segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu sou o Armando Vara dos Cds

Quando era adolescente, de vez em quando os meus pais iam de férias para o estrangeiro, e eu e o meu irmão ficavamos uma semana sozinhos em casa. Liberdade. O problema é que sempre fomos educados como atrasados mentais, pelo que não sabíamos cozinhar um ovo cozido, quanto mais um ovo estrelado (ainda hoje, com trinta e dois anos, devo ser o único adulto residente no município de Lisboa, e sem nenhuma deficiência mental, a não saber partir a merda de um ovo). Restavam-nos apenas duas estratégias para sobrevivermos durante aqueles sete longos dias. Primeira estratégia de sobrevivência: devorarmos uma panela gigante cheia de panados de peru deliciosos (com imenso limão) feitos pela minha mãe (ainda hoje, com trinta e dois anos, continuo a achar que a minha mãe faz os panados de peru mais deliciosos da área metropolitana de Lisboa). O problema é que, invariavelmente, ao segundo dia já estava a panela totalmente vazia, apenas com os destroços tristonhos de pão ralado queimado a boiar no seu fundo. Segunda estratégia de sobrevivência: a minha mãe deixava-nos guito para irmos comer fora. Nessa altura, havia uma hamburgaria no Palmeiras chamada Frog, com uns hamburgueres porreiros (ainda hoje, com trinta e dois anos, devo ser o bloquista residente em Portugal Continental que mais gosta de fast food americana), que reunia todas as qualidades para ser o meu manjedouro habitual, se não fosse o facto de já nessa altura ter uma compulsão descontrolada pelo consumo de CDs. Ora, assim como não se pode deixar uma batelada de dinheiro a um junkie esperando que o mesmo faça dele a sua utilização devida, parece-me igualmente evidente ser uma completa irresponsabilidade confiar dinheiro a um dependente de Cds (ainda hoje, com trinta e dois anos, devo ser a pessoa da península ibérica com um salário de mil euros que mais estoura irresponsavelmente o seu mísero salário em objectos inúteis como Cds). Foi isso que aconteceu. Grande parte do dinheiro foi estourado em Cds (nessa altura a minha panca - muito partilhada com o Bastard - era a rocalhada do final dos anos sessenta, Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin, Deep Purple e afins). E o resultado nutricional deste meu problema de adicção foi desastroso: quase uma semana a carcaças com manteiga. Pior ainda foi o resultado moral, já que numa folhinha de papel todos os meus gastos furtivos em Cds eram cuidadosmente transformados em despesas honestas em menus de hamburgueres, batatas fritas e molhos delicosos da hamburgaria Frog, numa engenharia contabilística de fazer inveja aos nossos mais respeitados CEOs. Quem nunca pecou que atire a primeira escuta telefónica ilegal.

Os primeiros putos de Manchester

Ainda antes dos Joy Division, dos Fall, dos Chameleons, dos Smiths, dos New Order, dos Stone Roses e dos Happy Mondays, já os Buzzcocks tinham mostrado ao mundo que a decadente cidade fabril de Manchester podia ser feia, cinzenta e opressiva mas era tudo menos musicalmente irrelevante.

O perigoso social democrata, Michael Moore

Fui ver o último Michael Moore: "Capitalismo, uma história de amor". Apesar de mais uma vez vir ao de cima a sua tendência para o moralismo e o sentimentalismo, gostei do filme: pelo seu sentido de humor, pela inteligência das montagens, pela economia de meios e pela denúncia. Quando todos os dias somos bombardeados pelo discurso liberal dominante, senti o filme (e a sua visão alternativa) como uma lufada de ar fresco. Contudo, o que é extremamente curioso no filme, é a luz que nos dá sobre o sistema político americano. Descobrimos que o perigoso Michael Moore, que provocou uma reacção de tal forma violenta pela parte dos poderes instituídos que se vê obrigado a estar permanentemente escoltado por 4 guarda-costas, não é afinal nenhum esquerdista subversivo, marxista e radical, mas apenas um americano de origem working class, católico, bem intencionado e com tendências sociais-democratas. O sistema político americano está de tal forma deslocado para a direita que nem sequer a social democracia existe, pelo que alguém que tenha um discurso moderado de reformar, regular, democratizar e humanizar o capitalismo (como tem o Michael Moore), é visto pela opinião pública americana como um perigosíssimo comunista a abater. Que o fenómeno Obama não nos iluda: quando nem sequer a social democracia é admitida no espaço político americano, não há qualquer esperança que o império vá algum dia virar verdadeiramente à esquerda.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O desenvolvimento do preconceito musical

Tudo me leva a crer que o preconceito musical sofre ao longo da vida várias mutações. Quando somos muito putos, manifestamos uma abertura quase total em relação a todas as formas de música, não estando ainda contaminados por quaisquer preconceitos. Esta liberdade de espírito total tem um inconveniente: a total ausência de qualquer filtro diferenciador. Assim, se eu puser a tocar um disco dos Pavement para os meus filhos (de 7 e 3 anos, respectivamente), não lhes causa qualquer estranheza este género mais independente e lo-fi, e são capazes até de cantarolar a melodia enquanto a ouvem entusiamados. No entanto, se eu a seguir puser André Sardet, eles farão exactamente a mesma coisa.

A partir de uma determinada idade, começamos a definir os nossos gostos musicais e a ganhar preconceitos. Nesta fase, o que ganhamos em filtro diferenciador, perdemos em abertura de espírito em relação a formas musicais que não se encaixam nos nossos critérios de bom gosto. Lembro-me que passei uma fase na minha adolescência bastante fundamentalista em que quase que me recusava a ouvir música que eu considerasse que não era suficientemente underground (sendo que na altura os meus padrões indie eram bandas como os Sonic Youth, os Mão Morta, os Pop Dell'Arte, os Joy Divison e os Jesus & Mary Chain).

Depois de nós termos definidos a nossa identidade musical (daquela forma ridiculamente fundamentalista), vamos então amadurecendo e desconstruindo os nossos preconceitos. Atingimos, finalmente, um equilíbrio entre filtro e abertura musical. Foi assim que eu descobri que uma data de coisas que na minha adolescência eu achava horrivelmente comercial e kitsch (como Stevie Wonder, Marvin Gaye, Prince, Duran Duran, António Variações, etc.), afinal eram muitas vezes geniais: o "Innervisons", do Stevie Wonder (a sua obra prima), o "What's going on" do Marvin Gaye, o "Musicology" do Prince, o "Rio" dos Duran Duran, etc. etc.

Em baixo, deixo-vos então um single do Stevie Wonder com um delicioso groove, que me faria vomitar por todos os orifícios do meu corpo quando eu tinha dezassete anos.

