terça-feira, 7 de outubro de 2003

Hoje acordei...

... num filme do Manoel de Oliveira (já estão a pensar que vai ser a piada do costume, gozar com a lentidão penosa dos seus filmes, mas enganam-se meus amigos). Neste filme o Manoel quis fazer uma mudança radical de registo, as coisas estavam a ser feitas e filmadas a uma velocidade vertiginosa. Toda a equipa andava a mil à hora sob a pressão constante. A cena que no momento filmávamos, a um ritmo Oliveira normal teria, no minímo, quarenta minutos, mas neste novo ritmo não podia exceder os vinte. Passava-se num dos quartos de um solar de uma grande quinta, no norte do país, as personagens eram Frederico (eu) e Madalena (Leonor Silveira), o texto, é claro, era da Agustina Bessa-Luís. A parte da Leonor tinha sido filmada em apenas dois dias, dez minutos de câmara fixa no seu rosto imóvel, Madalena olhava serena para Frederico, o seu rosto perguntava-lhe porque queria casar com ela, porque é que desejava uma vida de ingratidão ao amar uma pessoa que não retribuía o mesmo sentimento, tudo isto sem uma palavra, apenas um rosto, porque para bom entendedor o silêncio basta. Magistral! Hoje filmávamos a minha parte, plano americano da minha personagem, Frederico, que respondia às dúvidas silenciosas de Madalena, dez minutos de mágoa e muito amor, uma cena rapidíssima a mostrar a impulsividade e a convicção do personagem, disparando uma frase explosiva: "Não sei... Mas vou casar!"

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