Caro Homem do Estupefacto Amarelo,
esta carta aberta é uma resposta à carta aberta que escreveste ao amigo Papousse. Ele sabe bem responder por si, mas aproveito o espaço de uma posta para espraiar o que penso sobre o assunto, não confinado às irritantes caixas de comentário.
Concordo contigo que Manuel Alegre é o candidato mais forte para, como tu dizes, "unir as esquerdas". A questão é que, para merecer o meu voto, não basta isso. É preciso eu reconhecer-lhe algum mérito, alguma capacidade, alguma verticalidade, algum carisma verdadeiro (e não aquela fleuma balofa algures entre o Júlio Machado Vaz e um caçador de Borba).
Se quiseres, é o mesmo argumento que uso para ser contra os Pepes, os Decos e os Liedsons na selecção. Sei que com eles temos mais hipóteses de ganhar, mas ganhar não é tudo.
Em segundo lugar, creio que há aqui uma confusão. Não estamos a falar de uma eleição para primeiro-ministro. O Cavaco é um medíocre, boçal e provinciano tecnocrata, mas na presidência não tem hipóteses de fazer grande mal. O único mal que pode causar é ao Governo, e ao teu amigo Sócrates (fodi-te com esta, na foi?). Ora o meu argumento é exactamente este. Um presidente deve funcionar como equilibrador da democracia. Quando estamos perante um Governo autista, centralizado, autocrático e desrespeitador de tudo e tudos, como o que temos (ou tu és daqueles que acredita na nova pele de cordeirinho do teu amigo Sócrates?), o que é preciso é um Presidente que tenha o PM em sentido.
E a verdade é que só sendo muito ingénuo podes acreditar que Alegre fará algum tipo de contra-poder a Sócrates.
Em teoria, o Presidente não devia servir sobretudo de contra-peso. Mas em teoria o primeiro-ministro Sócrates não se devia comportar como se comporta, um pequeno ditador arreliado e desgostoso pelo facto de este país de merda não idolatrar a sua brilhante presença, a dádiva de Deus a Portugal.
Concretizando: com este Governo, prefiro ter Cavaco na presidência do que Alegre. Do que Alegre ou do que qualquer pau-mandado do PS.
Já chega de xuxas. Estão em todo o lado. No Estado, nas empresas públicas e privadas, na comunicação social. O PS é um polvo sedento que não sabe nem quer parar de crescer.
Sei que Cavaco é mau. É muito mau, mesmo. Como PM, foi o perfeito tecnocrata. Toma lá guita para estradas, tudo na missa e não dêem chatices. Lembro-me bem do ar putrefacto que se respirava neste país. Mas a verdade é que o problema deste país, de há cinco anos para cá, não se chama Cavaco. Chama-se Sócrates, e chama-se Partido "Socialista".
Falaste de realpolitik. Isto é que é realpolitik. Um tipo de esquerda como eu preferir, nestas circunstâncias, ter Cavaco em Belém, e Sócrates com algum respeitinho.
Quanto à união, não me parece um fim que justifique todos os meios. Não é por causa dos meninos do PP apoiarem um tipo do PSD para poderem abrir as garrafas de champanhe na noite de eleições que isso me leva a fazer o mesmo em relação a Alegre.
Se calhar é por isso que a Esquerda é diferente. Será menos pragmática, e se calhar isso dará a vitória a Cavaco. Não estou preocupado. Quero é viver bem com a minha consciência e servir-me do meu voto, o único instrumento que me dão, para expressar a minha opinião.
PS: não queria que as coisas chegassem a este ponto, mas chamaste-me sectário, o que é estranho num tipo que foi filiado no BE, ao passo que eu só sou filiado no Benfica (e com as quotas em dia). Como tal, recomendo-te mais respeitinho, ou serei forçado a divulgar ao mundo que o teu tabuleiro de Trivial Pursuit tinha sempre pintelhos no meio dos queijinhos.
Se eu divulgasse isto, aposto que terias dificuldade em explicar-te, meu menino.
O teu amigo,
Little Bastard.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário