segunda-feira, 24 de maio de 2004

Flopes

Santana Lopes apelidou dois partidos de oposição de surrealistas(PS) e de comodistas(PCP).

Ora, sintoma de impiedoso autismo é catalogar outros de surrealistas quando sobre a nossa própria cabeça reside o mais dos surreais penteados da história de todas as repúblicas (1910-2004).

Já quanto ao suposto comodismo do PCP, traduzível, segundo Santana, na recusa em fazer um mea culpa histórico, importa reconhecer que a acusação poderia vir, com ou sem razão, de algumas pessoas, mas nunca desse Pedro.
Vê-lo convocar a consciência (histórica ou outra) dos outros, conhecendo nós o manancial de incoerências e inconsistências que é a sua vida, só pode encaminhar-nos a um de três destinos: a lágrima, a gargalhada ou o asco.

A leveza com que Santana proferiu aquelas palavras é tão mais patética quanto desonesta, pois, no que toca a meas culpas históricos, não há partido nenhum em Portugal (e isto não é nenhum motivo de orgulho) que a isso se tenha sujeitado mais que o PCP.

Mas para quê bater nos comunas fossilizados? Passe-se, de vez, às culpas laranjas, modernas e sociais-democratas.
Por simples exemplo, quantas mais mortes, sequestros, atentados, maus tratos, onzes de Setembro e de Março serão necessários para reconhecer a vergonha que é a ocupação no Iraque?

Permitam-me, por fim(para lixar definitivamente o post), que, como espectador desiludido, recupere palavras do falecido Fernão Ferro, extraídas seu poema Broadway de Luto que caracterizam na perfeição a pobreza deste fim-de-semana laranja:

O show já morreu
Ai eu!
(…)
Da garra da Broadway
Ou da intriga de Roma
Já nada vejo
No deserto de Azeméis...
Só o Bocejo

Sem comentários: