quinta-feira, 9 de outubro de 2003

História / Estória

Confesso que era uma dúvida que me assolava o espírito, até que fui a este site e posso afirmar, com toda a convicção, que me sinto muito melhor e adianto, desde já, que me fico pela história, tal como me ensinaram:

Primeira explicação

No Aurélio - Novo Dicionário da Língua Portuguesa, quando procuramos a palavra estória, remete-nos para história e diz: «recomenda-se apenas a grafia história, tanto no sentido de ciência histórica, quanto no de narrativa de ficção, conto popular, e demais acepções.». Talvez por isso, no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, só aparece história abrangendo tanto um sentido como outro. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra estória tem várias acepções, sendo a 1.ª «o mesmo que História» a 2.ª «narrativa de cunho popular e tradicional; história» e descreve a sua etimologia como «do inglês "story" (séc XIII-XV) narrativa em prosa ou verso, fictícia ou não, com o propósito de divertir e/ou instruir o ouvinte ou o leitor «do latim historia, ae». Na Literatura Oral e Tradicional quando nos queremos referir a uma narrativa de cunho popular e tradicional emprega-se o termo estória. Talvez por decalque do inglês "story" a palavra estória seja utilizada como sinónimo de narração curta, pequena historieta de entretenimento. Difere de história, pois segundo o mesmo dicionário, na sua 1.ª entrada, significa «o conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade, segundo o lugar, a época, o ponto de vista escolhido».

Segunda explicação

Não são sinónimos. É a mesma palavra com dupla grafia, e derivada do latim «historia(m)». No português medieval, escrevia-se historia, estoria, istoria, assim como homem, omé, omee (com til no 1.º e), ome. Compreende-se, porque a ortografia ainda não estava fixada. No Brasil, talvez por influência do inglês «story» (conto, novela, lenda, fábula, anedota, etc.) e «history» (narração metódica dos factos notáveis ocorridos na vida dos povos), começaram a empregar o português antigo estória para significar o mesmo que o inglês «story». É uma palermice, porque, até agora, nunca confundimos os vários significados de história. O contexto e a situação têm sido mais que suficientes para distinguirmos os vários significados. A estória só vem confundir as pessoas. Seria ridículo começarmos, por exemplo, a empregar homem para indicar o ser humano em geral, isto é, a espécie humana, a humanidade; e omem, para designar qualquer ser humano do sexo masculino, como por exemplo em «aquele omem que está ali», «o omem (= marido) da Joana», «sanitários para omens», etc. Alguém teria cara para abraçar esta ridicularia? Mas têm-na para escrever história e estória. Sigamos o nosso Camões, que escreveu histórias na estância 39 do Canto VI de Os Lusíadas:
«Remédios contra o sono buscar querem,
Histórias contam casos mil referem».

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