segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Um diz mata e privatiza, o outro diz esfola e liberaliza



Hoje de manhã, quando estava a mijar, lembrei-me da seguinte hipótese: "A ostracização mediática da esquerda à esquerda do PS mantém-na completamente fora do sistema". Fui ao Google procurar estatísticas que me permitissem testar a minha hipótese. Vejamos os resultados. A RTP (e RTP N) é o único canal a refutar a hipótese, uma vez que 60% dos seus Programas políticos (Corredor de Poder, Parlamento e Pontos de Vista) incluem representantes de todas os partidos parlamentares, sendo que apenas 40% dos mesmos (As escolhas de Marcelo e as Notas Soltas) os excluem. É preciso então sair do contexto protector da televisão pública, para que esta ostracização política se torne evidente. Na SIC (e SIC Notícias), apenas 20% dos seus programas políticos incluem intervenientes à esquerda do PS (ou seja, o Daniel Oliveira do BE no Eixo do Mal), enquanto 80% os excluem (Plano inclinado, Quadratura do Círculo, A regra do jogo e Ponto Contra Ponto). Na TVI, este padrão repete-se, com apenas 25% dos seus programas de conteúdo político a incluírem participantes à esquerda do PS (o independente Manuel Villaverde Cabral no Roda Livre, que, apesar de ter sido no passado apoiante do PS, é, há muitos anos, um dos seus mais ferozes críticos situado à sua esquerda) enquanto 75% os excluem (Cara a Cara, A torto e a direito e Contas à Vida). Uma nota relevante: a não ser nos programas da RTP abertos a todos os partidos parlamentares, não há nenhum outro programa político com algum representante do PCP. É curiosa, então, a noção de debate político que impera na nossa televisão (especialmente a privada): colocar vários marmanjos liberais numa acesa controvérsia sobre quais de entre eles são os maiores defensores do fundamentalismo do mercado. Estamos conversados em relação às virtudes democráticas do capitalismo liberal.

7 comentários:

Funafunanga disse...

Não digas mais nada: em nome da ERC, estás contratado!
Mas já pensaste que isso se pode dever ao facto de, no PCP, não haver muita gente que se tenha notabilizado pela lucidez de análise política, pela INDEPENDÊNCIA face ao disciplinado pensamento oficial do partido? Para lermos comentadores do PCP basta ler o Avante de tempos a tempos - por mais que procures, não há muitos que saiam da mesma cartilha... Até que os havia, os chamados renovadores, uma espécie praticamente extinta no partido - e todos sabemos bem porquê. A disciplina (controleirismo) ideológica férrea e a enaltecida unidade colectivista não se compadece com a pretensão de criar estrelas do comentário - e é isso que interessa às televisões. Até o POUS teria o seu Marcelo se, de facto, tivessem um Marcelo - como o PPM teve o seu Ribeiro Telles que, pela validade dos argumentos, conseguia transcender a representatividade exígua do seu partido.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Caro Funafunanga,

Quando a RTP criar em horário nobre um programa de comentário político chamado "As escolhas do Telles", serei o primeiro a reconhecer que tens toda a razão.

Funafunanga disse...

O Telles foi um exemplo datado, evidentemente. O que digo é que a esquerda à esquerda do PS tem tido alguma dificuldade em criar figuras que tenham algo de novo para dizer - novo face ao que dizem os seus partidos e capazes até de assumir uma posição crítica face a eles. Porque todos concordaremos que um comentador é algo mais do que um porta-voz do respectivo aparelho.

Pode haver tendência para representar mais as forças políticas que geralmente têm responsabilidades governativas (que eu saiba, não é exclusiva de Portugal - o que é exotismo local é termos um partido marxista-leninista e outro trotskyista com tamanha expressão, mas isso são contas doutro rosário), mas o que têm feito os partidos pequenos (e os seus elementos mais destacados) para contrariar essa tendência? Sobretudo o PCP, porque o BE, verdade seja dita, sempre andou nas palminhas da comunicação social desde o começo (e soube pôr-se a jeito - mérito deles). Porque o ónus está do lado deles, sobretudo no que toca às televisões privadas, que não lhes devem nada. Se produzirem um gajo que gere audiências, venha lá donde venha, não creio que alguém lhe feche as portas. Agora a mania de ficar a chorar o facto de as TVs não escolherem os deles para jogar à bola, isso ainda gera mais anti-corpos. Além de permitir comodamente aos partidos de esquerda não encarar o seu próprio problema.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Caro funafunanga,

(1) Algumas sugestões de figuras à esquerda do PS que conciliem mérito intelectual com o mínimo de independência partidária para poderem ser bons comentadores políticos na TV: Boaventura Sousa Santos, José Barata Moura, Rui Tavares, Celso Cruzeiro, André Freire e João Rodrigues;

Outros menos independentes mas igualmente bem preparados: Ruben de Carvalho, Garcia Pereira, Carvalho da Silva, Pedro Sales, Fernando Rosas, Miguel Portas e Octávio Teixeira.

(2) O teu argumento da independência vai por água abaixo porque muitos dos actuais comentadores na TV são de uma independência partidária muito discutível: António Costa, Augusto Santos Silva, Morais Sarmento, Pina Moura, Lobo Xavier, Pacheco Pereira, António Vitorino, Marcelo Rebelo de Sousa;

(3) As estatísticas apresentadas na minha posta (em que apenas uma figura do BE aparece em espaços de comentário político na TV) refutam a tua tese de que o BE é levado ao colo pelos media;

(4) A informação nas televisões privadas não deve obedecer apenas à lógica do lucro e das audiências. Deve igualmente proporcionar espaços de debate livre entre diferentes opiniões políticas. Além do mais, mesmo do ponto de vista das audiências, é mais interessante promover a existência de verdadeiros debates entre ideologias distintas do que pseudo-debates em que, no essencial, todos estão de acordo. O que me leva a crer que a ostracização do comentário político à esquerda do PS não radica numa lógica de audiências mas sim no propósito de impor o pensamento único da ideologia liberal dominante.

(5) Quanto ao exotismo do peso que a esquerda à esquerda do PS tem em Portugal (em comparação com o resto da Europa) é um argumento fraco porque é um argumento de autoridade: tens que demonstrar quais são os problemas intrínsecos destas ideologias e não apelar para a sua raridade no contexto europeu. Ou seja, mesmo que estejas certo e eu errado, é preciso, em nome da democracia, serem criados os espaços de debate público para demonstrares que és tu e não eu que tens razão.

Little Bastard disse...

O Octávio Teixeira é mta bom, um ganda boss. Mas é demasiado sério, não dá grandes soundbytes.
O Rui Tavares suscita mim um vómito mais profundo que aquele à porta do Petisqueiro, em 1992.

o homem do estupefacto amarelo disse...

Se baseasses as tuas análises não em estereótipos mas na leitura das suas crónicas no Público, depressa concluirias que o Rui Tavares é o mais original dos opinion makers de esquerda da sua geração (a seguir ao Little Bastard, claro).

Little Bastard disse...

Xuxa, eu dou 15 a zero a esse gajo.

Tu só gostas dele porque és parecido com ele.

Paneleiro.