As escutas de Armando Vara a conversar com o amigo Sócrates ainda não apareceram transcritas totalmente, embora creia que é uma questão de tempo até isso acontecer. Mas há coisas que já se sabem.
Passo a enumerar:
1 - Sócrates lembra ao seu amigo Vara as dificuldades de liquidez da campanha do PS. Parece que havia pouco dinheiro para isqueiros e aventais rosa. Antigamente dizia-se que "se queres dinheiro vai ao Totta", mas o amigo Vara, que percebe tanto de banca como eu de begónias, não está no Totta, é vice-presidente do BCP.
2 - Sócrates diz ao amigo Vara que têm de resolver o problema do amigo Joaquim. O amigo Joaquim é Joaquim Oliveira, dono da Controlinveste, dona do DN, do JN, da TSF, do 24 horas, do Jogo, etc.
3 - Sócrates diz ao amigo Vara que uma maneira de resolver o problema do amigo Joaquim é dar financiamento ao amigo Vasconcellos, dono do Diário Econónico e agora de parte da Media Capital, que compraria os jornais falidos do amigo Joaquim. O amigo Vasconcellos foi aquele que recebeu dinheiro da PT e que, depois desta recuar na compra da TVI (por causa do barulho que isto deu em plena campanha), acabou por avançar para a compra da dita estação. Compra anunciada no dia a seguir às eleições.
4 - Sócrates comenta com o amigo Vara a eventual compra da Media Capital pela PT. Isto apesar de, poucos dias depois desta conversa, ter dito no parlamento que nada conhecia desse negócio. (Veio agora explicar que queria dizer que não tinha conhecimento oficial, enquanto primeiro-ministro).
E há mais, muito mais, que saberemos em breve.
Entretanto, a elite educada deste país, com os bolsos bem bezuntados pelo polvo socialista, reage com indignação ao facto de o primeiro-ministro ser escutado. Bradam aos céus, exigindo que se esclareça se as escutas são legais ou não. E agora sabe-se que um velhadas do Supremo decidiu destruir as escutas.
Ou seja, esperam de nós que tapemos os olhos e os ouvidos a tudo o que sabemos que foi feito, e que só confirma tudo aquilo que há muito se suspeita.
Em qualquer país civilizado, bastava um primeiro-ministro tentar uma cunha com um banqueiro para resolver os problemas de um detentor de jornais - referido como "o nosso amigo Joaquim" - e a demissão era o único que se impunha.
Mas aqui, o que interessa é se as escutas são legais ou não.
Votaram nele, é porque gostam desta merda.
Siga a banda.
domingo, 15 de novembro de 2009
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2 comentários:
Concordo com quase tudo mas apresento uma divergência de fundo: ao contrário do que parece estar implícito no que escreves, não acho admissível que por cumplicidade entre os operadores de justiça e os jornalistas seja permanentemente cometido o crime de violação do segredo de justiça (trazendo para a praça pública aquilo que deveria manter-se no segredo dos tribunais), em contexto de total impunidade. Os jornalistas são tão expeditos a acusar tudo e todos (para vender jornais/publicidade e às vezes para impor agendas políticas e económicas escondidas), violando sistematicamente os seus deveres deontológicos da imparcialidade, direito ao contraditório e respeito pela presunção jurídica da inocência) mas são extraordinariamente renitentes em assumir a sua quota parte de responsabilidade na violação do segredo de justiça.
Eu, enquanto jornalista, não tenho qualquer problema em assumir a minha quota-parte de responsabilidade na violação do segredo de justiça. Só tenho pena de não o violar mais vezes. Só não o violo porque não posso.
Por uma razão muito simples: para os poderosos não há segredo de justiça (por exemplo, no caso Casa Pia, Ferro Rodrigues foi avisado do processo que visava Paulo Pedroso, num processo que estava em segredo de justiça, e com base nisso pediu a intervenção de Jorge Sampaio). Os poderosos protegem-se uns aos outros, e sabem de tudo o que se passa. Portanto, o segredo de justiça é uma piada.
Devemos agradecer aos jornalistas que o violam, porque se limitam a dar a conhecer a todos aquilo que os poderosos estão fartinhos de saber.
O problema não está nos jornalistas ou no segredo de justiça. É só mais um conceito que, nos dias que correm, nos impedem de penalizar os filhos da puta que nos andam a comer, e a rir-se.
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