quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A mim ninguém me cala
O meu amigo Little Bastard acusa-me de incorrer no erro de considerar o PS como um partido de esquerda. Bastard responde-me utilizando um dos truques clássicos do sectarismo à esquerda: considerar que só há uma esquerda, a pura, a da Bayer, que por acaso é a sua, e que todas as outras são sempre direitas travestidas de esquerda. Foi nessa lógica que Estaline designou os sociais-democratas de sociais fascistas. Foi nessa lógica que que, nos tempos do PREC, o MRPP pediu emprestado a Estaline o mesmo vocábulo e o arremessou contra os sociais-fascistas do PCP. É na mesma lógica que bloquistas e socialistas sectários acusam os comunistas de defenderem um totalitarismo muito próximo do fascista. E é na mesma lógica que comunistas sectários acusam os bloquistas de serem sociais democratas disfarçados. E é na mesmíssima lógica sectária que o Bastard, para justificar a sua posição de que não deve haver uma união PS, PCP, BE em torno de uma candidatura presidencial, descarta o apoio a qualquer candidato do PS porque "não é de esquerda". Ora, eu concordo com Bastard que o PS, do ponto de vista ideológico, tem feito uma perigosa viragem à direita numa série de aspectos. Mas tratar o PS como um partido de direita igual ao PSD (como parece estar subentendido nas palavras do Bastard) é uma caricatura grosseira da realidade política, já que quer em termos sociais (diminuição das desigualdades, aumento do salário mínimo, investimento em políticas sociais como o rendimento mínimo, etc.) quer em termos dos costumes (despenalização do aborto, fim do divórcio litigioso, acesso dos homossexuais ao casamento, etc.), o PS tem demonstrado estar claramente à esquerda do PSD, o que, na minha opinião, é razão suficiente para os outros partidos de esquerda abandonarem as suas mesquinhas quezílias fratricidas e se unirem contra um adversário comum. Se a esquerda continuar a insistir na via suicidária do sectarismo, continuará a ser o que sempre foi: a principal responsável pelo enviesamento à direita do nosso sistema político.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Se o melhor que a esquerda me arranja é o Manuel Alegre, começo então a ver a direita como um campo florido.
Não sei se já vos disse, mas não simpatizo muito com o Alegre.
/fim de sarcasmo
As dúvidas em relação a um possível voto no Alegre não têm que se ligar exclusivamente à georeferenciação política do poeta Manuel.
Tal como sucede com o Raviolli, a questão residirá, no meu caso, mais na apreciação(negativa) que, bem ou mal, faço da pessoa.
Coloquem-me, por exemplo, perante um boletim de voto com as fronhas do Cavaco e do Freitas do Amaral e não hesitarei em quem votar.
Se o Alegre fôr eleito as cimeiras Ibéricas vão ser lindas:
- "Porqué no te callas?"
- "A mim ninguem me cala!"
- "Porqué no te callas?"
- "A mim ninguem me cala!"
- "Porqué no te callas?"
- "A mim ninguem me cala!"
- "Porqué no te callas?"
- "A mim ninguem me cala!"...
Enviar um comentário