos 80, quando o bloco soviético estava já à beira de se desmoronar, deixou de haver o medo do papão do comunismo, pelo que já não existia qualquer necessidade de compromisso entre o Capital e o Trabalho. O Capital podia mostrar outra vez as suas garras. O Trabalho que se fodesse. O liberalismo estava de volta. Os testas de ferro foram o Reagan e a Thatcher. Os verdadeiros actores foram os grande lobbys financeiros e económicos, sequiosos de aumentar novamente as suas ávidas margens de lucro, transferindo de novo os custos para os trabalhadores. E assim Reagan proclamou: o Estado não é a solução, o Estado é o problema". Tratou-se então de desmantelar o Estado Social e Regulador (mas não o Estado Militar, como é evidente), em nome do mito de que o mercado entregue a si próprio se auto-regula através da mão invisível do próprio mercado. Mas acontece, como já alguém o disse, que há uma boa razão para essa mão ser invisível: é que ela não existe. Resultado: nas últimas três décadas houve menor crescimento económico, maior desigualdade e sobretudo maior instabilidade financeira e económica, traduzida numa maior frequência e intensidade das crises intrínsecas do capitalismo, que atingiu o seu expoente máximo com a recente crise do subprime, que rapidamente se transformou na maior crise financeira e económica desde 1929. E, como sempre acontece, os capitalistas que são tão liberais em períodos de crescimento económico (não deixando o Estado e os cidadãos meter a pata nos seus lucros privados), depois da bolha especulativa rebentar tornam-se todos perigosos socialistas, defendendo a socialização dos prejuízos através da injecçao massiva de dinheiro dos contribuintes. E é neste contexto que surge a actual crise orçamental. Face a uma crise financeira e económica brutal (provocada pelo triunfo da direita liberal e do seu fundamentalismo de mercado que contaminou os próprios partidos sociais democratas pelo mundo fora, como é bem patante com o nosso PS, que deverá assumir a sua quota de responsabilidade nesta crise, pela sua viragem ideológica rumo ao social-liberalismo, porque a culpa não pode morrer solteira), não resta outra alternativa aos Estados senão combater a crise de procura privada com estímulos públicos. Porque os riscos económicos do Estado não fazer nada (mantendo a ortodoxia da consolidação orçamental) são muito superiores aos riscos económicos do Estado intervir de forma contra-cíclica, suprindo a diminuição da procura privada através do aumento do défice e da dívida pública. E o que é extremamente irónico é que as mesmas agências de rating (privadas) que agora se apressam a foder à grande as classificações dos Estados (inclusive o nosso) quanto ao risco de incumprimento com o pagamento aos credores externos (fazendo aumentar os juros do endividamento externo e, portanto, gerando um aumento exponencial da dívida pública), foram as mesmas que irresponsavelmente deram classificações máximas aos grandes bancos e empresas americanas (seus abastados clientes, que lhes pagavam o serviço de notação do risco, gerando evidentes conflitos de interesse) que, com as suas práticas de gestão opacas, gananciosas e repletas de risco sistémico, arrastaram em dominó todo o mundo globalizado para esta crise filha da puta.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O Beco

Depois de o PS ter escrito à Oposição, e de Aguiar Cancro ter escrito ao PS, os CTT estão a ter o melhor início de ano desde a guerra do Ultramar.

Depois do pseudo-convite de Sócrates à Oposição para ajudar a formar Governo, agora é convite para conversar, tomar um café, ir a um cineminha e levar no cuzinho, para aprovar o orçamento de Estado para 2010.
Estamos agora num passo à frente. Já não se trata apenas do orçamento, mas sim de um pacto, a 4 anos, para resolver os problemas das contas públicas.

Well, well, well.

E é aqui que a porca torce o rabo.

A questão é simples: o Estado gasta mais do que tem. Para isso pede dinheiro ao estrangeiro. Dinheiro que nós e os nossos descendentes teremos, naturalmente, de pagar.
Isto só se resolve de uma de duas maneiras: ou se arranja mais receita ou se corta na despesa.
Do lado da receita, a coisa está complicada. Parece-me inevitável que tenhamos, no espaço de dois anos, um aumento dos impostos. Provavelmente será encapotado, o Governo não vai assumir que está a aumentar impostos, mas vamos levar com eles na mesma. No entanto, a economia está de tal forma de rastos, que há um sério risco económico em aumentar os impostos. Consegue-se mais receita no imediato, mas sufoca-se a economia ao tirar-lhe dinheiro, que vai direitinho para os bolsos do Estado. É claro que podemos sempre usar o argumento que é preciso é aumentar os impostos dos mais ricos, cobrar mais aos bancos e às grandes empresas, etc e tal. E eu concordo com isso, mas não resolvia o problema. O nível de receita de que precisamos implica um assalto sistemático e generalizado aos nossos depauperados bolsos.