Se misturarem numa Moulinex "Smiths" com "Beach Boys" encontrarão qualquer coisa parecida com isto

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Libertários de Direita, Fuck Off

A malta libertária de direita tem a mania que a sua posição é coerente, na medida em que defende sempre a liberdade dos indivíduos contra a opressão colectiva (Estado), seja na esfera económica (mercado livre), seja na esfera dos costumes (costumes livres). Estão errados. As duas esferas pertencem a domínios diferentes (domínio moral vs domínio pessoal), pelo que a questão da liberdade coloca-se de maneira diferente. A esfera económica tem uma natureza moral, na medida em que a liberdade de um agente económico condiciona a liberdade de outro agente económico. Um exemplo: a liberdade absoluta dos grandes grupos económicos (não sujeita a qualquer regulação do Estado) gera enormes assimetrias de riqueza, obrigando os mais pobres a alugar o seu único recurso (a sua força de trabalho) pelo preço imposto por esses grupos económicos (por mais baixo que ele seja), não tendo sequer liberdade para negociar esse preço, tal a assimetria de poder existente entre ambos. Sendo assim, e ao contrário do que os libertários de direita defendem, faz sentido impor alguns limites à liberdade económica de alguns (salário mínimo, redistribuição da riqueza através de impostos progressivos, etc.) de forma a preservar pelo menos patamares mínimos de liberdade económica para todos. Pelo contrário, a esfera dos costumes já não é do domínio moral mas sim do domínio pessoal, na medida em que a liberdade dos costumes de uns não condiciona a liberdade dos costumes dos outros. Exemplo: eu devo ter a total liberdade de ser ateu e de expressar o meu ateísmo, na medida em que tal escolha em nada limita a liberdade dos religiosos continuarem a acreditar nas suas crenças e a professarem a sua religião. Desta forma, neste domínio pessoal (em que a liberdade dos outros nunca é ameaçada), não deve haver qualquer intromissão do Estado na liberdade de cada um. Resumindo e concluindo: Libertários de Direita, Fuck Off.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre o 25 de Novembro

Duas dúvidas singelas:

1 – Se é uma data assim tão importante, não deveríamos estar todos hoje a gozar mais um feriadozeco?

2 – Por que raio é que alguns amantes da liberdade nada se importunaram com a ditadura e muito festejaram o 25 de Novembro?

Música

Quando és um puto suburbano e andas na escola, a música é, muitas vezes, tudo aquilo que te pode distinguir, que te pode levar para outro lado qualquer. Os putos fazem todos o mesmo, vão para a escola às mesmas horas, têm os mesmos professores, querem comer gajas mas não sabem como e têm medo de falhar, querem jogar melhor à bola, querem não ser o puto que fica por baixo se houver porrada no intervalo,  querem perceber que raio andam ali a fazer e o que esperam deles e como raio se conseguirá lá chegar.
Nesses tempos, a música é o que te distingue (para uns poucos é o skate ou o futebol, para mim era também a literatura). É aquilo que te faz perceber de que lado estás, quem está contigo. É aquilo que, de cada coisa que descobres, te leva a descobrir mais um pouco de ti próprio, daquilo que poderás ser, ao que estás disposto, de tudo o que podes vir a conhecer e experimentar, um dia.
Comigo foram os Xutos, os Doors, Led Zeppelin. Mão Morta, Censurados, Jorge Palma. Faith no More, Alice in Chains, Pearl Jam e Nirvana. Os Doors levaram-me ao Jack Kerouac, que me levou aos beats, que me levou a toda a fabulosa literatura americana do século XX. E em todos esses momentos, enquanto caminhava para a escola sonhando com o dia em que teria um walkman, ia-se desenhando na minha cabeça uma paisagem mental diferente da de todos os outros. A banda sonora da minha vida acompanhava-me a todas as horas, e mudava enquanto eu mudava, crescia e transformava-se, no meio de todos os medos e todas as incertezas e todos os traumas.
E é por isso que desprezo, moral e intelectualmente, os desgraçados que têm os U2 como a sua banda preferida. Esses eram os tipos que, nessa altura, não tinham nenhuma paisagem mental que os distinguisse. Eram a verdadeira carneirada, e é o que continuam a ser hoje, atropelando-se em frente às câmaras de televisão enquanto vomitam expressões como "eles dão sempre um grande espectáculo".
Estou de férias esta semana, e os meus dias têm sido preenchidos de televisão desligada, ao som de jazz, tangos, boleros, grunge e punk, krautrock e ópera.
Se há algo por que posso estar grato, é por ter amor à música e à literatura. E porque não teria sobrevivido ao liceu se assim não fosse.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Suburbanos Hardcore de Todo o Mundo, Uni-vos

Desculpem-me a suburbanidade da minha posta, mas venho anunciar-vos que no próximo dia 11 de Dezembro no Cine-Teatro de Corroios poderão assistir a um concerto de Jello Biafra (vocalista dos extintos Dead Kennedys, a melhor banda de punk hardcore de sempre, a vários biliões de colhões de distância dos também muito bons, Black Flag e Bad Brains). A propósito deste pretexto, fui bisbilhotar à Wikipedia (as referências culturais de um fã de Hardcore são sempre muito sofisticadas) e descobri que os punks de extrema-direita da cena hardcore da California do início dos anos 80 levaram à letra o"Kill the poor" do primeiro álbum (em que é defendido que a pobreza deverá ser eliminada através do extermínio dos pobres), julgando que os Kennedys eram também neo-nazis, pelo que os seguiam para todo o lado. Para desfazer este embaraçoso mal entendido, o grande Biafra sentiu-se obrigado no EP seguinte (In God We Trust, inc.), a fazer o clássico "Nazi Punks Fuck Off", desta vez com uma linguagem mais adaptada à sofisticação intelectual de um punk neo-nazi.

Mostro-vos abaixo um take alternativo desta faixa, que exemplifica bem todos os atributos de uma boa canção hardcore: rápida, suja, crua e explosiva. Suburbanos hardcore de todo o mundo, uni-vos todos dia 11 em Corroios.

Isto não é um post, é um rabisco electrónico

Acabamos de avisar o mundo que, afinal, a guita não chega, pelo que vamos pedir ao estrangeiro aí mais uns cinco mil milhões de euros, em trocos, se faz favor. O primeiro-ministro é apanhado nas escutas a trocar favores com um amigo vice-presidente de um banco. O Benfica é eliminado da Taça.
E nós estamos a discutir o quê?
Exacto: semântica.

No processo de avaliação de professores, anda a oposição a dizer que há uma suspensão do processo; já o PS insiste em que nada disso, há mas é uma paragem seguida de uma substituição.

Por outro lado, pedimos mais cinco mil milhões ao estrangeiro através de um documento chamado orçamento rectificativo. Rectificativo?! Nada disso, diz o cabeça-de-giz dos Santos. Isto é mas é um grandessíssimo de um orçamento redistributivo. E ai de quem diga o contrário, apesar do conceito agora introduzido nunca ter existido.

Será que esta gente não percebe que, enquanto estão nestas discussões estéreis, o povo que neles votou não percebe minimamente que raio andam eles a fazer? Por outro lado, será que o povo quer saber?
Mais, depois de tudo o que soube nas últimas semanas, se houvesse hoje eleições não iria tudo votar outra vez no Pinócrates?

