sexta-feira, 28 de novembro de 2003

Sousa Larva, o católico de Monsanto

O julgamento do caso Moderna não pariu um rato. Pariu mais. Pelo que nos foi dado a conhecer, pode concluir-se que a justiça funcionou. E isso deve-nos deixar satisfeitos enquanto cidadãos.

Se a justiça se fez completamente ou não, não sabemos responder, pois dos crimes que não se provaram não nos adianta falar. Estamos muito de fora. Nada sabemos e temos que aceitar a presunção de inocência de um modo absoluto.

Este é o meu sentimento em relação a este processo. Gostaria, contudo, de abandonar, por momentos, a simples e serena satisfação que, genericamente, tenho em relação ao caso para relevar a condenação do dr. Sousa Laura, esse peregrino da moral, arcanjo do Santo Ofício (e Bigode de Plata no Torneio Ibiza 97) que um dia tramou José Saramago, simplesmente porque o escritor era um ateu comunista (sejamos claros), cerceando com o seu veto, como Subsecretário de Estado da Cultura, as possibilidades do excelentíssimo “Evangelho segundo Jesus Cristo” vencer o Prémio Literário Europeu em 1992, O argumento, recorde-se, foi que a obra não representava Portugal.

Depois desse triste episódio correu água na vida dos dois personagens. E hoje, em finais de 2003, é bom que se afirme facticamente que José Saramago é um nobel da literatura (vide decisão da Real Academia Sueca, em 1998) e o dr. Lara um condenado a dois anos e meio de prisão (vide decisão do Tribunal de Monsanto, de ontem).

Atrevo-me a dizer que Saramago mereceu este destino.
Sousa Lara não sei. Só Deus, que, segundo os mais crentes, não dorme

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