sábado, 28 de agosto de 2004

Baywatch
O Governo português, fazendo tábua rasa de toda a legislação internacional aplicável, decidiu impedir a entrada em águas nacionais do navio da Women on Waves.
Sabendo do custo que esta posição tem em termos de votos, Santana Lopes está caladinho que nem um rato, ou talvez esteja apenas de férias na ilha da Caras com o Sá Pinto e a Cinha; nem Paulo Portas, ministro do Mar, abriu a boca, mas nem assim consegue esconder o seu dedinho maroto nesta questão.
Muito forçado em ocasiões anteriores, Santana Lopes lá acabou por indiciar que não partilha da cartilha beata do PP nesta questão. No entanto, a decisão de hoje confirma o previsível, que o PP nunca admitiria a chegada e actuação do barco, levando o governo em que é minoritário a cometer uma enorme ilegalidade.
Com medo das repercussões políticas, Portas mandou avançar o seu secretário de estado, Nuno Thomaz, um gestor e empresário que aparentemente percebe imenso de Assuntos do Mar, sendo este o primeiro assunto desta pasta que o seu ministério "resolve".
As críticas não se fizeram esperar, por parte de juristas entendidos na matéria e pelos partidos mais à esquerda.
Mas também surgiram elogios, como aquele proferido pela Associação Portuguesa de Maternidade e Vida, que apela ao procurador-geral da República para que se mantenha "atento a este comportamento" e dê "instruções claras às entidades policiais para que identifiquem, persigam e punam os autores de tais crimes".
Nada de novo, portanto, na senda de beatices de Portas, Bagão & Companhia.
Acho curioso que o barco em causa tenha estado na Polónia e na Irlanda, este último país conhecido pela força das posições anti-liberalização do aborto, mas que nem assim passou por cima das leis por uma questão de moralidade.
O nosso beato ministro do Mar, que na questão do Prestige nada fez e agradeceu à Virgem Maria, parece ter perdido agora a fé na força divina, e decidiu empregar a força dos homens, pondo o Estado português ao serviço da ideologia direitista do seu partido e dos seus 15 membros, que mandam no país, contra leis e marés.

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