Na despesa, a conversa é outra. Boa parte é pagamento de dívida internacional, que temos de cumprir.
Depois há as prestações sociais, que não dá para cortar muito. Dá para fiscalizar melhor e cortar as muitas situações fraudulentas que existem, mas não fará grande diferença em termos de guita.
Depois há os grandes investimentos, estradas, pontes, aeroportos e brincadeiras do género. Na minha modesta opinião - e mesmo que parte do dinheiro venha de fora - devíamos cancelar boa parte e adiar o resto. Parece-me óbvio.
Por último, os salários dos funcionários públicos. Há casos e casos. Não me parece que tenhamos médicos a mais, mas em quase tudo o resto parece-me uma evidência que assim é. Mas o que fazer aqui? Despedir é uma via. Mas aqui, o que se poupa em salários vai pagar-se em subsídio de desemprego. Em termos teóricos, haveria um período duríssimo em termos sociais e, a médio prazo, a economia privada absorveria boa parte dos trabalhadores activos. Mas isso é o que dizem os livros.

Uma coisa é certa: isto como está não pode continuar, e é preciso uma estratégia coerente para atacar o problema. E, de preferência que não sejam os mesmos de sempre a pagar.

Se um pacto PS/PSD consegue fazer isto bem, já tenho sérias dúvidas.

Touché

Frase de Nicolas Sarkozy, após receber José Sócrates, em Paris:

"Ele diz que é socialista. Eu não sou. E venho a descobrir que concordamos em quase tudo".

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Salazar tinha razão



No outro dia, um gajo vira-se para mim, escarra para o chão e diz, a China não pode aumentar os salários e investir no crescimento do seu mercado interno, os gajos são tantos, que o planeta não aguenta. Eu achei-lhe piada, é bom um gajo aqui no ocidente continuar com o nosso american way of life (versão português suave), com não sei quantos carros e LCDs (para quando os vibradores HD?, para depois evangelizarmos os nossos irmãos subdesenvolvidos com a nossa cartilha ecologista, dizendo-lhes que não podem aumentar o seu nível de vida porque calçam o 47 em termos de potencial pegada ecológica, pelo que devem continuar a assentar o seu crescimento económico no mercado externo e nos baixos salários. É evidente que há um fundo de verdade em tudo isto, já que é impossível em termos de sustentabilidade ecológica todo o mundo ter os padrões de vida do mundo ocidental. E não falo sequer dos padrões dos Estados Unidos ou da Alemanha, falo mesmo dos padrões do nosso pobre rectângulo à beira-mar plantado: li no outro dia que se todo o mundo tivesse o nível de vida de Portugal, seriam precisos dois planetas inteirinhos para suportar a consequente pegada ecológica. Mas é claro que a pior das mentiras é uma meia verdade. E a meia verdade radica no colonialismo encapotado de muitos dos ocidentais que querem impor barreiras ao crescimento descontrolado dos países em vias de desenvolvimento, sem pôr em causa a sociedade de abundância e consumo do primeiro mundo. Porque se quisermos conciliar sustentabilidade ecológica com crescimento económico equitativo, é forçoso reconhecer, de acordo com a estatística atrás referida, que todos os países do mundo deverão ter sensivelmente o mesmo nível de vida, e que este só poderá ser de sensivelmente metado do de Portugal. O que significa que os países subdesenvolvidos terão que crescer até esse patamar, enquanto os países desenvolvidos terão que decrescer até ao mesmo patamar. É claro que nenhum partido político, seja de esquerda ou de direita, teve ou terá a coragem política para defender esta, sim, verdade, inconveniente, pelo suicídio político que esta posição implicaria. Mas a verdade é mesmo essa: riqueza e sustentabilidade ecológica nunca se deram bem. A malta bem pode propangadear as novas bandeiras da eficiência energética e da aposta nas energias renováveis, mas isso é pura demagogia: mesmo um investimento considerável em ambas pouco diminuiria a pegada ecológica, se os níveis gerais de produção e consumo não descessem consideravelmente. Pode parecer moralista mas só a pobreza (definida enquanto metade do nível de vida português actual) bem distribuída pelo mundo poderá salvar o planeta da sua total destruição. Salazar tinha razão.

Homenagem


Foi-se Lhasa de Sela. O seu primeiro disco, La Llorona, continua a ser um dos meus albuns preferidos. Cheguei a casa, tendo sabido da sua morte pelo jornal, e estive a ouvi-la.
Foi jovem, mas fez o suficiente.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O elogio da rotunda



Para mim rotundas são sinónimo de liberdade. Se não sei qual a saída correcta, não faz mal, posso sempre continuar a circular, às voltas, às voltas, como uma criança feliz girando num carrocel, dando-me todo o tempo do mundo para pensar, matutar, debater e polemizar sobre qual é afinal a saída correcta. Quando a rotina dos meus dias me aperta até à asfixia, pego no meu carro e lá vou eu rumo à liberdade da primeira rotunda que me aparece, a rodopiar, rodopiar, durante toda a eternidade, e como eu me rio dos polícias que me olham desconfiados, procurando um qualquer pretexto para me mandarem parar mas não podem, pois não há uma única alínea em todo o código da estrada que me impeça de continuar a circular sem parar numa rotunda, como quem joga uma partida de ténis que, por não ter qualquer limite de tempo, se poderá prolongar por toda a eternidade.

Declaração de Interesses: Sou vogal do Conselho de Administração da Rotundex, Lda.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Acordo pornográfico



O Vodka Atónito vem por este meio relembrar todos os seus autores e comentadores que, a partir de 1 de Janeiro de 2010, estará completamente interdita, em qualquer post ou comentário deste blog, a palavra "punhecta".

CinemaScope



A minha questão filosófica de hoje é a seguinte: porque é que o pessoal da minha geração insiste em continuar a desperdiçar dinheiro em discos em vez de os adquirir exclusivamente através de downloads gratuitos e ilegais? A primeira hipótese seria invocar a existência de escrúpulos morais. Trata-se, é evidente, de uma hipótese totalmente absurda: para uma geração que cresceu a ver o "1,2,3", o conceito de escrúpulo moral é-lhe totalmente estranho. Descartada esta primeira tentativa, resta-nos apelar para uma hipótese um pouco mais ortodoxa: a minha geração, ao ter crescido ainda no tempo em que só havia discos (primeiro, vinis; depois, CDs), desenvolveu uma relação afectiva não só com as músicas mas também com o seu suporte físico. Ora, sempre pensei que esta hipótese seria igualmente inverosímil: a minha geração cresceu a ver "Os Heróis de Shaolin, logo, não estabelece coisas tão pouco viris como "relações afectivas". Contudo, ao contrário do que costuma suceder, o meu instinto filosófico revelou-se profundamente errado. Ontem, quando fui ao cinema, encontrei um colega meu do secundário que não via há 17 anos. Estava em boa forma, bem vestido, um sorriso triunfante pendurado nos lábios, e passou toda a escuridão do filme a enfiar voluptuosamente o dedo no buraco de um CD de uma cantora Pop sueca bem parecida que eu desconhecia.

Uhuuuuuuu... Uhuuuu... Pouca-terra... Pouca-terra...

Margarida Rebelo Pinto: "Tenho um macho alfa cá dentro"

...pena é a Guidinha não ter é um Alfa Pendular a passar sobre ela de um quarto em um quarto de hora...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Nem Freud explica...

Se há algo de fundamental que marcou os anos 00, os que acabaram agora, foi a elevação de verdadeiras merdas ao estatuto de figura pública.
A receita é simples: junta-se alguém completamente desprovido de talento (alguém sem o mínimo Malato, digamos assim), que não saiba realmente fazer seja o que for mas que está disponível a tudo para aparecer.
O maior símbolo deste fenómeno é, talvez, a Maya. Era cartomante, que como se sabe é uma coisa qualquer, depois virou alcoviteira profissional de programas da manhã (falar mal dos outros na televisão fingindo-se preocupada com essas pessoas), depois relações públicas e cobaia para operações às mamas.
Entre este verdadeiro exército de Cláudios Ramos e Zés Marias, há uma personagem que sempre foi tratada com muito carinho aqui no Vodka (e não, não é esse monstro da representação chamado Diogo Morgado): estamos a falar da Solange F.

Esta rapariguinha diz que era apresentadora de uma coisa que é o Curto Circuito, também ele um repositório de pérolas de merda fumegante para a geração que só nos 00 começou a molhar o pincel. Mas, visto não ter grande jeito para nada, usou um truque espectacular para subir ao panteão da mediocridade revisteira: revelou-se fufa, através de uma célebre capa da revista do Expresso em que dizia a frase: "Sim, sou lésbica, e então?", como se alguém quisesse realmente saber.