Pois. De uma estranha maneira, tudo isto encaixa. Não merecemos mais, de facto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Qual é mão esquerda, qual é a mão direita?

Estou outra vez com o sectarismo escangalhado. Lá vou eu malhar (à Susto e Silva) no meu BE, desta vez não para elogiar o PCP (que incorre na mesma demagogia) mas, perdoem-me os mais sensíveis a declarações heréticas, para me pôr do lado do PS e do PSD. Estou a referir-me ao dilema semântico (de uma profundidade rara no mundo da política): "suspender o modelo ou não suspender, eis a questão", em que os primeiros defendem a "suspensão" e os segundos a "não suspensão". É claro que o PS e o PSD não são se devem armar em virgens ofendidas nesta matéria, porque fizeram muita merda. O PS, porque no governo anterior foi arrogante na sua imposição unilateral de um modelo de avaliação, sem ouvir os professores e sem envolvê-los no processo, comprando, pelo contrário, uma guerra estúpida, autoritária e suicida contra toda uma classe profissional, o que constitui uma lição exemplar de como não se deve fazer uma mudança organizacional. É claro também que o PSD é um partido em quem ninguém pode confiar (e não é à toa que os seus militantes não confiam sequer uns nos outros), que no seu programa eleitoral prometeu suspender o modelo e agora é a favor do contrário. Mas, como diria o Pacheco Pereira, não é essa a questão essencial, que é afinal a seguinte: o modelo de avaliação de desempenho, tal como foi implementado pelo PS, faz sentido? Na minha opinião, nos seus aspectos essenciais (pois há pormenores que precisam de ser afinados), o modelo faz todo o sentido pelas seguintes razões: (1) acaba com a vergonha da progressão automática de todos os professores (independentemente do mérito de cada um); (2) acaba com uma situação de desigualdade no universo dos funcionários públicos, já que, ao contrário do que sucedia com os professores, a maioria dos outros profissionais do sector público já era sujeita a avaliação de desempenho (SIADAP); (3) não é uma mera formalidade, mas tem um impacto efectivo na progressão na carreira, recompensando os melhores; (4) as quotas fazem sentido, porque é impossível toda a gente ser excelente: como em qualquer outra profissão, há os muito bons, os bons, os médios, os maus e os muito maus, e a ausência de quotas conduz invariavelmente à inflação artificial do desempenho de muitos, nivelando na avaliação o que não está nivelado no desempenho efectivo. Além do mais, na minha opinião, a posição do BE (e do PCP) de defender a suspensão do modelo é contraditória com os próprios interesses da esquerda, na medida em que contribui para a ineficácia do serviço público da educação (quando o peso e qualidade dos serviços públicos constituem, e bem, uma das principais bandeiras da esquerda). Com efeito, apesar da ideia de avaliação de desempenho ser de facto originária da direita liberal, julgo que a esquerda deve incorporá-la sem preconceitos ideológicos, de forma a melhorar a eficácia dos serviços públicos, e, consequentemente, melhor resistir à pressão do sector privado concorrencial, que tenta por todos os meios o seu desmantelamento progressivo. Com efeito, a avaliação de desempenho é um instrumento de gestão orientado para resultados, que permite melhorar a produtividade de uma organização. Se a esquerda continuar com o seu corporativismo mesquinho de manter a todo o custo os direitos adquiridos pelos professores (mesmo que eles sejam injustos e que produzam enormes desperdícios), continuará a contribuir generosamente para a agenda da direita: privatizar os serviços públicos com o pretexto de serem considerados pesados e ineficientes, satisfazendo assim os interesses económicos instalados na área à custa do interesse público. Porque só um serviço público de educação, universal, gratuito e eficiente, poderá quebrar o ciclo de reprodução geracional da pobreza, possibilitando a mobilidade social dos mais desfavorecidos. Qual é a mão esquerda, qual é a mão direita?

O Disco da Minha Vida VII

O Brasil deu ao mundo muita coisa. Entre muitas outras estão alguns dos melhores jogadores de futebol de sempre, grandes escritores, gajas boas e a música. E, falando de música, o Brasil é incontornável. Desde a bossa - que de formatação tão simples como é nunca cansou, um pouco como acontece com o fado - até aos autores que surgiram nos anos 60 e ainda aí andam a dar grande música (Chico, Caetano, João Gilberto, Maria Bethania, etc, etc), passando pelo rock e pelos outros sons mais modernos.
E é de isto que quero falar. Gosto bastante de rock brasileiro (e aqui uso a palavra rock no sentido mais lato do termo, Brasil é mistura em tudo, também tinha de ser assim na música), sobretudo dos grandes Raimundos (mais pesado), dos desaparecidos Blitz (pop mais pastilha elástica que existe), de muita coisa dos Legião Urbana e alguma de Skank.
Mas os reis de tudo são O Rappa.
Existem há bastantes anos, e conheci-os talvez há quatro ou cinco. Havia uma loja genial no Centro Comercial de Carcavelos, onde ia quase todos os domingos. Chamava-se "Império do Som", vendia cd's em segunda mão (a maior parte gamada pelos agarrados da zona) a 7,5 euros, e o tipo atrás do balcão era o Paulo, é uma das maiores personagens que alguma vez conheci. Ex-toxicopedente, amante de música e recentemente apaixonado pela literatura, ouvia de tudo. Trash metal, big bands dos anos 40, fado, punkalhada. Gostava de conversar e não se calava o tempo todo em que eu estava na loja. Ficava lá horas, a ouvir música, a conversar e a fumar, apesar de a loja ser na cave e ter o tamanho de duas pequenas cabines telefónicas. Eu olhava as caixas e, se alguma coisa me chamava a atenção, algo que não conhecia e me despertava o interesse, pedia para ouvir (só se recusava a meter reggae: "essa merda é toda igual, queres ouvir para quê?"). Depois de uma hora à procura do cd correcto, lá ficávamos a ouvir o disco. E foi lá que ouvi Piazzola, discos antigos do Dylan e o Rappa. O disco em questão era "Rappa Mundi", de 1996, como podia ser outro qualquer. Andava a ouvir muita música brasileira e conhecia O Rappa de nome. Assim que começou a bombar no estéreo, soube logo que era algo que me daria muito prazer, só não sabia que a banda me iria acompanhar a sério ao longo de muitos anos. Depois disso, saquei a discografia toda da net e a minha primeira impressão só se reforçou.
Em 2008, depois de um longo interregno e de mudanças na formação, saiu "7 Vezes", o último disco, que comprei na Fnac assim que saiu cá. Tem tudo o que vem de trás: rap, funk, hip-hop, rock, um tudo-nada de reggae, grandes melodias, grandes letras, grandes músicas. Já este ano tive o privilégio de os ver ao vivo, na minha terra-natal de Carcavelos, no meio de milhares de brasileiros esfuziantes.
Deste disco "7 Vezes", só posso dizer que roça a perfeição. Todas (mesmo todas!) as músicas são excelentes, empolgam e ficam no ouvido, mas a produção mais cuidada fez deste album mais rico, mais denso, que não se gasta com as audições. É claramente o disco que mais vezes ouvi no último ano, e ainda é ele que roda no rádio do carro. Música com tusa que não abdica da inteligência, a síntese perfeita.
Não têm muitos vídeos, mas quem quiser conhecer as músicas, pode ouvi-las aqui.
Enquanto melómano, O Rappa foi uma descoberta que mudou a minha vida. Façam o favor de escutar.

The Great Escape







Acho que, aos 31, este foi o ano em que aprendi o que é ser adulto.
E é uma bela merda.

Quando for grande quero ser pequeno.

sábado, 21 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quando hoje parei no semáforo da Joaquim António Aguiar apareceu-me pela janela adentro o Paulo Portas a impingir-me pensos rápidos

"A segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque cada vez que paro me surgem no vidro criaturas inverosímeis: (...) microcefálicos, macrocefálicos, coxos, marrecos, estrábicos divergentes e convergentes, bócios, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongolóides, dirigentes de partidos políticos, etc." (António Lobo Antunes)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O pato Santana Lopes

A minha filha tem como bacio um simpático pato amarelo que ela adora. Perguntei-lhe como é que se chamava o seu pequeno amigo, respondeu-me, Santana Lopes. Juro por deus (ou, como não acredito nesse gajo mau ou impotente, juro pelo meu Benfica) que nunca a instrumentalizei nesse sentido. De onde só posso concluir que a minha filha, com apenas três anos, tem de facto uma capacidade de análise política muito acima da média.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Quando se pensa que não se consegue descer mais baixo...

...o Zborten surge com um novo mergulho, de cabeça e boca aberta, para o esgoto.
Depois de um presidente chegar ao clube e dizer Paulo Bento Forever e depois despedi-lo; depois de um presidente dizer que o balneário do Zborten era só meninas a chorar quando o Paulo Bento se foi embora, violando claramente a privacidade desse espaço; depois de falhar a contratação de um treinador sem currículo à Académica; depois de contratar um treinador, Carvalhal, cujo livro conta com um prefácio emocionado de Pinto da Costa; pensar-se-ia que não seria possível ir mais abaixo.

Wrong!

Os filhos de Dylan


Quem acha que Bob Dylan não é mau mas que o seu contributo para a história da Pop é sobrevalorizado está enganado por duas razões.
Primeiro, porque Dylan foi o primeiro ícone pop da liberdade artística: depois de Dylan ter conquistado o sucesso e o reconhecimento num registo folk e político, não quis ficar prisioneiro da sua identidade, aventurando-se num novo registo eléctrico e despolitizado. Ficou célebre o concerto em que depois de uma previsível primeira parte folk só com viola e harmónica, Dylan surpreende os seus fãs esquerdistas sentem-se traídos com o som "burguês" e estridente de guitarras eléctricas distorcidas, começando a gritar "Judas" e a abandonar o concerto. Dylan sempre foi assim, avesso às modas, aos rótulos e aos fechamentos ideológicos, coerente apenas com a sua liberdade, tocando folk no hype do rock, rock no hype do folk, country no hype do rock psicadélico, esquerdista quando a esquerda era uma pequena minoria, apolítico quando a contracultura esquerdista começou a entrar na moda.
Segundo, porque Dylan foi o primeiro a trazer a literatura para a Pop, aliando a simplicidade Pop com a inteligência e sofisticação das suas letras. A influência desta atitude sobre a pop subsequente é incalculável. Em 1964, dá-se o encontro mais importante de sempre na história da Pop: Dylan encontra-se com os Beatles, põe-nos pela primeira vez a fumar charutos, convence-os a escreverem letras mais elaboradas e canções mais experimentais. A partir deste encontro, os beatles deixam de repetir a fórmula do "she loves you, ye, ye, ye", e inauguram a sua fase mais criativa e psicadélica, ainda incipiente no "Rubber Soul", mas já plenamente conseguida no genial "Revolver" e em todas as obras primas que se lhe seguiram. Depois, claro, a influência dos beatles sobre toda a pop que se lhe seguiu é avassaladora, desde o Bowie nos anos 70, aos Smiths nos anos 80, aos Blur nos anos 90, aos Strokes nos anos 2000, que dia é hoje? E cada vez que surga uma nova banda de putos de vinte anos com uma pop simples, elegante e inteligente, podem até nem sequer conhecer o "Highway 61 Revisited" ou o "Blonde on Blonde", mas são, sem o saberem, mais uns grandecíssimos filhos de Dylan.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O direito à hipocrisia

As pessoas dizem, ah e tal, aquele fulano daquele partido é um hipócrita do caralho, o gajo é panisga dos cabelos até a braguilha e depois vai para o parlamento lutar contra os seus próprios direitos. Apesar da aparente pertinência deste tipo de acusação, julgo ser impróprio em democracia emitir este tipo de juízos. As opiniões políticas de um qualquer político devem ser sempre rebatidas com argumentos políticos (referentes à esfera pública) e nunca com argumentos pessoais (referentes à esfera privada). Até um político (que deve ser mais escrutinado do que os outros cidadãos) tem o direito alienável à sua privacidade, não devendo haver qualquer escrutínio da sua esfera privada, mesmo que seja para detectar vasos comunicantes hipócritas com o que defende na esfera pública.

Num plano pessoal, se o político panisga for meu conhecido, aí já tenho o direito de lhe dizer (num juízo pessoal) que o cabrão é um hipócrita da merda. Mas não tenho o direito de ir para um qualquer fórum público (tv, jornal, blog, etc.) dizer exactamente a mesma coisa sobre o meu conhecido. Parece esquizofrénico, mas penso que uma pessoa deve respeitar sempre a independência de ambas as esferas. Não o fazer, é um procedimento perigoso, que leva a escrutinar os esqueletos no armário que qualquer adversário político sempre tem (e nem sequer é preciso ser de natureza sexual), sacrificando nesta demanda estalinista o valor da privacidade e as mais elementares regras da decência democrática. Dizem que, durante o estado novo, quando no PCP se queria linchar um adversário político interno, acusava-se o dissidente de ter televisão em casa.

Ninguém me consegue convencer

Ninguém me consegue convencer de que os telemóveis não são criaturas inteligentes e maquiavélicas que. quando estão quase sem bateria, começam a fazer chantagem emocional com os seus proprietários, gemendo de propósito num estertor lancinante de moribundo, como quem acusa um pai de negligência por se esquecer de alimentar o filho. Ninguém me consegue convencer de que a longa demora entre dois gemidos electrónicos acusadores não se trata de uma tortura cuidadosamente planeada, baseada no clássico gotejar lento de uma torneira mal vedada, e de tal forma cruel e impiedosa que me faria denunciar perante a polícia política o nome, morada e fetiche sexual de todos os meus camaradas bloquistas que já comeram no McDonalds.

Conversas em Família

Homem do Estupefacto Amarelo- Acho porreiro os governantes (que não têm nenhuma vulnerabilidade acrescida à gripe A relativamente a não governantes) terem prioridade sobre os doentes crónicos no acesso à vacinação da gripe A.

Irmão do Homem do Estupefacto Amarelo- Temos que ser racionais relativamente a este problema e assegurar que em contexto de pandemia o estado (na pessoa dos seus governantes) funcione plenamente.

Homem do Estupefacto Amarelo- Experimenta dizer a mesma coisa com um sotaque alemão.

domingo, 15 de novembro de 2009

Uma questão de prioridades

As escutas de Armando Vara a conversar com o amigo Sócrates ainda não apareceram transcritas totalmente, embora creia que é uma questão de tempo até isso acontecer. Mas há coisas que já se sabem.

Passo a enumerar:

1 - Sócrates lembra ao seu amigo Vara as dificuldades de liquidez da campanha do PS. Parece que havia pouco dinheiro para isqueiros e aventais rosa. Antigamente dizia-se que "se queres dinheiro vai ao Totta", mas o amigo Vara, que percebe tanto de banca como eu de begónias, não está no Totta, é vice-presidente do BCP.

2 - Sócrates diz ao amigo Vara que têm de resolver o problema do amigo Joaquim. O amigo Joaquim é Joaquim Oliveira, dono da Controlinveste, dona do DN, do JN, da TSF, do 24 horas, do Jogo, etc.

3 - Sócrates diz ao amigo Vara que uma maneira de resolver o problema do amigo Joaquim é dar financiamento ao amigo Vasconcellos, dono do Diário Econónico e agora de parte da Media Capital, que compraria os jornais falidos do amigo Joaquim. O amigo Vasconcellos foi aquele que recebeu dinheiro da PT e que, depois desta recuar na compra da TVI (por causa do barulho que isto deu em plena campanha), acabou por avançar para a compra da dita estação. Compra anunciada no dia a seguir às eleições.

4 - Sócrates comenta com o amigo Vara a eventual compra da Media Capital pela PT. Isto apesar de, poucos dias depois desta conversa, ter dito no parlamento que nada conhecia desse negócio. (Veio agora explicar que queria dizer que não tinha conhecimento oficial, enquanto primeiro-ministro).

E há mais, muito mais, que saberemos em breve.

Entretanto, a elite educada deste país, com os bolsos bem bezuntados pelo polvo socialista, reage com indignação ao facto de o primeiro-ministro ser escutado. Bradam aos céus, exigindo que se esclareça se as escutas são legais ou não. E agora sabe-se que um velhadas do Supremo decidiu destruir as escutas.

Ou seja, esperam de nós que tapemos os olhos e os ouvidos a tudo o que sabemos que foi feito, e que só confirma tudo aquilo que há muito se suspeita.

Em qualquer país civilizado, bastava um primeiro-ministro tentar uma cunha com um banqueiro para resolver os problemas de um detentor de jornais - referido como "o nosso amigo Joaquim" - e a demissão era o único que se impunha.

Mas aqui, o que interessa é se as escutas são legais ou não.

Votaram nele, é porque gostam desta merda.

Siga a banda.

O amadorismo é lindo de ver (nos outros)

O Zborten acaba de falhar a contratação desse colosso chamado Villas-Boas, desse colosso chamado Académica, treinador que tem o colossal currículo de quatro jogos enquanto profissional, dos quais ganhou o colossal número de um. E ao não conseguir sequer contratar um treinador desconhecido à Académica, o Zborten conseguiu o que eu pensava impossível: cobrir-se ainda mais de ridículo do que tem feito desde o início da temporada.
Parece que tentaram também o Noddy, e nada.
Pelo sim pelo não já desliguei o telemóvel, a última coisa que quero é que o cabeça de giz me ligue a convidar. Prefiro treinar o Benfica no novo FM 2010 (campeão na primeira época).
De qualquer forma, sugiro o Artur Jorge.
Tendo em atenção que o último espectáculo que Alvalade presenciou foram os AC/DC, há uns meses valentes, a única forma de aquele estádio ver acção a sério é juntar o poeta com o Sá Pinto.
Eu pagava bilhete para ver.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A semântica

f r e u d diz:

e é o PPD ou o PSD que é contra ou a favor do união de facto de registo
??

Kowalski diz:
o ppd é o do santana
é a favor de qualquer união, baby

f r e u d diz:
c'mon!!
wegue wegue!

Another day in paradise - via MSN

f r e u d diz:
tanta merda
não consigo fazer nada para além disto
chego a casa feito em papa

Kowalski diz:
em polpa!

f r e ud diz:
é triste
olha o défice
é fodido
ai a euribor
isto custa
toma atenção ao pib
se ganhasse o euromilhões comprava um sound sistem a bombar fmi em loop por portugal einteirop
até se acabar o dinheiro

Kowalski diz:
ahahaha
deixámos os sócrates desta vida transformar este país no paraíso dos tecnocratas
mto bom

f r e u d diz:
é, não é?
é a europa

Kowalski diz:
não é a europa, é a tugolândia a tentar ser o que acha que a europa é

f r e u d diz:
e não é?
é que já nem sei o que é e o que não é

Kowalski diz:
londres tem o ritmo rápido do dinheiro, mas tb tem o resto
a holanda tb
berlim tb
só aqui somos obcecados com a pseudo-competitividade
eu não quero ser competitivo, quero ser feliz
é simples

f r e u d diz:
a cena é a voracidade de todos os polírticos de ptodos os povos em comer
todos querem alarvar mais que o outro ao lado

Kowalski diz:
pois. mas qdo o tipo que tens em cima é o mais ladrão de todos, só cunhas e amiguinhos e o caralho, o resto nunca vai mudar

f r e u d diz:
iumpressionante

Kowalski diz:
o sistema tem sido mto útil para ele, mudar para quê?

f r e u d diz:
e o outro monte de esterco a dizer que as escutas são inválidas
quem é que lá o mete? tenho que ver isso
grande parte do meu parco ordenado vai para encher essa gente
eu gostava de ter uma vida sossegada se não me andassem sempre a ir ao cú, apetece-me emigrar mas é para as mouriscas

Kowalski diz:
eu gostava era de não ter que me matar para ganhar a vida, e ver ao lado gajos que não valem a ponta com grandes vidas

f r e u d diz:
comprar uma carabina de canos serrados e deixar os dentes apodrecerem

Kowalski diz:
e um cão sarnento

f r e u d diz:
venham lá dizer como é que eu hei-de viver
e um gajho a querer ser honesto, pelo menos íntegro, só naquela para poder dormir descansado
e esta estrumeira toda a ir-nos ao bolso com a maior cara de pau
e pior, a dormirem descansados

Kowalski diz:
a rirem-se de nós
agora o psd, em vez do casamento gay, propõem a união civil não sei quê
metem um nome diferente
e a gente a pagar

f r e u d diz:
sim
que pobreza
e o outro xcom as transferências da guita
do cds
"não fomos nõs, foram os gajos de aveiro"
WTF?!?!?!
foi o cê dê ésse!!!

Kowalski diz:
não, pá, tás a ver mal, foi o pp
é outra cena, man
o país anda entretido com o glorioso e com a popota

f r e u d diz:
esta merda tem tudo qa ver com a madeira
a madeira é o , como dizer.. sabes aqueles fransquinhos com as essências?

Kowalski diz:
sim
"essence du merde"

f r e u d diz:
é o frasquinho da essência de portugal

Kowalski diz:
merda com toques de ananás

f r e u d diz:
isso, é o cheiro que aqui anda, mas concentrado
polpa de merda
em latinhas standardizadas
então, mas explica-me lá uma coisa...
o CDS é ou não é a mesma merda do PP?

Kowalski diz:
é
a mesmíssima merda com as mesmíssimas moscas

f r e u d diz:
ahhh...então, mas aquele rapazinho muito bem compostinho, com aquele cabelinho amarelo
disse que coiso, que não há uns papéis no CDS
ahhhh...

Kowalski diz:
exacto
estava mesmo a gozar com a tua cara
confere

f r e u d diz:
ai , estou tão baralhado
mas ele parece-me sério

Kowalski diz:
pois

f r e u d diz:
um bocado boiola, mas católico e quê, não deve roubar, não achas?

Kowalski diz:
não é roubar

f r e u d diz:
eu acho que ele está a falar a verdade

Kowalski diz:
é redistribuição de riqueza

f r e u d diz:
olha, estão aqui 20 mil euros...

Kowalski diz:
"vou redistribui-los para o meu bolso"

f r e u d diz:
ahhh.. era destes que estavam a falar!!!!!
esses tenho-os aqui
pensava que eram outros
pronto...
é que os outros estão em aveiro

Kowalski diz:
podiam ter dito logo

f r e u d diz:
isso!
filhos da puta

Kowalski diz:
e um gajo a matar-se para pagar as contas
a única coisa que me consola é que, mesmo na merda, gozamos mais intensamente que eles
tb nos fodemos todos, mas é a vida

f r e u d diz:
aos fins de semana, cada vez mais
um gajo quer trabalhar , ler umas merdas, fumar umas, beber muitas, mandar as que nos deixam
ladrar à vontade e anda a contar trocos para opagar a euribor
e multas das finanças

Kowalski diz:
eu até estou disposto a trabalhar e contribuir para o sistema, mas paguem-me alguma coisa de jeito e deixem-me em paz

f r e u d diz:
e além de redistribuir a riqueza... pensem em redistribuir o trabalho
que ser sempre o mesmo a alancar

Kowalski diz:
e não esperem que seja um robot a trabalhar 12 horas por dia, enquanto os que mandam vivem à grande sem mexer a peida

f r e u d diz:
depois queixam-se que não temos tento na língua
claro, caralho!!!!!!!

Kowalski diz:
muito tento temos nós
num país a sério isto ia à bomba

f r e u d diz:
levar no cornos e agradecer?!?!?!?!
levar no cu e pedir mais?

Kowalski diz:
dar o outro corno?
bom, tenho que ir bulir.

f r e u d diz:
pois
foda-se

O antídoto


"Porra, escutas a ouvir-me combinar negociatas com o meu amigo Vara?! Deixa-me mas é cá vacinar contra o escrutínio público!".

Você compraria um carro usado a este tipo?

A imprensa entretém-se agora a discutir se as escutas que apanharam José Sócrates a falar com o seu amigo Armando Vara são nulas ou legais. Há quem se indigne mesmo pelo simples facto de haver uma escuta de uma conversa em que um dos intervenientes é o nosso primeiro. Nada mais errado. Aliás, devia haver uma lei que estipulasse a obrigatoriedade de Sócrates, Cavaco e todos os ministros serem permanentemente escutados. Se há alguém com poder e que deva ser escrutinado são eles.
Acho que toda esta questão de se esta escuta é legal ou não é irrelevante. É como o Pinto da Costa e a fruta. Pode não ser legalmente admissível utilizar, mas toda a gente sabe que ele é corrupto, está provado em gravações. No caso do Sócrates, nem sequer se sabe bem o teor da conversa. Nem é preciso.
A minha questão é muito simples: por que carga de água o nosso primeiro está sempre metido em merda? A licenciatura ao fim de semana, o cambalacho com o apartamento, o freeport, amigos como o Coelho e o Vara, que cheiram a corrupção putrefacta a milhas de distância...
Eu caguei se é legal ou ilegal. Caguei se é grave o que disse ou deixou de dizer. O que sei é que o nosso primeiro-ministro é "amigo" de gente claramente infrequentável, e que tudo aquilo que sai nas notícias não chega a 10% da verdadeira corrupção que grassa por este país fora.
A verdade é que, com líderes deste gabarito, quem raio existe para dar o exemplo da moralização que é tão necessária?

A memória

Robert Enke foi guarda-redes do Benfica durante três anos. Substituiu o grande mestre Preudhomme e ensinou umas coisas ao nosso Moreira. Saiu para tentar a sorte no Barcelona, convite irrecusável, num momento em que era idolatrado no clube, mas em que este precisava de dinheiro. Saiu como entrou e como se comportou enquanto cá esteve, de forma digna e honrando a camisola do Glorioso. E, enquanto adepto e sócio, quero honrar a memória deste homem de 32 anos a quem a vida trocou as voltas. Um grande jogador, uma pessoa de grandes capacidades humanas, solidário e preocupado com os direitos humanos e dos animais. E alguém que serviu com honra um clube centenário, de rica história e tradição.
Há coisas que destroem um homem, e não nos compete julgar isso.

Apenas honrar e salientar um Homem que ficou no coração de todos os benfiquistas. Com toda a certeza saberemos recordá-lo, nas bancadas, nos próximos jogos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Democracia: sistema político baseado na ditadura da maioria sobre a minoria

Referendar se as pessoas do mesmo sexo têm o direito de casar é tão pertinente como referendar as seguintes questões: se os pretos têm o direito de votar, se as mulheres têm direito de serem herdeiras, se os imigrantes têm o direito de aceder ao Serviço Nacional de Saúde, se os deficientes mentais têm o direito à educação, se os anões têm o direito de adoptarem crianças, se os freaks dos cães têm o direito de não tomarem banho, se os cancerosos têm o direito de estarem fodidos com a vida, se os canhotos têm o direito de bater punhetas, se os góticos têm o direito de se vestirem de preto no verão, se as pessoas com óculos têm o direito de jogar à bola, se os esotéricos têm o direito de ouvir discos New Age, se os adeptos do Leixões têm direito a aderirem à SportTv, se os militantes do POUS têm o direito a organizar congressos políticos, se as pessoas com mais de dois metros de altura têm direito a usar chapéu alto, se as pessoas com uma verruga na nádega esquerda têm o direito a terem relações sexuais, se os portugueses com o piço torto têm o direito de dançarem em discotecas africanas, se...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A peça que falta no nosso puzzle político

Nos últimos processos eleitorais surgiu uma miríade de novos partidos irrelevantes porque redundantes ideologicamente face aos partidos já existentes. E, no entanto, éxiste um espaço político ainda não preenchido pelo nosso sistema partidário: o quadrante direita/libertário.

