segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que é que preferes: o precipício ou o abismo?



A crise financeira global arrastou o Estado Português para uma situação em que faça o que fizer está sempre lixado. Se o nosso governo optar por continuar os estímulos públicos (despejando dinheiro em cima do anémico sector privado, para relançar o crescimento económico e o emprego), vem o precipício: a dívida pública dispara, as agências de rating agravam a notação do nosso risco, os nossos credores externos emprestam-nos dinheiro com juros mais elevados, a dívida pública cresce ainda mais, numa espiral viciosa que nos levará à falência. Se, pelo contrário, o nosso governo cortar no investimento público e nas despesas do Estado (de forma a diminuir o endividamento externo e o risco de falência), vem o abismo: agravaremos ainda mais a depressão económica e o desemprego. Entre a eutanásia da primeira solução e o suicídio da segunda, eu prefiro, sinceramente, um prato de caracóis.

A terrível encruzilhada em que nos encontramos não foi resultado de uma qualquer inevitabilidade histórica mas foi o resultado de escolhas eleitorais livres de milhões de cidadãos que pelo mundo fora elegeram irresponsavelmente governos liberais. Que os eleitores assumam a responsabilidade do seu monstruoso acto, reparando-o através de um imposto. Que os esforços de consolidação orçamental sejam inteiramente pagos por este imposto "sobre o genocídio económico".

4 comentários:

Comentador Sexualmente Reprimido disse...

O facto do tipo da foto estar a introduzir o dedo no cú da madame ilustra perfeitamente a situação sócio-económica.

47 disse...

e com os caracois uma imperial...

N pescas nd disto disse...

A culpa é dos liberais, a sério? E eu que pensava que eles até querem um Estado o "mais pequeno" possível... porque o défice não vem, nem nada, das excessivas (nalguns casos) ajudas sociais. Pára lá de ser um esquerdista tão extremo em que a culpa reside sp na terrível direita e nos liberais. A verdade é que desde a 2ª Guerra Mundial bem mais de metade dos governos são de esquerda, não de direita, e agora a culpa é dos liberais?

o homem do estupefacto amarelo disse...

Caro N pescas nd disto,

O facto da actual crise financeira e económica à escala global ter sido provocada pelo ultra-liberalismo económico é reconhecido até por muitos analistas de direita. Relembro-te que tudo começou em 1996/1997 nos Estados Unidos com a crise do subprime (empréstimos hipotecários de alto risco, que, quando a bolha imobiliária rebentou, fizeram descer a pique os preços dos imóveis, levando à falência vários bancos americanos, tendo a crise sido alastrada para os principais bancos do mundo através da venda e compra de derivados desses créditos tóxicos (inovações financeiras opacas que escondiam a toxicidade dos mesmos, transferindo o risco para os outros). A confecção desta crise teve todos os ingredientes do liberalismo económico: (1) crença de que o Estado não deve interferir nem regular o mercado, porque este se auto-regula (nomeadamente pela falta de controlo sobre inovações financeiras que potenciavam o risco sistémico); (2) aceitação de bancos e empresas demasiado grandes para falirem, criando incentivos a uma gestão de alto risco, por haver um seguro implícito do estado para os salvar se as coisas correrem mal, através do dinheiro dos contribuintes; (3) incentivos errados dados aos CEOs que os levavam a insuflar artifialmente os resultados das empresas para obter ganhos de curto prazo (como bónus salariais e de acções da própria empresa), gerando altos riscos a longo prazo para a própria empresa e para todo o mercado; etc.