Isto rendeu-lhe alguma atenção e alguns fãs, nomeadamente da comunidade gay, que era capaz de idolatrar o Hitler se ele chupasse pichas.

Ainda assim, não era suficiente, pelo que optou por engravidar. Depois posou nua já grávida, numa produção digna de Alessandra Vanini meets mecânica de motas.

E agora, a cereja em cima do bolo, divulgou finalmente ao mundo a informação mais desejada: o nome do seu rebento.

E...não sei bem como dizer isto, mas...o nome da desgraçada da sua filhota é...Nuna.

PS - Isto é verídico, como se costuma dizer.

Ato falhado

Não sei se repararam, mas já está em vigor, em Portugal, o novo aborto...perdão, acordo ortográfico. Para quem não sabe o que é, a gente explica: supostamente é uma forma de uniformizar a forma escrita da língua portuguesa junto de todos os povos que a utilizam; na prática, quer dizer que nós passamos a escrever igual aos brasileiros, enquanto o resto do mundo lusófono se está, e muito bem, realmente cagando.
Andam os catolicuzinhos preocupados com os casamentos gay, a pedirem referendos, e não vejo ninguém preocupado com aquilo que é, na minha modesta opinião, um assassinato à nossa língua. Eu, que estou entre os 17 portugueses que sabem escrever, adoro esta língua e considero que é provavelmente o património mais valioso que temos. E custa-me ver ser tomada esta decisão, de mansinho, como se não fosse nada, como se fosse irrelevante.
Na verdade, é bastante coerente com tudo o que tem acontecido na sociedade portuguesa nas últimas décadas, nomeadamente a queda brutal do nível cultural das pessoas. É ainda a medida perfeita para os nossos últimos governantes, entre eles o Sócrates. É exactamente o seu estilo. Uma medida modernaça, que vai dar dinheiro a alguns amigos seleccionados, que não serve para nada.
O desprezo com que os nossos governantes olham para a nossa cultura e para a nossa língua é simples de explicar: basta olhar para o seu miserável nível intelectual.
Por mim, continuarei a escrever como dantes.
E, atrevo-me a falar em nome de todos os proprietários deste tasco, o Vodka não adere a essa merda.

Spielberg + Paulo Coelho + Schwarzenegger


Futebol inglês



Dos cinco sentidos, o mais importante é, sem dúvida, o sentido de humor. Sentidos menores como a visão e a audição podem-nos dar imenso jeito para conseguirmos apanhar todos os dias um autocarro com problemas demográficos de casa para o trabalho e do trabalho para casa, mas só o sentido de humor nos permite rir disso. Uma pessoa com uma excelente visão mas sem sentido de humor pode ser seleccionado para piloto de aviação mas não soltará nenhuma gargalhada com as meias brancas do terrorista prestes a arremessar o seu avião contra um arranha-céus. Mas o ponto de vista é importante. Do ponto de vista da pessoa desprovida de qualquer sentido de humor, o universo não tem qualquer piada. Do ponto de vista da pessoa mais humorada, é quase tão engraçado observar um deficiente humorístico a tropeçar nos sucessivos absurdos da nossa existência, como observar um ceguinho a tropeçar para a linha de metro e ninguém o acudir porque se tem que voltar depressa para casa a tempo de ver um jogo do campeonato inglês (eu sou o único que ajudo o ceguinho porque tenho o MEO). Nem todas as pessoas inteligentes têm sentido de humor mas todas as pessoas com sentido de humor são inteligentes. Há uma terceira categoria de pessoas (onde me incluo) que aliam a falta de inteligência à ausência de sentido de humor. Estas pessoas não sofrem nada por não estarem munidas de sentido de humor, porque lhes falta a inteligência para detectar as situações onde dá imenso jeito contar com a protecção cínica e distanciada que só o humor lhes poderia dar. Para estas pessoas, a vida é como o futebol inglês: simples, rápida, mas sem qualquer piada. Agora desculpem-me terminar assim a posta à pressa, mas ainda tenho 7 horas de campeonato inglês para ver no MEO.

P.S.- Infelizmente, esta coisa do MEO é só uma figura de estilo. Ainda sou do tempo das televisões terem só quatro canais mas não me queixo pois aprendo imenso com aqueles concursos de cultura geral que costumam dar à noite.