quarta-feira, 28 de julho de 2004

Esquizofrenia no Parlamento

O debate parlamentar de apresentação do programa do Governo foi uma mostra de esquizofrenia colectiva.
O novo executivo promete baixar os impostos mas reafirma o primado do défice, duas coisas que, na actual conjuntura, são absolutamente incompatíveis.
A oposição ataca este Governo devido às medidas do anterior, Santana fica sem saber o que dizer e a oposição perde o interesse e distrai-se.
O novo governo aparece de cara lavada, fazendo um discurso de promessas vagas e nenhuma medida concreta, ao estilo do seu líder, como se estivesse no início da legislatura. No entanto, estamos a meio da legislatura. A justificação para a nomeação de Santana, que a direita repetiu aos berros, era a de que se mantinha a maioria eleita pelo povo (apenas mais uma das mentiras), pelo que a legislatura deveria prosseguir como até aqui, como se quem está no Governo não interessasse nada. Mas afinal este é um governo totalmente novo e que nada tem a ver com o anterior. Em que ficamos?
O PS apresenta uma moção de rejeição mas depois abstém-se nas dos outros. Porquê? Ninguém sabe.
Sampaio, esse borra-botas, exigiu que o novo Governo mantivesse a linha do anterior, mas este tudo tem feito para rejeitar essa continuidade, porque sabe que lhe é desfavorável em termos eleitorais.
Sampaio era de esquerda e agora não sabe onde está.
O PP tem todos os seus membros no Governo, e são amadores que agora povoam a sua reduzida bancada parlamentar.
O Bloco grita demagogicamente, mas não sabe lidar com outro populismo, o de Santana.
Os Verdes viram-se mais uma vez atacados pela direita de uma forma vergonhosa, e passaram todo o debate a tentar mostrar que existem.
O PC foi forte e coerente, mas sentiu-se a ausência de Lino de Carvalho e de uma renovação que tanto tarda.
Santana cortou o cabelo, comprou uns óculos à Vóvó Donalda e fez pose de primeiro ministro, revelando grande falta de adaptação aos debates parlamentares.
Mota Amaral fez o que se esperava, foi um árbitro caseiro que passou o dia a marcar faltas a favor do Governo.
Temos dois anos disto pela frente. E, pelo que se vê do outro lado, a alternativa limita-se a ser um bocadinho menos má.
Haja sol.

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