Baseio-me aqui num modelo extremamente simples (utilizado naquelas bússolas eleitorais que polulam na net) que situa todo o espectro ideológico na intersecção de duas dimensões: (1) esquerda/direita e (2) libertário/conservador. A primeira dimensão diz respeito à atitude perante a igualdade económica, favorável à esquerda (e operacionalizada através da defesa de um estado social e regulador forte) e desfavorável à direita (operacionalizada através da defesa da redução da interferência do estado na esfera de liberdade dos agentes económicos). A segunda dimensão diz respeito à atitude perante a liberdade na esfera privada (sexualidade, droga, morte, religião, etc.) favorável nos libertários mesmo quando esta entra em colisão com os cânones da tradição e desfavorável nos conservadores, por entenderem que certas normas universais (alicerçadas na tradição e/ou na religião) devem guiar a conduta pessoal de toda a gente.

Combinando estes dois eixos, chegamos a 4 quadrantes: esquerda/libertário (espaço ocupado pelo BE e, numa escala menor, pelo PS); esquerda/conservador (ocupado tradicionalmente pelo PCP, apesar de este estar a caminhar progressivamente para uma posição mais libertária); direita/conservador (ocupado pelo PSD e, em maior grau, pelo PP) e direita/libertário (espaço por ocupar no nosso sistema político).

No fundo, a peça do puzzle que falta seria o equivalente ao partido democrata americano, bastante liberal do ponto de vista económico mas bastante libertário do ponto de vista dos costumes. Quando nas próximas eleições, dezenas de grupúsculos irrelevantes pensarem em criar novos partidos, que pelo menos um tenha a sensatez de se afirmar no nosso espaço político, através da ocupação deste quadrante ainda deixado em branco. Os eleitores da direita libertária (meus vizinhos libertários que vivem na mesma rua do que eu, mas do lado direito) agradeceriam e talvez a abstensão descesse ligeiramente.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A minha vida mudou há 18 anos

Lembra-me o inestimável Idle Consultant que passam hoje 18 anos de um dos jogos mais míticos, se não o mais mítico, da minha vida. Foi a 6 de Novembro de 1991, no entretanto desaparecido estádio de Highbury Park, em Londres, que o Benfica defrontou o então campeão inglês, o Arsenal. Era a Taça dos Campeões Europeus e, depois de um 1-1 na Luz, perante 80 mil pessoas, a segunda mão afigurava-se difícil. E foi difícil. Sofremos o primeiro golo, o profeta Isaías empatou com um golaço antes do intervalo. Foi um jogo de nervos, que vi em directo, com muito sofrimento. Chegámos ao prolongamento, e dois golos, de Kulkov e de novo de Isaías coroaram uma exibição de luxo a partir do intervalo. No onze, muitos históricos do Glorioso, e uma equipa que merece ser aqui recordada: Neno - Veloso, Paulo Madeira, Rui Bento e Schwarz; Kulkov, Jonas Thern, Rui Costa e Vítor Paneira (o meu jogador preferido do Benfica de todos os tempos); Isaías e Yuran. Jogaram ainda César Brito e José Carlos. No banco, um senhor chamado Sven-Goran Eriksson.


O jogo deu-me cabo dos nervos e acabou comigo, pela primeira, em lágrimas por causa de um jogo de futebol. O meu destino de benfiquista ficou ainda mais fortalecido aí. Nos anos seguintes, já sócio, fui visita regular ao estádio, apanhando molhas e mais desilusões que alegrias. Mas ser adepto é isto.

Este jogo, e o quase tão mítico 4-4 em Leverkusen, foi o responsável por ter percebido quão belo, dramático e intenso um jogo da bola pode ser. E é por isso, num momento em que a equipa de novo nos faz sonhar, que é importante recordá-lo.

PS: O Glorioso acaba de dar mais uma lição de segurança, classe e querer, ganhando em Liverpool, na casa do Everton. Uma boa resposta para todos os ressabiados que viram no acidente encomendado de Braga um sinal de fraqueza.

Carrega, Benfica!

Num dilema entre comprar o Expresso ou o Público, o Editorial do Vodka Atónito anuncia publicamente a sua preferência pelo último

"Depois, ao fim-de-semana, saem aqueles jornais tão grandes que até vêm em sacos- acho que esses jornais foram feitos para as pessoas não terem relações sexuais - e têm de ir ao supermercado, que tempo lhes sobra?" (António Lobo Antunes)

Gostava de ter para sempre 3 anos

Hoje de manhã a minha filha estava com tosse. Disse-lhe, tadinha, filha, estás tão doente, se calhar vais morrer. Com um ar muito condescendente, a minha filha respondeu, às vezes as pessoas morrem mas as pessoas que estão vivas não morrem.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A fábrica

Mataram o Vasco Granja. A antiga estação de comboios de Carcavelos foi deitada abaixo. O antigo parque infantil da Inatel, com o escorrega vermelho maior do mundo e um crocodilo verde também gigante foi substituído por um parquezinho de merda sem piada nenhuma. Uma qualquer criatura perversa e omnipotente vai descobrindo cirurgicamente todos os pedaços da minha infância, e vai arrancando-os, um a um, por pura maldade, até nada me sobrar do que fui. Mataram também o meu barbeiro, um velho rude e hábil, de poucas palavras e uma grande navalha. Por isso, agora vou cortar o cabelo a um shopping cheio de luzes tristes de néon, que tem lá dentro um cabeleireiro uni-sexo, linha de montagem fria e asséptica de produzir em série cabelos no chão. Hoje, depois do trabalho, dirigi-me à fábrica (nome carinhoso com que apelido o meu cabeleireiro uni-sexo plantado no shopping cheio de luzes tristes de néon) e sucedeu o seguinte diálogo com a operária do cabelo que me calhou, dentro do universo das cerca de trezentas operárias do cabelo que lá trabalham:

- Queria, por favor, que me cortasse o cabelo e a barba com máquina zero.
- Tem a certeza que quer pente zero?
- Sim. Peço-lhe cuidado aqui atrás porque tenho um sinal.
- Quer que mantenha o sinal ou quer que o remova?
- Julgo ser um pouco perigoso remover-me o sinal com uma máquina de cortar cabelo.
- Estava só a brincar. Vamos então a isto.

E a operária do cabelo começou o seu debaste ritmado e mecânico. Trinta segundos depois, sinto um pequeno pedaço do meu corpo a ser cortado por uma máquina ruidosa, fazendo saltar pequenas gotículas do meu sangue.

- A senhora esqueceu-se do sinal.
- Esqueci-me completamente. Mas não se preocupe, eu vou já buscar um penso magnífico em forma de spray.

E um algodão ficou todo encarnado de embeber um sangue. E uma toalha ficou toda manchada de embeber o sangue. E um spray frio fez estancar o sangue. Tenho um pequeno cartão de promoção. Ficou tudo por 18 euros.

Caim

Ao sexto dia, Deus fez o homem. Fê-lo peludo, mau, fraco, mortal e com uns gases extremamente malcheirosos. No final, Deus disse: "vou fazer esta criatura também um pouco à minha imagem e semelhança." E Deus deu ao homem um extraordinário sentido de humor.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Halloween this

Não tenho paciência para o dia das bruxas. Nem para vampiros e góticos e paneleirices dessas. Se um gajo gosta assim tanto da morte, que se mate. É simples.
Este ano, uns vizinhos aqui do prédio (tem 12 andares), afixaram no elevador um papel que dizia assim: "Caros vizinhos. Na próxima noite de 31 de Outubro, as bruxinhas e os bruxinhos do 7º F vão percorrer o prédio, dizendo doçura ou travessura. Gostaríamos de ter a participação de todos". Depois de ler isto, e quando acabei de vomitar abundantemente no chão do elevador, pensei: "foda-se, cum caralho, ora aí está uma cena que me faz apetecer rebentar umas cabeças". Mas enfim, limpei o vómito do queixo e lá fui à minha vida.
Esqueci-me do assunto até que, no dia marcado, dito e feito, os pequenos cabrõezinhos apareceram a bater-me à porta. Ouvia-os no corredor, a gritar "Doçura ou Travessura" que nem esquilos dementes. Não abri, não tanto por estar ocupado a ver pornografia, mas porque me tinha esquecido de comprar as lâminas para esconder dentro dos chocolates. Nestas coisas, se não podemos participar como deve ser, mais vale ficar de fora.
No meu tempo, havia o "Pão por Deus", em que os putos batiam às portas a pedir trocos para comprar guloseimas. Não havia cá abóboras, bruxas ou o caralho. Era mais "sou pobre, os meus pais são bêbados, dá-me uns trocos para comprar um chupa". Era simples, e pensar nisso agora aquece-me o coração.

Para as bruxinhas e bruxinhos do 7º F, voltem sempre. Aliás, voltem já para o ano.
As lâminas já estão a bold na minha lista de compras.

domingo, 1 de novembro de 2009

Que se passa com o Zborten

Enquanto benfiquista, quebro um precedente e vou falar do Sporting. Isto para ajudar os meus amigos lagartos a perceber que raio se passa no segundo maior clube da segunda circular. Estou farto de os ver a chorar pelos cantos e escolherem equipas estrangeiras para apoiar, como o Machechas ou os galácticos.

Atão é assim.

Em primeiro lugar, quero estabelecer alguns pressupostos:

1- O Sporting não tem a mesma guita que os outros.

2 - O Paulo Bento é bom treinador, e um dia há de treinar o meu Benfica.

3 - O Sporting tem tido azar.

4 - O Sporting tem sido roubado pelos árbitros.

E agora, vamos analisar estes pressupostos:

1 - É verdade que o Zborten não tem guita, mas às vezes parece que faz gala disso e não compra, ou compra merda, só para gritar bem alto que não é como os outros. A questão é que, mesmo sem dinheiro, se conseguem fazer algumas coisitas. Há gajos emprestados, em que o clube de origem paga os ordenados; há tipos baratos em Portugal, e o Porto normalmente consegue descobri-los, por que não o Sporting? E o Benfica, já agora? Quando custou o Matigol? Que eu saiba, foi mais ou menos o mesmo que o Saviola. E, em campo, a coisa já não é assim tão parecida. Parvoíces como Angulos e Saleiros são dispensáveis.

2 - O Bento é bom, já mostrou que é bom. Mas claramente está no fim do ciclo. Como dizia Camacho, quando saiu da última vez, a mensagem não passa para os jogadores. É claramente esse o caso. Gostaria de ver o que conseguiria fazer numa equipa média, um Guimarães ou coisa assim.

3 - Tem tido também algum azar, é verdade. Mas isto é mesmo assim, e o Glorioso já o mostrou durante anos consecutivos. Quando estás na merda, tudo te acontece, quando estás bem, parece que as bolas entram sozinhas. O pão do pobre cai sempre com a manteiga para baixo.

4 - Tem sido roubado, é verdade. Não só nesta época, mas também não tanto como dizem. A verdade é que o Sporting, este ano, está na mesma situação que o Benfica no ano passado: joga tão mal que não tem autoridade sequer para falar nas arbitragens. E, muitas vezes, o ataque sistemático ao árbitro é uma forma contraproducente de desresponsabilizar a equipa.

Mais duas considerações, que me parecem importantes:

a) João Moutinho é um grande jogador, mas não pode ser capitão do Sporting. Capitão tem que ser um tipo que quando arregala os olhos e manda um grito, os outros borram-se todos e fazem o que ele diz. Moutinho é um grande sportinguista, dá tudo em campo, mas não tem peso nem carisma para fazer bem a função que lhe entregaram. No fim do jogo com o Marítimo, ajoelhou-se e parecia estar a chorar. Capitão só pode chorar em final perdida.

b) Devido ao complexo de inferioridade face ao Benfica, ao Zborten basta-lhe ficar à frente do Glorioso para considerar a época bem sucedida. O ódio crónico ao Benfica faz o Sporting não focar as atenções em quem realmente tem isto tudo armadilhado, e anda há anos a roubar. Se o Benfica é assim tão beneficiado como dizem, por que raio não ganha nada há uma data de anos? Se calhar era altura de deixarem de prestar vassalagem aos tripeiros e verem, finalmente, quem tem sido beneficiado ao longo de mais de uma década.

Até sempre, Velho Lobo

Confesso que, hoje em dia, praticamente não ouço rádio. Não tenho paciência para playlists formatadas por um quarentão que acha que sabe qual a merda que os adolescentes querem ouvir naquele dia. Salva-se o futebol, que ainda é bem bom de ouvir na rádio (recomendam-me a Renascença, dizem-me que ainda é um verdadeiro relato à moda antiga), e a Radar, com um pouco de Marginal de vez em quando.
Tudo isto para prestar homenagem à mais respeitada voz da rádio, que morreu hoje. António Sérgio, um tipo que, para mim, é sinónimo de integridade, verticalidade e verdadeira paixão pela música. Teve vários programas míticos ao longo de perto de 40 anos de carreira, ajudou a lançar e a editar bandas (como os Xutos) e, apesar de toda a sua autoridade moral, nunca deixou de evoluir, nunca caiu naquela de "no meu tempo é que era bom". Tinha actualmente mais um bom programa na Radar. Aos 59 anos, o coração falhou-lhe.
Merece todo o nosso respeito, numa época em que cada vez temos menos referências.