O Brasil deu ao mundo muita coisa. Entre muitas outras estão alguns dos melhores jogadores de futebol de sempre, grandes escritores, gajas boas e a música. E, falando de música, o Brasil é incontornável. Desde a bossa - que de formatação tão simples como é nunca cansou, um pouco como acontece com o fado - até aos autores que surgiram nos anos 60 e ainda aí andam a dar grande música (Chico, Caetano, João Gilberto, Maria Bethania, etc, etc), passando pelo rock e pelos outros sons mais modernos.
E é de isto que quero falar. Gosto bastante de rock brasileiro (e aqui uso a palavra rock no sentido mais lato do termo, Brasil é mistura em tudo, também tinha de ser assim na música), sobretudo dos grandes Raimundos (mais pesado), dos desaparecidos Blitz (pop mais pastilha elástica que existe), de muita coisa dos Legião Urbana e alguma de Skank.
Mas os reis de tudo são O Rappa.Existem há bastantes anos, e conheci-os talvez há quatro ou cinco. Havia uma loja genial no Centro Comercial de Carcavelos, onde ia quase todos os domingos. Chamava-se "Império do Som", vendia cd's em segunda mão (a maior parte gamada pelos agarrados da zona) a 7,5 euros, e o tipo atrás do balcão era o Paulo, é uma das maiores personagens que alguma vez conheci. Ex-toxicopedente, amante de música e recentemente apaixonado pela literatura, ouvia de tudo. Trash metal, big bands dos anos 40, fado, punkalhada. Gostava de conversar e não se calava o tempo todo em que eu estava na loja. Ficava lá horas, a ouvir música, a conversar e a fumar, apesar de a loja ser na cave e ter o tamanho de duas pequenas cabines telefónicas. Eu olhava as caixas e, se alguma coisa me chamava a atenção, algo que não conhecia e me despertava o interesse, pedia para ouvir (só se recusava a meter reggae: "essa merda é toda igual, queres ouvir para quê?"). Depois de uma hora à procura do cd correcto, lá ficávamos a ouvir o disco. E foi lá que ouvi Piazzola, discos antigos do Dylan e o Rappa. O disco em questão era "Rappa Mundi", de 1996, como podia ser outro qualquer. Andava a ouvir muita música brasileira e conhecia O Rappa de nome. Assim que começou a bombar no estéreo, soube logo que era algo que me daria muito prazer, só não sabia que a banda me iria acompanhar a sério ao longo de muitos anos. Depois disso, saquei a discografia toda da net e a minha primeira impressão só se reforçou.
Em 2008, depois de um longo interregno e de mudanças na formação, saiu "7 Vezes", o último disco, que comprei na Fnac assim que saiu cá. Tem tudo o que vem de trás: rap, funk, hip-hop, rock, um tudo-nada de reggae, grandes melodias, grandes letras, grandes músicas. Já este ano tive o privilégio de os ver ao vivo, na minha terra-natal de Carcavelos, no meio de milhares de brasileiros esfuziantes.
Deste disco "7 Vezes", só posso dizer que roça a perfeição. Todas (mesmo todas!) as músicas são excelentes, empolgam e ficam no ouvido, mas a produção mais cuidada fez deste album mais rico, mais denso, que não se gasta com as audições. É claramente o disco que mais vezes ouvi no último ano, e ainda é ele que roda no rádio do carro. Música com tusa que não abdica da inteligência, a síntese perfeita.
Não têm muitos vídeos, mas quem quiser conhecer as músicas, pode ouvi-las aqui.
Enquanto melómano, O Rappa foi uma descoberta que mudou a minha vida. Façam o favor de escutar.
6 comentários:
Não conheço mas despertaste-me a curiosidade, segui a tua pista passeando pelo youtube, e não é que encontro uma música deles chamada "homem amarelo"...
Já acompanho os ORappa desde a muito tempo. O primeiro CD que ouvi deles foi o lado B lado A que me deixou logo agarrado... Adoro o álbum 7 vezes e recomendo o ao vivo na MTV para primeira escuta.
Dado esta afinidade musical, recomendo, para quem gosta de boa música, uma cantora extraordinária: MARIA RITA
É boa, é, tal como a senhora sua mãe (dela, não a sua, amigo anónimo).
Thrash Metal não é lixo, portanto escreve-se com dois "H's"...
O "Thrash Metal não é lixo"
A doutrina diverge.
Por mim sem 'H' está perfeito.
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