segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O direito à hipocrisia

As pessoas dizem, ah e tal, aquele fulano daquele partido é um hipócrita do caralho, o gajo é panisga dos cabelos até a braguilha e depois vai para o parlamento lutar contra os seus próprios direitos. Apesar da aparente pertinência deste tipo de acusação, julgo ser impróprio em democracia emitir este tipo de juízos. As opiniões políticas de um qualquer político devem ser sempre rebatidas com argumentos políticos (referentes à esfera pública) e nunca com argumentos pessoais (referentes à esfera privada). Até um político (que deve ser mais escrutinado do que os outros cidadãos) tem o direito alienável à sua privacidade, não devendo haver qualquer escrutínio da sua esfera privada, mesmo que seja para detectar vasos comunicantes hipócritas com o que defende na esfera pública.

Num plano pessoal, se o político panisga for meu conhecido, aí já tenho o direito de lhe dizer (num juízo pessoal) que o cabrão é um hipócrita da merda. Mas não tenho o direito de ir para um qualquer fórum público (tv, jornal, blog, etc.) dizer exactamente a mesma coisa sobre o meu conhecido. Parece esquizofrénico, mas penso que uma pessoa deve respeitar sempre a independência de ambas as esferas. Não o fazer, é um procedimento perigoso, que leva a escrutinar os esqueletos no armário que qualquer adversário político sempre tem (e nem sequer é preciso ser de natureza sexual), sacrificando nesta demanda estalinista o valor da privacidade e as mais elementares regras da decência democrática. Dizem que, durante o estado novo, quando no PCP se queria linchar um adversário político interno, acusava-se o dissidente de ter televisão em casa.

8 comentários:

papousse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
papousse disse...

Primeires,num político, uma contradição evidente entre o que se defende e o que se faz é com certeza um facto digno de notícia. Exemplo extremo: alguém que defende a perseguição a emigrantes e a criminalização da prostituição e, vai-se a ver, passa as noites a enganar a esposa na marmota azul na companhia de senhoras mamalhudas vindas da europa de leste.

Segundes,não vejo que ser panisguinha signifique ser a favor do casamento entre panisguinhas.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Para mim, do ponto de vista político, a única contradição que deverá assumir relevância é a que possa existir entre o que se defende politicamente e o que se faz politicamente. Exemplo: se um governante defender no seu discurso uma maior justiça social mas depois agravar a carga fiscal sobre os mais pobres, existe aqui um facto político relevante, passível de denúncia. Pelo contrário, contradições existentes entre o que se defende politicamente e o que se faz na vida privada, não devem ter qualquer relevância política, pelas razões invocadas na minha posta. Num dilema entre o dever de respeitar a privacidade da vida pessoal de toda a gente (inclusive dos políticos) e o dever de condenação de todas as formas de hipocrisia, julgo que a escolha deverá recair sobre a protecção do primeiro valor. Em caso contrário, o passo para cairmos numa sociedade totalitária em que a vida pessoal de toda a gente é permanentemente escrutinada para procura de incongruências (que todos inevitavelmente têm algures) é demasiado pequeno. Big brother is watching our hipocrisy.

papousse disse...

Não disse que se devia escrutinar de modo militante a vida dos outros. O que defendi foi que as contradições grotescas são ou deviam ser evidentes motivos de notícia.

E são-no. E mais em particular nos paíse livres e não tanto em regimes totalitários.

Little Bastard disse...

Essa do regime totalitário já começa a irritar. É o fantasma que serve para tudo. Muitos dos senhores que nos governam, e que são pagos com o nosso dinheiro, são hipócritas e fazem o contrário do que advogam. Não é um conceito como "regime totalitário" que vai resolver isto. É esse pensamento politicamente correcto de nos fecharmos em conceitos abstractos que nos levam a não fazer nada. É como dizer que as escutas não são válidas, portanto não podemos sequer permitir ao nosso cérebro fazer juízos de valor sobre o seu conteúdo, que conhecemos. Chega de meias-palavras e troca-tintas. Eles não jogam limpo, e o sistema favorece-os. Por que raio havemos nós de jogar limpo?

o homem do estupefacto amarelo disse...

Caro Bastard,

Utilizarias o mesmo critério se fosses tu a ser sujeito à escuta ilegal (e à divulgação pública ilegal) dos teus telefonemas pessoais?

Little Bastard disse...

Se isso implicasse que todos os filhos da puta que tornam este país irrespirável fossem apanhados nas suas trafulhices, sem dúvida! Já!
Escutem-me à vontade. Nada tenho a temer.

Anónimo disse...

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