segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Eu sou o Armando Vara dos Cds
Quando era adolescente, de vez em quando os meus pais iam de férias para o estrangeiro, e eu e o meu irmão ficavamos uma semana sozinhos em casa. Liberdade. O problema é que sempre fomos educados como atrasados mentais, pelo que não sabíamos cozinhar um ovo cozido, quanto mais um ovo estrelado (ainda hoje, com trinta e dois anos, devo ser o único adulto residente no município de Lisboa, e sem nenhuma deficiência mental, a não saber partir a merda de um ovo). Restavam-nos apenas duas estratégias para sobrevivermos durante aqueles sete longos dias. Primeira estratégia de sobrevivência: devorarmos uma panela gigante cheia de panados de peru deliciosos (com imenso limão) feitos pela minha mãe (ainda hoje, com trinta e dois anos, continuo a achar que a minha mãe faz os panados de peru mais deliciosos da área metropolitana de Lisboa). O problema é que, invariavelmente, ao segundo dia já estava a panela totalmente vazia, apenas com os destroços tristonhos de pão ralado queimado a boiar no seu fundo. Segunda estratégia de sobrevivência: a minha mãe deixava-nos guito para irmos comer fora. Nessa altura, havia uma hamburgaria no Palmeiras chamada Frog, com uns hamburgueres porreiros (ainda hoje, com trinta e dois anos, devo ser o bloquista residente em Portugal Continental que mais gosta de fast food americana), que reunia todas as qualidades para ser o meu manjedouro habitual, se não fosse o facto de já nessa altura ter uma compulsão descontrolada pelo consumo de CDs. Ora, assim como não se pode deixar uma batelada de dinheiro a um junkie esperando que o mesmo faça dele a sua utilização devida, parece-me igualmente evidente ser uma completa irresponsabilidade confiar dinheiro a um dependente de Cds (ainda hoje, com trinta e dois anos, devo ser a pessoa da península ibérica com um salário de mil euros que mais estoura irresponsavelmente o seu mísero salário em objectos inúteis como Cds). Foi isso que aconteceu. Grande parte do dinheiro foi estourado em Cds (nessa altura a minha panca - muito partilhada com o Bastard - era a rocalhada do final dos anos sessenta, Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Led Zeppelin, Deep Purple e afins). E o resultado nutricional deste meu problema de adicção foi desastroso: quase uma semana a carcaças com manteiga. Pior ainda foi o resultado moral, já que numa folhinha de papel todos os meus gastos furtivos em Cds eram cuidadosmente transformados em despesas honestas em menus de hamburgueres, batatas fritas e molhos delicosos da hamburgaria Frog, numa engenharia contabilística de fazer inveja aos nossos mais respeitados CEOs. Quem nunca pecou que atire a primeira escuta telefónica ilegal.
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1 comentário:
O Frog era uma merda, a gente é que achava que era bom.
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