Meu caro amigo,
Escrevo-te para corrigir algumas imprecisões da tua carta aberta.
1- Ser sectário não é pertencer a um grupo (estando ou não filiado). Ser sectário é tornar-se fanático nessa relação de pertença, perdendo-se o sentido crítico em relação ao seu grupo, e sendo-se tendencioso na relação e na apreciação dos grupos adversários. Deste modo, não enfio o carapuço do "sectarismo", porque em variadíssimas circunstâncias (inclusive neste tasco) sempre critiquei livremente o BE, e sempre elogiei as características positivas dos outros partidos, e sempre defendi que deve haver plataformas de entendimento entre os diversos partidos de esquerda. Tu podes não ser filiado em nenhum partido, mas revelas-te sectário ao dividires o mundo entre o bem e o mal, o bem do lado da tua tua esquerda pura e venerável e o mal do lado das outras esquerdas impuras e aburguesadas.
2- Dizes que a esquerda é menos pragmática, que só lhe interessa a consciência e a intenção, independentemente das consequências. Na minha opinião, isso é uma visão muito distorcida do que é a esquerda. Para mim, sempre entendi a esquerda como um projecto político de efectiva transformação do mundo, no sentido de o tornar efectivamente mais igualitário. A proclamação de stataments abstractos de igualdade, que não tenham a mínima hipótese de se materializar numa diminuição concreta e efectiva das desigualdades, pode ser bom para a tua consciência mas de pouco serve as causas da esquerda.
3- Depois do Alegre ter andado anos numa geurrilha ideológica interna com o Sócrates, e de ter concorrido para as presidenciais sem o aval do PS e contra o candidato oficial do PS, dizeres que o Alegre é um "pau- mandado do PS" é, no mínimo, absurdo.
4- Como tu próprio o assumiste, a função do presidente não é servir de contra-poder, mas sim de ser um árbitro e moderador imparcial que garanta o bom funcionamento de todas as instituições. A função de contra-poder cabe à oposição. Logo, a tua teoria que roubaste a Soares que não se deve pôr todos os ovos no mesmo cesto, não pega. Na minha opinião, o Cavaco tem sido um mau presidente por não conseguir a imparcialidade devida, funcionando como mero contra-poder. O Alegre, ao ter revelado independência em relação ao seu próprio partido, tem demonstrado que poderá assegurar a independência e imparcialidade que é devida num presidente.
Um abraço,
o amarelo
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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3 comentários:
E história dos pintelhos?
Shame on you!
Acho que já percebi o erro. É que não podemos estar a falar do mesmo tipo. "Anos numa guerrilha ideológica interna com o Sócrates"? Não pode ser o mesmo tipo que se absteve sempre e até chegou a faltar para não causar mossa ao partidozinho.
A sua corrida independente? Basta ler qualquer jornal para saber que não foi mais que uma birra, uma questão de ego, porque o lugar tinha-lhe sido prometido. Aparentemente não há assim tantas discordâncias entre Alegre e Soares, pelo que a sua campanha foi pessoal, dores de ego, e não por ter um projecto diferente.
E sim, considero que, nas circunstâncias actuais, o presidente tem de ser um contra-poder, tendo em atenção a postura do homem que está no Governo (e sobre este argumento não disseste uma palavra).
Mais uma vez te digo: o inimigo não é o Cavaco num lugar irrelevante; é Sócrates no lugar onde está, e que teria uma vida bem mais tranquila com Alegre em Belém.
Tu próprio o admites, ao dizer que o presidente não deve ser contra-poder e com esse argumento defender Alegre. Ou seja, acabas por contradizer-te, porque acenas com a sua suposta independência mas depois usas a sua boa "colaboração" com o Governo como argumento para o apoiar.
E, para que conste: já votei BE, PCP e PCTP/MRPP. Não me parece coisa muito sectária. Quanto a achar que a minha esquerda é melhor que as outras, é um facto. Se assim não fosse, se não distinguisse, não saberia votar.
Repito, o inimigo é Sócrates e o PS, e tudo o que o fortaleça é mau. Qualquer obcessão com as presidenciais, como tu pareces demonstrar, é apenas desviar as atenções do essencial.
Caro Bastard,
1) Negares que o Alegre tem feito oposição interna ao PS (nomeadamente criticando: a deriva liberal do seu partido, o desmantelamento progressivo do estado social e a consequente apropriação privada de bens públicos, um código de trabalho que agrava o desnível de poder entre capital e trabalho, etc., etc.) é, no mínimo, desonesto intelectualmente.
2- Quanto à candidatura independente, trocaste tudo. A birra foi do Soares e não do Alegre. O Soares, com a sua candidatura extemporânea e despropositada, traiu o amigo (que se tinha candidatado primeiro, sendo a sua candidatura menos anacrónica e mais forte) com a cumplicidade do PS. A independência do Alegre manifestou-se no facto de não ter aceite que o seu partido lhe retirasse o tapete desta maneira indecente, e avançasse na mesma com uma candidatura sem o seu apoio.
3- Lamento esclarecer-to mas constitucionalmente um Presidente nunca pode ser um contra-poder: esteja no governo o Sócrates, o Mussolini ou o Darth Vader.
4- Ao contrário do que referiste, nunca usei "a boa colaboração" do Alegre "com o governo como argumento para o apoiar". Disse apenas que no seu relacionamento com o seu próprio partido ele tem revelado independência, pelo que tudo me leva a crer que enquanto presidente será mais independente do que o Cavaco (nem tentando minar o governo de Sócrates como Cavaco tem feito, nem o levando ao colo).
5- Podes não ser sectário em relação a nenhum partido, mas és sectário em relação a uma posição. Ao dizeres que o inimigo é o PS (e não a direita) estás a enfraquecer a posição da ala esquerda do PS, inviabilizando uma plataforma de entendimento BE, PCP e PS (mais à esquerda), projecto esse com um potencial de transformação social muito maior do que as actuais gerrinhas fratricidas e inconsequentes da esquerda.
6- Dizes que eu tenho uma obcessão com as presidenciais. Foste tu que em 11 de Janeiro inuguraste este tema cá no tasco com a posta: "A volta a Portugal em Jantaradas".
7- E viva o nosso "Benfas".
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